o Livro da certeza........

Ó povo do Livro: Por que vestes a verdade com a mentira? Por que escondes, intencionalmente, a verdade?" (11) E diz ainda: "Dize, ó povo do Livro, por que motivo desvias os crentes do caminho de Deus?" (12) Evidentemente, o "povo do Livro" que desviou seus semelhantes do caminho reto de Deus não se refere senão aos sacerdotes da época, cujos nomes e caracteres foram mostrados nos livros sagrados e aos quais aludiram os versículos e as tradições neles registrados – se fordes observar com os olhos de Deus.
Com olhar fixo e constante, oriundo dos olhos infalíveis de Deus, contemplai detidamente o horizonte do Conhecimento Divino e considerai aquelas palavras de perfeição que o Eterno revelou, a fim de que talvez se vos tornem manifestos os mistérios da divina sabedoria, os quais se ocultaram, até agora, debaixo do véu da glória e estavam entesourados no tabernáculo da Sua graça. O que motivou, na maior parte, os protestos e negações desses dirigentes religiosos, foi sua falta de conhecimento e de compreensão. Jamais compreenderam ou sondaram aquelas palavras proferidas pelos Reveladores da beleza de Deus, Uno e Verdadeiro, as quais apontam os sinais destinados a anunciar o advento do futuro Manifestante. Ergueram, pois, o estandarte da revolta e instigaram malícia e sedição. Obviamente, o que, de fato, significam as palavras das Aves da Eternidade, não se revela senão àqueles que manifestam o Ser Eterno; e às melodias do Rouxinol da Santidade, nenhum ouvido atingirá, a não ser o dos habitantes do reino imperecível. O tirano copta jamais participará do cálice tocado pelos lábios do septa da justiça, e o Faraó da descrença não poderá esperar reconhecer jamais a mão do Moisés da verdade. Assim mesmo como Ele diz: "Ninguém sabe o que significa isso, a não ser Deus e aqueles que possuem conhecimento profundo." (12a) E, no entanto, quiseram receber daqueles envoltos em véus a interpretação do Livro, recusando buscar na fonte primitiva do conhecimento, sua iluminação.
E quando findaram os dias de Moisés e surgiu a luz de Jesus, irradiando-se da aurora do Espírito e abrangendo o mundo, então todo povo de Israel levantou-se em protesto contra Ele, clamando que Aquele cujo advento a Bíblia predissera, forçosamente haveria de promover e cumprir as leis de Moisés, enquanto esse jovem nazareno, que tinha a pretensão de ser o divino Messias, anulara a lei do divórcio e a do sábado – as mais importantes de todas as leis de Moisés. Além disso, que dizer dos sinais do Manifestante que ainda haveria de vir? O povo de Israel, até mesmo no tempo presente, espera aquele Manifestante predito na Bíblia! Quantos Manifestantes da Santidade, quantos Reveladores da Luz eterna, têm aparecido desde o tempo de Moisés, enquanto Israel, envolto nos mais densos véus da fantasia satânica e das falsas idéias, ainda espera que o ídolo de sua própria inventiva apareça com os sinais criados por sua imaginação. Assim Deus o castigou pelos pecados, extinguiu-lhe o espírito de fé e o atormentou com as chamas do fogo infernal. E isso não por outra causa, senão porque Israel recusara compreender o significado das palavras reveladas na Bíblia relativas aos sinais da Revelação vindoura. Porque jamais compreendera seu verdadeiro sentido e porque tais acontecimentos, aparentemente, não se realizaram, esse povo permaneceu privado de reconhecer a beleza de Jesus e de contemplar o semblante de Deus. E ainda aguarda Sua vinda! Desde tempos imemoriais, até mesmo o dia de hoje, todas as raças e nações da terra apegam-se a tais pensamentos fantásticos e indignos e assim se privam das águas límpidas que emanam das fontes da pureza e santidade.
Ao desvendarmos esses mistérios, temos citado em Nossas Epístolas anteriores, endereçadas a um amigo, no idioma melodioso de Hijáz, alguns dos versículos revelados aos Profetas do passado. E agora, atendendo a vosso pedido, citaremos nestas páginas, novamente, aqueles mesmos versículos, pronunciados desta vez nos maravilhosos acentos do Iraque, para que talvez os sequiosos, nas solidões do afastamento, possam alcançar o oceano da Presença Divina, e aqueles que enlanguescem nos desertos da separação sejam conduzidos para a morada da reunião eterna. Assim podem as neblinas do erro ser dissipadas e a luz da verdade divina, em todo esplendor, amanhecer sobre o horizonte dos corações humanos. Em Deus pomos nossa confiança e Lhe imploramos ajuda, para que talvez mane desta pena aquilo que vivifique as almas dos homens, de modo que todos se levantem do leito da negligência e escutem o farfalhar das folhas do Paraíso, na árvore que a mão do poder divino, com a permissão de Deus, plantou no Ridván do Todo-Glorioso.
Para os dotados de compreensão, está claro e manifesto que, quando o fogo do amor de Jesus consumiu os véus das limitações judaicas e Sua autoridade se tornou evidente e foi em parte obedecida, Ele, o Revelador da Beleza invisível, dirigindo-se a um dia aos discípulos, fez referência a Seu traspasse e, acendendo-lhes no coração o fogo do pesar, disse: "Vou embora e venho outra vez a vós." E em outro lugar disse: "Vou e outro virá que vos há de dizer tudo o que Eu não vos disse, e cumprirá tudo o que Eu disse." As duas declarações significam o mesmo – se meditardes, com percepção divina, sobre os Manifestantes da Unidade de Deus.
Quem examinar com discernimento haverá de reconhecer que tanto o Livro como a Causa de Jesus foram confirmados na Era do Alcorão. Quanto a nomes, o próprio Maomé declarou: "Eu sou Jesus." Ele reconheceu a verdade dos sinais, profecias e palavras de Jesus, e testificou serem todos de Deus. Nesse sentido, nem a pessoa de Jesus nem Seus escritos diferiram da pessoa de Maomé e de Seu sagrado Livro, visto que ambos defenderam a Causa de Deus, louvaram-No e revelaram os Seus mandamentos. Assim foi que o próprio Jesus declarou: "Vou embora e venho outra vez a vós." Considerai o sol. Se dissesse agora, "Sou o sol de ontem", diria a verdade. E se, levando em conta a seqüência do tempo, pretendesse ser outro sol, estaria ainda dizendo a verdade. De modo semelhante, se dissermos que todos os dias são o mesmo, isso será certo e verdadeiro; e se, referindo-nos a seus nomes e designações especiais, dissermos que diferem, isso também será verdade. Pois embora sejam iguais, se reconhece em cada um, no entanto, uma designação separada, um atributo específico, um caráter particular. Deves conceber, semelhantemente, a distinção, a diversidade e, ao mesmo tempo, a unidade, que caracterizam os vários Manifestantes da Santidade, para que possas compreender as alusões que o Criador de todos os nomes e atributos faz aos mistérios da distinção e da unidade, e descobrir a resposta à tua pergunta sobre a razão por que a Beleza Eterna, em várias épocas, tem sido chamada por nomes e títulos diferentes.
Mais tarde, os companheiros e discípulos de Jesus Lhe perguntaram a respeito daqueles sinais que haveriam necessariamente de assinalar o regresso de Seu Manifestante. Quando, perguntaram eles, sucederiam essas coisas? Várias vezes interrogavam aquela Beleza incomparável, e Esta, todas às vezes que lhes respondia, indicava um sinal especial que haveria de prenunciar o advento da Era prometida. Disso dão testemunhos os relatos dos quatro Evangelhos.
Este Injuriado citará apenas um desses exemplos, e assim, por amor a Deus, concederá à humanidade graças ainda ocultas dentro do tesouro da Árvore secreta e santa, para que, porventura, os homens mortais não se privem de seu quinhão do fruto imortal, e sim, adquiram uma gota das águas da vida eterna, as quais, de Bagdá – "Morada da Paz" – estão sendo concedidas a todo o gênero humano. Não pedimos galardão nem recompensa alguma. "Nutrimos as vossas almas por amor a Deus; nenhuma remuneração buscamos de vós, nem agradecimento." (13) Isso é o alimento que confere a vida eterna aos puros de coração e iluminados de espírito. É o pão de que se diz: "Senhor, faze descer sobre nós Teu pão do céu." (14) Esse pão jamais será negado a quem o merecer, nem poderá jamais faltar. Cresce eternamente na árvore da graça; em todos os tempos, desce dos céus da justiça e misericórdia. Assim mesmo como Ele diz: "Não vês aquilo a que Deus assemelha a boa palavra? – A uma boa árvore; sua raiz está firmemente presa e seus ramos se estendem até o céu, dando seus frutos em todas as estações." (15)
Oh, que lástima! o homem privar-se de tão boa dádiva, dessa graça imperecível, dessa vida eterna! Cumpre-lhe apreciar esse alimento que vem do céu, a fim de que, através dos maravilhosos favores do Sol da Verdade, os mortos possam talvez ressuscitar e as almas decaídas serem reanimadas pelo Espírito infinito. Apressa-te, ó meu irmão, para que nossos lábios provem a poção imortal enquanto ainda houver tempo, pois o alento da vida, que ora sopra da cidade do Bem-Amado, não poderá durar e a copiosa corrente das palavras santas haverá forçosamente de parar; nem poderão os portais do Ridván para sempre se manter abertos. Dia virá, seguramente, em que o Rouxinol do Paraíso terá alçado vôo de sua morada terrena para o ninho celestial. Então, sua melodia não mais se fará ouvir, nem a beleza da rosa será realçada. Aproveita, pois, o tempo, antes que finde a glória da primavera divina e a Ave da Eternidade haja deixado de cantar Sua melodia, para que teu ouvido interior não se prive de escutar o Seu chamado. É este Meu conselho a ti e aos amados de Deus. Quem quiser, que a Ele se dirija; quem não quiser, que se afaste. Deus, em verdade, é independente dele e daquilo que ele possa ver e testemunhar.
São estas as melodias entoadas por Jesus, Filho de Maria, em acentos de majestoso poder no Ridván do Evangelho, revelando aqueles sinais que haverão de prenunciar o advento do Manifestante subseqüente. No primeiro Evangelho, segundo São Mateus, está escrito: E quando perguntaram a Jesus acerca dos sinais de Sua vinda, Ele lhes disse: "E, logo depois da aflição (16) daqueles dias, escurecerá o sol e a lua não dará a sua claridade, e as estrelas cairão do céu, e os poderes da terra serão abalados; e então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e, então, todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade. E enviará os seus anjos com trombetas e com grande voz." (17) Traduzidas para a língua persa, (18) essas palavras significam o seguinte: Quando se tiverem realizado a opressão e as aflições destinadas a cair sobre a humanidade, então o sol será impedido de brilhar e a lua de irradiar, as estrelas do céu cairão sobre a terra e os pilares da terra tremerão. Nesse tempo, os sinais do Filho do homem aparecerão no céu, isto é, Ele, a prometida Beleza e Substância da vida, sairá do reino do invisível, quando tiverem aparecido esses sinais, e entrará no mundo visível. E Ele diz: nesse tempo todos os povos e raças que habitam a terra chorarão e lamentarão e verão aquela Beleza divina vir do céu sobre as nuvens, com poder, grandeza e magnificência, enviando Seus anjos com grande som de trombeta. De modo semelhante, nos três outros Evangelhos, segundo São Lucas, São Marcos e São João, as mesmas afirmações são relatadas. Já que a elas nos temos referido minuciosamente, em Nossas Epístolas reveladas na língua árabe, não as mencionamos nestas páginas; limitando-nos a uma referência apenas.
Porque os sacerdotes cristãos não puderam compreender o que significam essas palavras, nem perceber seu fim e propósito, preferindo ater-se à interpretação literal das palavras de Jesus, privaram-se, portanto, da abundante graça da Revelação Maometana e de suas copiosas bênçãos. Os ignorantes dentro da comunidade cristã, seguindo o exemplo dos expoentes de sua Fé, forma de igual modo impedidos de contemplar a beleza do Rei da Glória, por não se haverem realizado os sinais que deveriam acompanhar o nascer do sol da Era Maometana. Assim têm passado épocas e decorrido séculos, e aquele puríssimo Espírito já se retirou para as plagas de sua soberania antiga.
Ainda outra vez o Espírito eterno soprou na trombeta mística e fez os mortos apressarem-se, de suas sepulturas da negligência e do erro, para o reino da guia e da graça. Entretanto, aquela comunidade, ansiosa, ainda exclama: "Quando sucederão essas coisas? Quando se manifestará o Prometido, objeto de nossas esperanças, de modo que nos possamos levantar para o triunfo da Sua Causa, sacrificar a nossa substância por amor a Ele e oferecer as nossas vidas em Seu caminho? De maneira semelhante, por causa de tais imaginações falsas, outras comunidades têm se desviado do Kawthar da infinita misericórdia da Providência e se ocupado com seus próprios pensamentos vãos.
Além desse trecho, há ainda outro versículo no Evangelho em que Ele diz: "Passará o céu e a terra, mas as Minhas palavras não hão de passar." (19) Assim foi que os adeptos de Jesus afirmaram que a lei do Evangelho jamais será anulada e que, ao manifestar-se a prometida Beleza e revelarem-se todos os sinais, Ele deverá reafirmar e estabelecer a lei proclamada no Evangelho, de modo a não deixar no mundo outra Fé senão a Sua. É essa a crença fundamental que sustentam, e com tal convicção que, se alguém se manifestasse com todos os sinais prometidos, mas promovesse algo contrário à letra da lei do Evangelho, eles, seguramente, haveriam de repudiá-lo, recusar submeter-se à sua lei, declará-lo um infiel e rir-se dele até o escárneo. Isso é provado por aquilo que sucedeu quando o sol da Revelação Maometana se revelou. Se tivessem, com humildade de espírito, buscado dos Manifestantes de Deus, em cada Era, o que realmente significam essas palavras reveladas nos Livros Sagrados – palavras cuja interpretação errônea faz os homens se privarem do conhecimento do Sadratu'l-Muntahá, o Objeto final – eles, certamente, teriam sido guiados à luz do Sol da Verdade e teriam descoberto os mistérios da sabedoria e dos conhecimentos divinos.
Este servo repartirá agora contigo uma gota do oceano insondável das verdades entesouradas nessas sagradas palavras, a fim de que os corações discernentes possam talvez compreender todas as alusões e implicações contidas nas palavras dos Manifestantes da Santidade, de modo que a inexcedível majestade da Palavra de Deus não os impeça de atingir o oceano dos Seus nomes e atributos, nem os prive de reconhecer a Lâmpada de deus, que é a sede da revelação de Sua glorificada Essência.
Quanto às palavras – "Logo depois da aflição daqueles dias" – elas se referem ao tempo em que os homens serão oprimidos e aflitos; o tempo em que nem sequer os mais ligeiros traços do Sol da Verdade restarão, quando o fruto da Árvore do conhecimento e da sabedoria houver desaparecido do meio dos homens e as rédeas da humanidade tiverem caído nas mãos dos insensatos e ignorantes, quando se tiverem fechado os portais da divina unidade e compreensão – desígnio essencial e o mais elevado da criação – quando o conhecimento certo tiver cedido lugar à vã fantasia e a corrupção usurpado a posição da justiça. Condições como essas se verificam, hoje, havendo já as rédeas de cada comunidade caído nas mãos de dirigentes insensatos, que guiam segundo os próprios caprichos e desejos. A menção de Deus, na sua língua, tornou-se um nome vazio; em seu meio, Sua santa Palavra é apenas uma letra morta. Tal é o predomínio de seus desejos, que a lâmpada da consciência e do raciocínio se acha apagada em seus corações e isso, não obstante haverem os dedos do poder divino descerrado os portais do conhecimento de Deus, e a luz do conhecimento divino e da graça celestial ter iluminado e inspirado a essência de todas as coisas criadas, de modo que, em cada uma, desde a menor, se abriu uma porta para o conhecimento e dentro de cada átomo os sinais do sol se manifestaram. E, no entanto, apesar de todas essas múltiplas revelações do conhecimento divino que têm circulado pelo mundo, eles ainda imaginam, futilmente, que a porta do conhecimento está fechada e as chuvas da graça têm cessado. Apegando-se à vã fantasia, desviaram-se para longe do 'Urvatu'l-Vuthqá (20) do conhecimento divino. Parece que os corações não se inclinam para o conhecimento, nem para a porta que a este conduz, e tampouco pensam eles em suas manifestações, havendo em sua vã fantasia encontrado a porta que conduz às riquezas terrenas enquanto que, na manifestação do Revelador do conhecimento, encontram apenas o apelo ao sacrifício. Naturalmente, pois, seguram a primeira com tenacidade, enquanto fogem da última. Embora em seus corações reconheçam ser uma só a Lei de Deus, emitem de toda parte, no entanto, um novo mandamento e proclamam em cada estação um decreto novo. Não se encontram duas pessoas que estejam de acordo sobre a mesma lei, pois não procuram outro Deus senão o próprio desejo, e nenhum caminho trilham exceto o do erro. Vêem no prestígio o objetivo final de seus esforços; e consideram o orgulho e a arrogância como sendo o cumprimento supremo do desejo de seu coração. Julgam que suas sórdidas maquinações sejam superiores ao decreto divino; recusam resignar-se à vontade de Deus; ocupam-se em planos egoístas e seguem pelos caminhos da hipócrita. Com todo o seu poder e todas as suas forças, tentam assegurar-se em suas ocupações triviais, receosos de que o menor descrédito venha a minar-lhes a autoridade ou macular a magnificência que ostentam. Fossem os seus olhos ungidos e esclarecidos com o colírio do conhecimento de Deus, descobririam, certamente, que numerosos animais vorazes se têm juntado para rapina, visando os cadáveres que são as almas dos homens.
Qual a "aflição" maior do que essa a que aludimos? Qual a "aflição" mais penosa do que a de uma alma em busca da verdade, desejosa de atingir o conhecimento de Deus, mas que não sabe onde ir ou de quem buscá-lo? Pois as opiniões têm divergido lastimavelmente e os caminhos que conduzem a Deus se multiplicaram. Essa "aflição" é a característica essencial de toda Revelação. Sem que isso suceda, o Sol da Verdade não se manifestará, porque o amanhecer da luz divina só virá guiar-nos após as trevas da noite do erro. Por essa razão, em todas as crônicas e tradições, há referência a essas coisas, isto é, que a iniqüidade cobrirá a superfície da terra e a escuridão envolverá a humanidade. Como as referidas tradições são assaz conhecidas, e porque este servo deseja brevidade, Ele não citará o texto dessas tradições.
Se essa "aflição" (que significa, literalmente, pressão) fosse interpretada como contração da terra, ou se a vã fantasia dos homens imaginasse calamidades similares destinadas a cair sobre a humanidade, é claro e óbvio que essas coisas jamais sucederão. Eles, seguramente, objetarão que esse requisito da revelação divina não se manifestou. Tal foi, e ainda é seu argumento. A "aflição", porém, significa a falta de capacidade para adquirir conhecimentos espirituais e compreender a Palavra de Deus. Significa que, ao se pôr o Sol da Verdade e ao se partirem os espelhos que refletem Sua luz, sofrerá a humanidade "aflição" e dificuldades, não sabendo aonde se dirigir para ser guiada. Assim Nós te instruímos na interpretação das tradições e te revelamos os mistérios da sabedoria divina, para que tu possas talvez entender o seu significado e ser um daqueles que sorveram do cálice da compreensão e dos conhecimentos divinos.
E agora, quanto às Suas palavras – "Escurecer-se-á o sol, e a lua não dará a sua claridade e as estrelas cairão do céu". Os termos "sol" e "lua" mencionados nos escritos dos Profetas de Deus não só se referem ao sol e à lua do universo visível, mas, antes, são múltiplos os sentidos em que se usam esses termos; em cada instância, lhes tem sido dada uma significação especial. Assim, por "sol", em um sentido, entendem-se aqueles Sóis da Verdade que surgem do amanhecer da glória antiga, enchendo o mundo da graça abundante provinda do alto. Esses Sóis da Verdade são os universais Manifestantes de Deus nos mundos dos Seus atributos e nomes. Semelhantes ao sol visível que, segundo decretou Deus, o Verdadeiro, o Adorado, assiste ao desenvolvimento de todas as coisas terrenas – das árvores, frutas e suas cores, dos minerais da terra e de tudo o que se vê no mundo criado – os Luminares divinos, também, com seu terno cuidado e sua influência educativa, causam a existência e a manifestação das árvores e dos frutos da unidade de Deus, das folhas do desprendimento, das flores do saber e da certeza, e das murtas da sabedoria e de sua expressão. Assim é que, com o surgir desses Luminares de Deus, o mundo se renova, as águas da vida eterna manam, as ondas da benevolência se intumescem; juntam-se as nuvens da graça e sobre todas as coisas criadas sopra a brisa da generosidade. É o ardor que desses Luminares de Deus promana, é a chama imorredoura por eles acesa, que faz arder intensamente no coração da humanidade a luz do amor de Deus. É mediante a graça abundante desses Símbolos do Desprendimento que o Espírito da vida eterna se insufla nos corpos dos mortos. Certamente, o sol visível é apenas um sinal do esplendor desse Sol da Verdade, desse Sol que jamais terá igual, semelhante ou êmulo. É por Seu intermédio que todas as coisas vivem, se movem e têm existência. Através de Sua graça, manifestam-se e a Ele todos voltam. N'Ele, todas as coisas se originaram e para o tesouro da Sua Revelação todas se têm recolhido. D'Ele, procederam todas as coisas criadas e para os depositários da Sua lei elas reverteram.
Esses Luminares divinos parecem limitar-se, às vezes, a designações e atributos específicos, assim como tendes observado e estais agora observando, mas isso é só por causa da compreensão imperfeita, restrita, de certas mentalidades. A não ser isso, eles sempre foram, em todos os tempos, e continuarão sendo por toda a eternidade enaltecidos acima de qualquer nome laudatório e santificados além de qualquer atributo descritivo. A quinta-essência de nome algum pode esperar ter acesso à sua corte de santidade, e os mais elevados e puros de todos os atributos jamais se aproximarão do seu reino de glória. Os Profetas de Deus estão incomensuravelmente elevados acima da compreensão dos homens e jamais poderão estes os conhecer de outro modo senão por Eles mesmos. Longe de Sua Glória permitir que Seus Escolhidos sejam enaltecidos por qualquer outro, senão por si próprios. Glorificados estão Eles acima do louvor dos homens; excelsos além da compreensão humana!
Nos escritos das "Almas imaculadas", o termo "sóis" foi aplicado muitas vezes aos Profetas de Deus, àqueles luminosos Emblemas do Desprendimento. Entre esses escritos se encontram as seguintes palavras registradas na "Oração de Nudbih": (21) "Para onde foram os Sóis resplandecentes? Para onde partiram aquelas Luas esplendorosas e Estrelas cintilantes?" Tornou-se, assim, evidente que os termos "sol", "lua" e "estrelas" significam primariamente os Profetas de Deus, os santos e seus companheiros – aqueles Luminares cujo conhecimento se irradiou sobre os mundos visíveis e invisíveis.
Em outro sentido, esses termos se referem aos sacerdotes da Era passada que ainda vivem no tempo das Revelações subseqüentes, e que seguram nas mãos as rédeas da religião. Se esses sacerdotes forem iluminados com a luz da Revelação posterior, tornar-se-ão aceitáveis aos olhos de Deus e brilharão com luz eterna. De outro modo, ainda que sejam aparentemente os mais prestigiosos entre os homens, serão declarados obscurecidos, já que a crença e a descrença, a certeza e o erro, a felicidade e a desventura, a luz e a escuridão, dependem, todos eles, da sanção de Quem é o Sol da Verdade. Qualquer um dentre os sacerdotes de cada era que, no Dia do Juízo, vier a receber da Fonte do conhecimento verdadeiro o testemunho da fé, será, em verdade, favorecido com a graça divina, com a erudição e a luz da verdadeira compreensão. Em caso contrário, será estigmatizado como um insensato, convicto de negação, blasfêmia e opressão.
É claro e evidente, a cada um que observe com discernimento, que, assim como a luz da estrela se esvai ante o refulgente esplendor do sol, do mesmo modo o luminar do conhecimento terreno, da compreensão e sabedoria, se desvanece completamente diante das glórias resplandecentes do Sol da Verdade, do Sol da iluminação divina.
O fato de se haver aplicado aos dirigentes da religião o termo "sol" é em virtude de sua alta posição, seu renome e fama. Referimo-nos aos sacerdotes universalmente reconhecidos em cada época, os quais falam com autoridade e cuja fama está seguramente confirmada. Se forem parecidos com o Sol da Verdade, serão julgados, certamente, os mais nobres de todos os luminares; em caso contrário, serão reconhecidos como pontos irradiantes de fogo infernal. Assim como Ele diz: "Em verdade, o sol e a lua são ambos condenados ao tormento do fogo infernal." (22) Conheceis, sem dúvida, a interpretação dos termos "sol" e "lua" mencionados nesse versículo; desnecessária é, pois, a sua referência. E quem quer que participe do elemento desse "sol" e dessa "lua", isto é, que siga o exemplo desses líderes que se dirigem à falsidade e se afastam daquilo que é verdadeiro, provém, indubitavelmente, das trevas infernais e a estas haverá de voltar.
E agora, ó vós que buscais, cumpre-nos aderir firmemente ao 'Urvatu'l-Vathqá, para que possamos, porventura, deixar atrás a tenebrosa noite do erro e abraçar a luz nascente da guia divina. Não deveremos fugir da face da negação e buscar o amparo da certeza? Não nos deveremos livrar do horror das trevas satânicas e apressar-nos para a luz matutina da Beleza celestial? De tal modo Nós vos concedemos o fruto da Árvore do conhecimento divino para que possais habitar, com alegria e regozijo, no Ridván da sabedoria divina.
Em outro sentido, pelos termos "sol", "lua" e "estrelas" se entendem leis e ensinamentos estabelecidos e proclamados em cada Era, como, por exemplo, as leis da oração e do jejum. Segundo a lei do Alcorão, tais leis, quando a beleza do Profeta Maomé passara além do véu, foram consideradas as mais fundamentais e invioláveis de Sua Era. Isso é comprovado pelos textos das tradições e crônicas que, por serem tão largamente conhecidas, não precisam de menção aqui. Ainda mais, em cada Era, a lei relativa à oração ocupa um lugar saliente, sendo universalmente executada. Isso atestam as tradições registradas que se atribuíram às luzes provenientes do Sol da Verdade, da essência do Profeta Maomé.
As tradições estabeleceram o fato de que, em todas as Eras, a lei da oração constitui elemento fundamental da Revelação de todos os Profetas de Deus – lei essa cuja forma e cujo modo se adaptam às várias necessidades próprias de cada época. Desde que cada Revelação subseqüente venha a abolir os modos, hábitos e ensinamentos que a Era anterior estabelecera clara, específica e firmemente, estes se expressam, em sentido simbólico, pelos termos "sol" e "lua". "A fim de que Ele vos pudesse submeter à prova, para mostrar qual de vós sobressai em ações." (23)
Além disso, segundo as tradições, os termos "sol" e "lua" se aplicam à oração e ao jejum, assim como se diz: "O jejum é iluminação, a prece é luz." Certo dia, um sacerdote muito conhecido veio Nos visitar. Enquanto conversávamos, ele se referiu à tradição anteriormente citada, dizendo: "Como o jejum faz aumentar o calor do corpo, nós o temos comparado, pois, à luz do sol; e como a oração à noite refresca o homem, diz-se ser semelhante ao esplendor da lua." Percebemos então que esse pobre homem não fora favorecido com nem sequer uma gota do oceano do verdadeiro entendimento e se desviara muito longe da Sarça ardente da sabedoria divina. Assim lhe dissemos gentilmente: "A interpretação que Vossa Excelência deu a essa tradição é a corrente entre o povo. Não se poderia interpretá-la de uma maneira diferente?" Ele perguntou, "Que poderia ser"?" E replicamos: "Maomé, o Selo dos Profetas, o mais ilustre dos Escolhidos de Deus, , comparou a Era do Alcorão ao céu, por causa de seu elevado grau, sua influência predominante, sua majestade, e porque compreende todas as religiões. E como o sol e a lua constituem os astros mais brilhantes e proeminentes do céu, do mesmo modo foram ordenados, no céu da religião de Deus, dois orbes radiantes – o jejum e a oração. "O islã é o céu; o jejum é seu sol, e a oração sua lua."
Esse é o propósito fundamental das palavras simbólicas dos Manifestantes de Deus. Por conseguinte, a aplicação dos termos "sol" e "lua" às coisas já citadas, se demonstrou e justificou segundo o texto dos sagrados versículos e das tradições registradas. Assim, pois, está claro e evidente que as palavras – "escurecer-se-á o sol, e a lua não dará a sua claridade e as estrelas cairão do céu" – se referem à perversidade dos sacerdotes e à anulação das leis firmemente estabelecidas pela Revelação Divina, tudo o que foi predito, em linguagem simbólica, pelo Manifestante de Deus. Ninguém, a não ser o justo, participará desse cálice; ninguém, salvo o piedoso, dele terá um quinhão. "O justo beberá de um cálice temperado na fonte de cânfora." (24)
Indiscutivelmente, nas sucessivas Revelações, o "sol" e a "lua" dos ensinamentos, leis, mandamentos e proibições que se estabeleceram na Era precedente e que abrigaram o povo daquele tempo, obscurecem-se, isto é, estão esgotados e já não exercem sua influência. Considerai agora: tivesse o povo do Evangelho reconhecido o que significam os termos simbólicos de "sol" e "lua" e – diferentemente dos refratários e perversos – buscado o esclarecimento d'Aquele Que é o Revelador do conhecimento divino, teria certamente compreendido o propósito desses termos e não ficado aflito e oprimido pela escuridão de seus desejos egoístas. Sim, mas porque esse povo não adquirira da própria Fonte o verdadeiro conhecimento, definhou, no perigoso vale da perversidade e da descrença. Não acordou ainda para perceber que todos os sinais preditos já se manifestaram, que o prometido Sol se levantou sobre o horizonte da Revelação divina e o "sol" e a "lua" dos ensinamentos, das leis e da erudição de uma Era anterior já se tornaram obscuros e desapareceram.
E agora deves tu, com olhar fixo e asas firmes, entrar no caminho da certeza e da verdade. "Dize: É Deus; deixa, então, que eles se entretenham a si mesmos com suas cavilações." (25) Assim serás tido por um dos companheiros de quem Ele diz: "Aqueles que dizem – Nosso Senhor é Deus – e continuam fiéis em Seu caminho, sobre eles, em verdade, descerão os anjos." (26) Então serás tu testemunha, com os próprios olhos, de todos esses mistérios.
Ó meu irmão! Dá o passo do espírito e assim tão veloz como um abrir e fechar de olhos, poderás transpor as solidões do afastamento e da desolação, alcançar o Ridván da eterna reunião e, em um só sopro, comungar com os Espíritos celestiais. Pois com pés humanos não podes esperar jamais atravessar essas desmedidas distâncias, nem atingir teu objetivo. Paz esteja com aquele que for guiado pela luz da verdade, para alcançar toda a verdade, e que, em nome de Deus, se mantiver firme no caminho de Sua Causa, nas plagas da verdadeira compreensão.
Eis o que significa o sagrado versículo: "Mas não! Juro pelo Senhor dos Orientes e dos Ocidentes", (27) desde que os referidos "Sóis" têm cada um seu lugar próprio para se levantar e se pôr. E como não puderam os comentadores do Alcorão compreender o sentido simbólico desses "Sóis", encontraram grande dificuldade em interpretar o versículo já citado. Sustentaram alguns que, em vista do fato de nascer o sol cada dia num ponto diferente, os termos "orientes" e "ocidentes" foram mencionados no plural. Outros escreveram que esse versículo se refere às quatro estações do ano, porque os pontos em que o sol nasce e se põe variam com a mudança de estação. Tal é a profundeza do seu entendimento! Entretanto, persistem em imputar erro e insensatez àquelas Jóias do conhecimento, àqueles irrepreensíveis, puríssimos Símbolos da sabedoria.
Esforça-te, então, a fim de compreenderes, mediante essas exposições lúcidas, poderosas, concludentes e inequívocas, o que significa o "romper do céu" – um dos sinais que deverá anunciar a vinda da Hora Final, do Dia da Ressurreição. Assim como Ele disse: "Quando o céu se romper". (28) Por "céu" se quer dizer o céu da Revelação Divina, que se eleva com a vinda de cada Manifestante e se rompe ao aparecer o subseqüente. "Romper" significa que a Era anterior é substituída e anulada. Afirmo por testemunho de Deus! Romper esse céu é, para quem possui discernimento, um ato mais poderoso do que romper a abóbada celeste! Pondera um pouco. Uma Revelação Divina que desde muitos anos se acha firmemente estabelecida – à sombra da qual se educaram e nutriram todos os que a abraçaram; à luz de cuja lei gerações de homens têm sido disciplinadas; a excelência de cuja palavra os homens têm ouvido ser elogiada por seus pais; de tal modo que olhos humanos nada perceberam a não ser a influência predominante de sua graça e ouvidos mortais não escutaram senão a majestade ressonante de seu mando – qual o ato maior do que "romper", pelo poder de Deus, uma Revelação como essa e aboli-la, com o aparecimento de uma só alma? Reflete: não é um ato maior que aquilo que esses homens desprezíveis, insensatos, imaginam ser o sentido de "romper o céu"?
Além disso, considera tu as dificuldades e amarguras das vidas daqueles Reveladores da Beleza Divina. Reflete como eles só, sem apoio algum, enfrentaram o mundo e todos os seus povos e promulgaram a Lei de Deus! Apesar das mais severas perseguições infligidas a essas almas santas, preciosas e ternas, elas ainda se mantiveram pacientes, na plenitude de seu poder e, não obstante sua ascendência, as sofreram e suportaram.
De modo semelhante, esforça-te para compreenderes o que significa a "transformação da terra". Deves saber que, quando caem sobre quaisquer corações as copiosas chuvas da misericórdia, procedendo do "céu" da Revelação Divina, a terra desses corações se transforma, verdadeiramente, na terra da sabedoria e do conhecimento divinos. Vê que mirtos de unidade são produzidos no solo dos seus corações! Que flores de verdadeiro conhecimento e sabedoria crescem em seus peitos iluminados! Não fosse transformada a terra dos seus corações, como seria possível a essas pessoas, que não haviam aprendido uma letra sequer e que jamais viram instrutor algum nem freqüentaram escola – proferir tais palavras e mostrar conhecimentos tão acima da compreensão comum? Foram moldadas, parece-me, com a argila do conhecimento infinito e amassados com a água da sabedoria divina. Assim, pois, foi dito: "O conhecimento é uma luz que Deus faz penetrar no coração de quem Ele queira." É essa a espécie de conhecimento que é, e sempre foi louvável, e não o conhecimento limitado oriundo das mentes veladas e obscurecidas. Esse conhecimento limitado eles até o tomam emprestado um do outro, furtivamente, e disso se vangloriam!
Oxalá pudessem os corações humanos purificar-se dessas limitações feitas pelo homem e desses pensamentos obscuros que lhes foram impostos! Assim, talvez, poderiam iluminar-se com a luz do Sol do verdadeiro conhecimento e compreender os mistérios da sabedoria divina. Considera tu agora: se continuasse seco e estéril o solo dos seus corações, como haveriam de receber, jamais, a revelação dos mistérios de Deus e tornar-se os Reveladores da Essência Divina? Assim Ele disse: "No dia em que a terra se transformar em outra terra." (29)
A brisa da generosidade do Rei da criação causou até uma transformação no mundo físico – se apenas ponderásseis nos corações os mistérios da Revelação Divina!
E deves compreender agora o sentido deste versículo: "Toda a terra no Dia da Ressurreição será apenas uma mão-cheia e em Sua mão direita se conterão os céus. Louvores a Ele! E enaltecido seja Ele, muito além dos companheiros que eles Lhe associam!" (30) E agora, sê justo em teu juízo. Tivesse este versículo o sentido que os homens supõem, traria isso, podemos perguntar, proveito ao homem? Além disso, evidentemente, nenhuma mão visível a olhos humanos poderia realizar tais atos, nem ser atribuída, em absoluto, à exaltada Essência de Deus, Uno e Verdadeiro. Não, admitir tal coisa nada mais é que pura blasfêmia, uma completa perversão da verdade. E fôssemos supor que esse versículo se referisse aos Manifestantes de Deus, que a realização de tais atos Lhes fosse exigida no Dia do Juízo, isso também pareceria estar longe da verdade e seria, certamente, de nenhum proveito. Ao contrário, o termo "terra" significa a terra do entendimento e conhecimento, e o "céu", o da Revelação Divina. Reflete como, por um lado, Ele com Sua poderosa mão, transformou num mero punhado a terra do conhecimento e da sabedoria, anteriormente estendida, e, por outro, desdobrou nos corações humanos uma terra nova e sumamente elevada, fazendo assim brotarem no peito iluminado do homem as mais frescas e encantadoras flores e as árvores mais altas e poderosas.
Que reflitas, também, como os altos céus das Eras passadas se dobraram na mão direita do poder, como os céus da Revelação Divina se ergueram pelo imperativo de Deus e se adornaram com o sol, a lua e as estrelas de Seus maravilhosos mandamentos. Tais são os mistérios do Verbo de Deus que agora se desvendaram e se tornaram manifestos, para que tu possas, quiçá, perceber a luz matinal da guia divina e extinguir, pelo poder da confiança o da renúncia, a lâmpada da vã fantasia, das imaginações fúteis, da hesitação e da dúvida, e possas acender no mais íntimo recôndito do teu coração, a luz recém-nascida da certeza e dos conhecimentos divinos.
Sabe tu, verdadeiramente, que o propósito fundamental de todos esses termos simbólicos e alusões abstrusas que emanam dos Reveladores da santa Causa de Deus, é a provação dos povos do mundo; para que, deste modo, o terreno dos corações puros e iluminados se distinga do solo estéril e perecedor. Desde tempos imemoriais, é este o método de Deus entre Suas criaturas, segundo atestam os livros sagrados.
E, igualmente, deves meditar sobre o versículo revelado no que se refere ao "Qiblih". (31) Quando Maomé, o Sol profético, fugira da aurora de Bathá (32) para Yathrib, (33) Ele continuava a voltar o rosto, enquanto orava, na direção de Jerusalém, a cidade santa, até o tempo em que os judeus começaram a pronunciar palavras indecorosas contra Ele – palavras indignas de ser mencionadas nestas páginas e fatigantes para o leitor. Maomé ressentia-se fortemente dessas palavras. Enquanto, absorvido em meditação e êxtase, contemplava o céu, ouviu a voz benévola de Gabriel, dizendo: "Nós Te vemos do alto, a dirigir a face para o céu; mas Nós queremos que Te voltes para um Qiblih que Te aprouver." (34) Num dia subseqüente, enquanto o Profeta, com Seus companheiros, proferia a oração do meio-dia, e quando já executara duas das Rik' ats prescritas, (35) ouviu Ele novamente a voz de Gabriel: "Volta Tua face para a sagrada Mesquita." (36) (37) Em meio a essa mesma oração, Maomé virou a face subitamente de Jerusalém e dirigiu-se ao Ka'bih. De pronto, profunda consternação apoderou-se dos companheiros do Profeta. Isso lhes abalou severamente a fé. Tamanho foi seu alarme que muitos deles interromperam a oração e cometeram apostasia. Em verdade, Deus não causa essa perturbação pro outro motivo senão o de por à prova Seus servos. A não ser isso, Ele, o Rei ideal, facilmente teria deixado de alterar o Qiblih, podendo ter permitido que Jerusalém continuasse a ser o Ponto de Adoração para Sua Era, e assim não teria privado essa cidade santa da distinção que lhe fora concedida.
Jamais fora a lei do Qiblih alterada por qualquer dos muitos Profetas enviados como Mensageiros da Palavra de Deus desde que Moisés se manifestara, tais como David, Jesus, e outros dos mais excelsos Manifestantes que apareceram durante o período entre as Revelações de Moisés e de Maomé. Cada um desses Mensageiros do Senhor da criação ensinou Seu povo a dirigir-se ao mesmo ponto. Aos olhos de Deus, o Rei ideal, todos os lugares da terra são iguais e idênticos, exceto aquele lugar que Ele, no tempo de Seu Manifestante, designa para um fim especial. Assim como Ele revelou: "Oriente e Ocidente pertencem a Deus; em qualquer direção que vos vireis, pois, aí está o semblante de Deus." Como, então, foi que, (38) não obstante a verdade destes fatos, se alterou o Qiblih e assim causa tanta angústia entre o povo, fazendo vacilarem os companheiros do Profeta e criando em seu meio tão grande confusão? Sim, tais coisas que lançam consternação nos corações de todos os homens sucedem somente para provar cada alma com a pedra de toque ordenada por Deus, para que se conheça a verdadeira e se a distinga da falsa. Após a divergência entre o povo, Ele assim revelou: "Nós não apontamos o que Tu querias fosse o Qiblih, para somente assim conhecermos aquele que segue o Apóstolo e podermos distingui-lo daquele que tergiversa." (39) "Asnos amedrontados fugindo de um leão." (40)
Se ponderásseis essas explicações no coração, só um pouco, haveríeis seguramente de encontrar descerrados diante de vossa face os portais do entendimento e contemplaríeis todo o conhecimento com seus mistérios desvendados ante vossos olhos. Tais coisas sucedem apenas a fim de que as almas dos homens se desenvolvam e se livrem da prisão do eu e do desejo em que se acham encerradas. De outro modo, aquele Rei ideal é, em Sua Essência, desde toda a eternidade, independente da compreensão de todos os seres e continuará para sempre enaltecido em Seu próprio Ser, além da adoração de qualquer alma. Um simples sopro de Sua exuberância é suficiente para adornar toda a humanidade com as vestes da riqueza; apenas uma gota do oceano de Sua abundante graça basta para conferir a todos os seres a glória da vida eterna. Como, porém, o Desígnio Divino exigiu que o verdadeiro fosse distinguido do falso, e o sol, da sombra, Ele, em todas as épocas, tem feito caírem sobre a humanidade, provindas de Seu reino de glória, chuvas de provações.
Se os homens meditassem sobre as vidas dos Profetas da antiguidade, viriam a conhecer e compreender tão facilmente os métodos desses Profetas, que deixariam de ser confundidos por tais ações e palavras contrárias a seus próprios desejos mundanos e assim consumiriam com o fogo ardente na Sarça do conhecimento divino todo véu que se interpusesse, e permaneceriam seguros sobre o trono da paz e da certeza. Considerai, por exemplo, Moisés, filho de 'Imrán, um dos Profetas excelsos e Autor de um Livro divinamente revelado. Um dia, Ele, ainda na juventude, antes de haver proclamado Seu ministério, passava pelo mercado, quando viu dois homens lutando. Um deles pediu a Moisés socorro contra o adversário e então Moisés interveio e matou a este. Assim atesta a narrativa do Livro Sagrado. Se fossem citados os detalhes, o curso do argumento seria interrompido e prolongado em demasia. Divulgou-se por toda a cidade a notícia desse incidente e Moisés estava cheio de medo, como afirmava o texto do Livro. E quando chegou a seus ouvidos esta advertência: "Ó Moisés! em verdade, os chefes estão em conselho para Te matar", (41) Ele partiu da cidade e foi residir em Midian, a serviço de Shoeb. Ao regressar, Moisés entrou no vale santo, na solidão do Sinai, e aí, da "Árvore que não pertence nem ao Este nem ao Oeste", teve a visão do Rei da glória. Ai ouviu Ele a Voz comovedora do Espírito, que do Fogo ardente Lhe falava, mandando que irradiasse sobre as almas faraônicas a luz da guia divina; de modo que, livrando-as do vale sombrio do ego e do desejo, Ele as fizesse alcançar os prados do deleite celestial e, através do Salsabil da renúncia, as salvasse da perplexidade oriunda de sua separação e as fizesse entrar na cidade tranqüila da Presença Divina. Quando Moisés veio a Faraó e, segundo Deus ordenara, lhe transmitiu a Mensagem divina, Faraó falou de maneira ofensiva, dizendo: "Não és aquele que cometeu assassínio e se tornou infiel?" Assim o Senhor da majestade relatou as palavras de Faraó a Moisés: "Que ato foi esse que Tu cometeste! És um dos ingratos." Disse Ele: "Eu o fiz, em verdade, e fui um dos que erraram. E fugi de vós quando vos receei, mas Meu Senhor Me deu sabedoria e Me fez um de Seus Apóstolos." (42)
E agora pondera em teu coração que tumulto Deus provoca. Reflete: como são múltiplas e estranhas as provações com que Ele experimenta Seus servos. Considera tu como Ele escolheu subitamente dentre Seus servos e Lhe confiou a exaltada missão de ser um Guia divino, Àquele conhecido como homicida, que confessara, Ele mesmo, Sua crueldade e que por quase trinta anos fora, aos olhos do mundo, criado na casa de Faraó e alimentado à sua mesa. Não poderia Deus, o Rei Onipotente, ter impedido de cometer assassínio a mão de Moisés para que Lhe não fosse atribuído, fato este que tanta perplexidade e aversão causou entre o povo?
Outrossim, deves tu refletir sobre o estado e condição de Maria. Tão profunda foi a ansiedade desse mais belo semblante, tão penosa sua situação, que ela deplorava amargamente haver nascido. Isso é comprovado pelo texto do sagrado versículo que diz haver Maria, após o nascimento de Jesus, lamentado seu embaraço e exclamado: "Oxalá tivesse eu morrido antes disto e sido uma coisa esquecida, inteiramente esquecida!" (43) Deus é Nossa testemunha! Tais lamentos consomem o coração e abalam o próprio ser. Tão grande consternação de alma, tamanho abatimento de espírito, não poderia ter sido causado senão pela censura do inimigo e pelas cavilações dos infiéis e perversos. Pensa: qual a resposta que Maria poderia dar ao povo a seu redor? Como poderia ela afirmar que uma Criança, cujo pai era desconhecido, tivesse sido concebida do Espírito Santo? Por isso foi que Maria, aquele Semblante velado e imortal, tomou sua Criança e voltou para sua casa. Mal caíram sobre ela os olhos do povo, quando se levantaram as vozes, dizendo: "Ó irmã de Arão! Teu pai não foi um homem iníquo; tampouco tua mãe impudica." (44)
E agora deves meditar sobre essa tão grande convulsão, essa provação penosa. Apesar de todas essas coisas, Deus concedeu àquela Essência do Espírito, Àquele conhecido entre o povo como um que não teve pai, a glória de ser Profeta, e d'Ele fez Sua testemunha para todos aqueles que estão no céu e na terra.
Vê tu como os métodos dos Manifestantes de Deus, segundo ordena o Rei da criação, são contrários aos métodos e desejos dos homens! À medida que vieres a compreender a essência desses mistérios divinos, perceberás o desígnio de Deus, o Encantador divino, o Mais-Amado. Virás a considerar as palavras e os atos daquele Soberano todo-poderoso como sendo uma e a mesma coisa; de tal modo que, seja qual for o que vejas em Seus atos, o mesmo encontrarás em Suas palavras, e o que leres em Suas palavras, isso perceberás também em Seus atos. Assim é que tais atos e palavras são, exteriormente, o fogo da vingança para os ímpios, e interiormente, as águas da compaixão para os justos. Se os olhos do coração se abrissem, perceberiam, seguramente, que as palavras reveladas do céu da vontade de Deus estão em harmonia com os atos que emanaram do Reino do poder divino e lhes são idênticas.
E agora atende, ó irmão! Se aparecessem coisas semelhantes nesta Era, se houvesse incidentes iguais no tempo atual, que faria o povo? Juro por Aquele que é o verdadeiro Educador da humanidade e Revelador do Verbo de Deus, que instantânea e inquestionavelmente, haveria o povo de O chamar de infiel e sentenciá-Lo à morte. Quanto estão eles longe de escutar a voz que declara: Eis que um Jesus apareceu do sopro do Espírito Santo e um Moisés foi chamado para uma tarefa a que Deus O destinara! Ainda que se levantassem miríades de vozes, ouvido algum escutaria se Nós disséssemos que a uma Criança sem pai fora dada a missão de Profeta, ou que um homicida houvera trazido da chama da Sarça ardente esta mensagem: "Em verdade, em verdade, Eu sou Deus!"
Se os olhos da justiça se abrirem, reconhecerão prontamente, à luz daquilo já mencionado, que Aquele que é a Causa e o Objeto final de todas essas coisas, se tornou manifesto neste dia. Embora não tenham havido na Era atual acontecimentos comparáveis, o povo apega-se, no entanto, às mesmas vãs fantasias tão caras ao ímpio. Como são penosas as acusações que Lhe infligiram! E quão severas as perseguições de que é alvo – acusações e perseguições, cujo igual jamais homem algum tem visto ou ouvido!
Grande Deus! Quando o fluxo de palavras atingiu este ponto, contemplamos e eis que as suaves fragrâncias de Deus emanavam da Aurora da Revelação e a brisa matinal soprava do Sheba do Eterno. Suas novas regozijaram mais uma vez o coração e proporcionaram à alma alegria incomensurável. Renovou Ela todas as coisas, e trouxe, do Amigo incognoscível, dádivas sem conta e de inestimável valor. As vestes dos louvores humanos não podem esperar jamais ser adequadas à Sua nobre estatura; o manto das palavras jamais se poderá ajustar a Sua figura resplandente. Sem palavra, desvenda os mistérios mais recônditos; sem falar, revela os segredos das expressões divinas. Aos rouxinóis que cantam nos ramos do afastamento e da privação, ensina lamentos e gemidos, instrui-os na sutil arte do amor e esclarece-lhes o mistério que há na entrega do coração. Às flores do Rivdán da união celestial, revela a ternura do apaixonado e desvenda o encanto da formosa amada. Concede os mistérios da verdade às anêmonas do jardim do amor, e aos corações dos que amam, confia os símbolos das mais íntimas sutilezas. Nesta hora, tão generosa é a emanação de Sua graça, que o próprio Espírito Santo sente inveja! À gota concedeu as ondas do mar; à ínfima partícula, favoreceu com o esplendor do sol. Tal é a exuberância de Suas dádivas, que o mais desprezível besouro tem buscado o perfume do almíscar, e o morcego a luz do sol. Ressuscitou os mortos com o alento da vida e os fez apressarem-se a sair dos sepulcros dos seus corpos mortais. Estabeleceu no assento da erudição o ignorante, e elevou o opressor ao trono da justiça.
O universo está prenhe dessas múltiplas graças, aguardando a hora em que os efeitos de Suas dádivas invisíveis se tornem manifestos neste mundo, quando o sedento e aquele que languesce atinjam o Kawthar vivificante do Bem-Amado e o errante, perdido nas solidões do afastamento e da inexistência, entre no tabernáculo da vida e alcance a reunião com Aquele por quem seu coração anseia. De quem será o coração em cujo solo germinem estas santas sementes? Do jardim de que alma brotarão as flores das realidades invisíveis? Em verdade, digo, tão intensa é a flama na Sarça do amor, acesa no Sinai do coração, que jamais as águas transbordantes das palavras sagradas lhe poderão aplacar a chama. Oceanos jamais aliviarão a sede ardente desse Leviatã, e essa Fênix do imorredouro fogo em parte alguma pode habitar, a não ser no esplendor que irradia do Semblante do Bem-Amado. Portanto, ó irmão! com o óleo da sabedoria, acende no âmago de teu coração a lâmpada do espírito, e protege-a com o globo da compreensão, para que o sopro do infiel não lhe possa extinguir a flama, nem diminuir o brilho. Assim temos iluminado os céus das palavras com os esplendores do Sol da sabedoria e compreensão divinas, para que teu coração encontre paz e tu sejas um dos que voaram com as asas da certeza, para o céu do amor de seu Senhor, o Todo-Misericordioso.
E agora, quanto a Suas palavras: "E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu." Significam estas palavras que, quando se tiver eclipsado o sol dos ensinamentos celestiais, quando tiverem caído as estrelas das leis divinamente estabelecidas, e a lua do verdadeiro conhecimento – o educador da humanidade – estiver obscurecida; quando os estandartes do esclarecimento e da felicidade estiverem virados e a manhã da verdade e retidão se tiver mergulhado na treva da noite, então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem. O "céu" quer dizer o céu visível, pois, ao aproximar-se a hora em que o Sol do céu da justiça deverá se manifestar e a Arca da sabedoria divina sulcar o oceano da glória, aparecerá no céu uma estrela para anunciar ao povo o advento daquela mais grandiosa luz. Do mesmo modo, no céu invisível, haverá de se manifestar uma estrela que será um arauto proclamando, aos povos da terra, o romper daquela Manhã verdadeira e sublime. Esses sinais duplos, no céu visível e no invisível, têm anunciado a Revelação de cada um dos Profetas de Deus, como geralmente se acredita.
Um dos Profetas foi Abraão, o Amigo de Deus. Antes de Ele se manifestar, Nimrod teve um sonho. Chamou então os adivinhos, que lhe informaram haver surgido uma estrela no céu. Apareceu, outrossim, um arauto que anunciou por toda a terra a vinda de Abraão.
Depois d'Ele, veio Moisés, Aquele que conversava com Deus. Os adivinhos de Seu tempo advertiram a Faraó nestes termos: "Surgiu uma estrela no céu! Ei-la! Prognostica a concepção de uma Criança que segura nas mãos o vosso destino e o de vosso povo." Assim também apareceu, na escuridão da noite, um sábio trazendo novas de júbilo ao povo de Israel, consolando-lhe a alma e tranqüilizando-lhe o coração. Testemunho disso se encontra nos relatos dos Livros Sagrados. Fossemos mencionar os detalhes, esta epístola se tornaria um livro. Além disso, não é Nosso desejo contar histórias dos dias passados. Deus é Nossa Testemunha de que até mesmo isto que agora mencionamos é devido somente à Nossa terna afeição por ti, para que os pobres da terra talvez possam atingir a orla do mar da riqueza e os ignorantes ser conduzidos ao oceano do conhecimento divino, e aqueles que têm sede de compreensão possam participar do Salsabíl da sabedoria divina. De outro modo, este servo consideraria um erro grave e uma transgressão lastimável levar em conta tais relatos.
Semelhantemente, ao aproximar-se a hora da Revelação de Jesus, alguns dos Magos, cientes de que aparecera no céu a estrela de Jesus, procuraram-na e seguiram-na, até que vieram à cidade que era a sede do Reino de Herodes. O domínio de sua soberania naquele templo abrangia toda aquela terra.
Disseram os Magos: "Onde está o Rei dos Judeus, que é nascido? porque nós vimos no oriente a Sua estrela e viemos adorá-Lo." (45) Depois de haverem procurado, descobriram que em Belém, na terra da Judéia, a Criança nascera. Foi este o sinal que se manifestou no céu visível. Quanto ao sinal no céu invisível – céu do conhecimento e da compreensão divinos – foi Yahyá, filho de Zacarias, quem deu ao povo as boas novas da Manifestação de Jesus. Assim mesmo como Ele revelou: "Deus te anuncia Yahyá, que dará testemunho do Verbo de Deus, de um Ser grande e puro." (46) O termo "Verbo" refere-se a Jesus, Cuja vinda Yahyá predisse. Ainda mais, encontra-se nas sagradas Escrituras: "Veio João Batista pregando no deserto da Judéia e dizendo: Fazei penitência; porque está próximo o Reino dos céus." (47) Por João se entende Yahyá.
E também, antes de se desvelar a beleza de Maomé, manifestaram-se os sinais do céu visível. Quanto aos sinais no céu invisível, apareceram quatro homens que sucessivamente anunciaram ao povo as boas novas de que nascera aquele Luminar divino. Rúz-bih, mais tarde chamado Salmán, teve a honra de estar a seu serviço. Ao aproximar-se o fim da vida de um deles, este mandava Rúz-bih a um outro, até que o quarto desses homens, percebendo estar próxima sua morte, se dirigiu a Rúz-bih, dizendo: "Ó Rúz-bih! Quando tiveres tomado meu corpo e o enterrado, vá a Hijaz, pois aí há de nascer o Sol de Maomé. Feliz és tu, porque verás Seu semblante!"
E agora a respeito desta Causa maravilhosa e excelsa: Sabe tu, em verdade, que muitos astrônomos anunciaram o aparecimento de sua estrela no céu visível. Também apareceram na terra Ahmad e Kázim, (48) aquelas esplendorosas luzes gêmeas – que Deus lhes santifique o lugar de descanso!
De tudo o que já dissemos, torna-se claro e evidente que, antes da revelação de cada um dos Espelhos refletores da Essência Divina, os sinais anunciantes de Seu advento devem por força se manifestar no céu visível, bem como no invisível, no qual se encontra a sede do sol do conhecimento, da lua da sabedoria e das estrelas da compreensão e das palavras. O sinal do céu invisível tem de ser revelado na pessoa daquele homem perfeito que, antes do aparecimento de cada Manifestante, educa e prepara as almas dos homens para o advento do Luminar divino, da Luz da Unidade de Deus entre os homens.
Referindo-se, agora, a Suas palavras: "E então todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade." Estas palavras significam que naqueles dias os homens lamentarão a perda do Sol da Beleza Divina, da Lua do conhecimento e das Estrelas da sabedoria divina. Depois, verão o semblante do Prometido, a Beleza adorada, descer do céu e mover-se sobre as nuvens. Quer isso dizer que a Beleza Divina se manifestará do céu da Vontade de Deus e aparecerá na forma do "templo humano". O termo "céu" significa sublimidade e exaltação, desde que é a sede da revelação desses Manifestantes da Santidade, Auroras da Glória antiga. Embora nasçam do ventre materno, esses Seres antigos descem, na realidade, do céu da Vontade de Deus. Ainda que habitem nesta terra, suas verdadeiras moradas são, entretanto, as plagas gloriosas nos reinos do além. Enquanto andam entre os homens mortais, voam no céu da Presença Divina. Sem pés, trilham o caminho do espírito e, sem asas, se elevam às sublimes alturas da Unidade Divina. Com cada alento fugaz, atravessam a imensidade do espaço e a todo instante passam pelos domínios do visível e do invisível. Sobre seus tronos está escrito: "Nada em absoluto O impede de se ocupar em alguma outra coisa." E nos seus assentos se inscreveu: "Em verdade, os métodos d'Ele diferem todo dia." (49) Esses Seres são enviados através do poder transcendente do Ancião dos Dias e surgem de acordo com a excelsa Vontade de Deus, o Rei poderosíssimo. Eis o que significa a expressão: "virá sobre as nuvens do céu."
Nas palavras dos divinos Luminares, o termo "céu" indica muitas coisas diferentes, tais como o "céu do Mando", o "céu da Vontade", o "céu do Desígnio divino", o "céu do Conhecimento divino", o "céu da Certeza", o "céu das Palavras", o "céu da Revelação", o "céu da Ocultação" e outros semelhantes. Em cada caso, Ele dá ao termo "céu" um sentido especial que não se revela, salvo àqueles iniciados nos mistérios divinos, àqueles que tenham sorvido do cálice da vida imortal. Diz Ele, por exemplo: "O céu tem sustento para vós e contém o que vos é prometido", (50) embora seja a terra que dá tal sustento. De modo igual, se tem dito: "Os nomes descem do céu"; entretanto, procedem da boca dos homens. Se limpasses o espelho de teu coração, tirando-lhe o pó da malícia, compreenderias o sentido dos termos simbólicos revelados pelo Verbo de Deus, que a tudo abarca, tornado manifesto em cada Era, e descobririas os mistérios do conhecimento divino. Antes de consumires, no entanto, com a chama do desprendimento absoluto, aqueles véus de vã erudição usual entre os homens, não poderás contemplar o brilhante amanhecer do conhecimento verdadeiro.
Sabe tu que há, em verdade, duas espécies de Conhecimento: a divina e a satânica. Uma emana da fonte da inspiração divina; a outra é apenas o reflexo de pensamentos vãos e obscuros. A origem daquela é o próprio Deus; a força motriz desta são os sussurros do desejo egoístico. Uma é guiada pelo princípio de: "Temei a Deus; Deus ensinar-vos-á." A outra nada mais é que a confirmação desta verdade: "A erudição é o mais lastimável véu entre o homem e seu Criador." Aquela dá o fruto da paciência, do anelo, da verdadeira compreensão e do amor; enquanto esta nada pode produzir senão a arrogância, a vanglória e o orgulho. Nas palavras daqueles Mestres do santo Verbo, que têm esclarecido o significado do verdadeiro conhecimento, não se pode perceber, de modo algum, o odor destes ensinamentos obscuros que turvaram o mundo. A árvore de tais ensinamentos não dará outro resultado que a iniqüidade e a rebeldia, e nenhum fruto produzirá, a não ser o ódio e a inveja. Seu fruto é veneno mortal; sua sombra, um fogo voraz. Bem se há dito: "Apega-te ao manto do Desejo do teu coração, e põe de lado toda vergonha; manda que se afastem os versados nos conhecimentos do mundo, por grandes que sejam seus nomes."
O coração, pois, deve ser purificado das vãs palavras dos homens e santificado de todo afeto terreno, a fim de que possa descobrir o sentido oculto da inspiração divina e se tornar o tesouro dos mistérios do conhecimento divino. Assim se tem dito: "Quem trilhar o Caminho níveo e seguir as pegadas do Pilar Carmesim, jamais alcançará a sua morada, a não ser que suas mãos se desapeguem daquelas coisas do mundo estimadas pelos homens." É o primeiro requisito para quem quer que trilhe esse caminho. Pondera isso, pois, para que, com teus olhos desvendados, tu possas perceber a verdade destas palavras.
Fizemos uma digressão do propósito de Nosso argumento; no entanto, qualquer coisa que seja mencionada serve apenas para confirmar Nosso propósito. Por Deus, embora seja grande Nosso desejo de ser breve, sentimos, todavia, que não podemos restringir Nossa pena. A despeito de tudo o que já mencionamos, quão inúmeras são as pérolas que permanecem intactas na concha do Nosso coração! Quantas são as húris do sentido interior que ainda estão veladas dentro dos aposentos da sabedoria divina! Delas ninguém, ainda, se aproximou; - húris "que nem homem nem espírito até agora tem tocado." (51) Apesar de tudo quanto se já disse, parece que nenhuma letra de Nosso intuito foi ainda pronunciada, nem sequer um sinal divulgado em relação a Nosso objeto. Quando será encontrado alguém que busque fielmente e consinta em vestir as roupagens de peregrino; que atinja o Ka'bih do desejo do coração e descubra, sem ouvido ou língua, os mistérios das palavras divinas?
Por estas explicações luminosas, concludentes e lúcidas, se tornou claro e evidente o sentido de "céu" no versículo já mencionado. E agora com referência a Suas palavras, que o Filho do homem "virá sobre as nuvens do céu", o termo "nuvens" significa aquelas coisas que são contrárias aos métodos e aos desejos dos homens. Assim mesmo como Ele revelou no versículo já citado: "Todas às vezes que vem um Apóstolo trazendo-nos o que vossas almas não desejam, vós vos inchais de orgulho, acusando alguns de impostores e a outros matando." (52) Essas "nuvens" significam, em um sentido, a anulação das leis, a revogação das Revelações anteriores e dos ritos e costumes correntes entre os homens, o enaltecimento dos iletrados fiéis acima dos eruditos que se opõem à Fé. Em outro sentido, referem-se ao aparecimento daquela Beleza Eterna na imagem do homem mortal, com tais limitações humanas como a necessidade de comer e beber, a pobreza e a riqueza, a glória e a humilhação, o dormir e o despertar e outras coisas semelhantes que criam dúvida na mente dos homens e causam seu afastamento. Todos esses véus são chamados, simbolicamente, "nuvens".
Essas são as "nuvens" que fazem com que se rompam os céus do conhecimento e da compreensão de todos os que habitam a terra. Assim como Ele revelou: "Naquele dia o céu será rompido pelas nuvens." (53) Do mesmo modo que as nuvens impedem os olhos dos homens de ver o sol, também essas coisas impedem suas almas de reconhecer a luz do Luminar Divino. A isso testifica o que procedeu da boca dos descrentes, segundo revela o Livro Sagrado: "E disseram: Que espécie de apóstolo é esse? Toma alimentos e anda nas ruas. A não ser que um anjo seja enviado e apóie Suas advertências, nós não acreditaremos." (54) Outros Profetas, igualmente, têm estado sujeitos à pobreza e às aflições, à fome e aos males e vicissitudes deste mundo. Porque essas Pessoas santas estavam sujeitas a tais necessidades, o povo, em conseqüência disso, perdia-se nas solidões de desconfianças e dúvidas, aflito pela confusão e perplexidade. Como seria possível – queriam eles saber – uma pessoa ser enviada por Deus, declarar Sua ascendência sobre todos os povos e todas as raças da terra e se proclamar o objetivo de toda a criação – assim mesmo como Ele disse: "Se não fosses tu, Eu não teria criado todos os que estão no céu e na terra", - e, apesar de tudo isso, ainda ficar sujeita a coisas tão triviais? Deveis ter sido informados, sem dúvida, das tribulações, da pobreza, das adversidades e da degradação que sobrevieram a todo Profeta de Deus e Seus companheiros. Deveis ter sabido como as cabeças de Seus discípulos foram enviadas de presente a várias cidades e como se os impediu, lastimavelmente, daquilo que lhes fora ordenado. Cada um deles caiu vítima nas mãos dos inimigos de Sua Causa, tendo que sofrer tudo o que estes decretassem.
Evidentemente, as modificações efetivadas em cada Era constituem as nuvens negras interpostas entre os olhos do entendimento do homem e o divino Luminar que se irradia da aurora da Essência Divina. Considerai como os homens, desde muitas gerações, imitam cegamente os pais, sendo ensinados de acordo com os costumes e normas que os ditames de sua Fé estabeleceram. Se esses homens, pois, descobrissem subitamente que um Homem que vivia entre eles e lhes era igual no que diz respeito a todas as limitações humanas, viera a levantar-se com o fito de abolir todos os princípios impostos pela sua Fé – princípios segundo os quais eles haviam sido educados desde séculos, tendo-se habituado a considerar como infiel, corrupto e perverso, qualquer um que os negasse ou lhes fizesse oposição – ficariam, certamente, velados e impedidos de reconhecer Sua verdade. Tais coisas são como "nuvens" que velam os olhos daqueles cujo ser interior não saboreou o Salsabil do desprendimento, nem bebeu do Kawthar do conhecimento de Deus. Esses homens, ao saberem dessas circunstâncias, ficam tão velados que, sem a menor dúvida, pronunciam o Manifestante de Deus um infiel e O sentenciam à morte. Deveis ter sabido como tais coisas aconteciam no decorrer dos séculos e agora, nestes dias, as estais observando.
Cumpre-nos, portanto, fazer o máximo esforço para que, graças ao invisível amparo de Deus, esses véus obscuros, essas nuvens que são provações mandadas pelo céu, não nos possam impedir de ver a beleza do Seu Semblante luminoso, e para que O possamos reconhecer somente por Ele Próprio. E se pedíssemos um testemunho de Sua verdade, nós nos deveríamos contentar com um, e um só; para que assim atingíssemos Àquele Que é a Fonte Primitiva da infinita graça, em Cuja Presença toda a abundância do mundo se esvaece, e deixássemos de cavilar d'Ele, todos os dias, e de nos apegar à nossa própria vã fantasia.
Deus bondoso! Não obstante a advertência pronunciada em tempos passados, expressa em linguagem maravilhosamente simbólica e em sutis alusões, com o intuito de despertar os povos do mundo e não os deixar se privarem de sua parte do oceano encapelado da graça divina, sucederam ainda tais coisas como já presenciamos! Também no Alcorão há referência a essas coisas, como se vê pelo seguinte versículo: "Que podem essas pessoas esperar senão que Deus desça para elas encoberto de nuvens?" (55) Alguns sacerdotes, que se prendem firmemente à letra da Palavra de Deus, vieram a considerar esse versículo como um dos sinais daquela esperada ressurreição oriunda de sua vã fantasia. E isso, apesar do fato de haverem sido feitas referências semelhantes na maioria dos Livros celestiais e inscritas em todas as passagens que tratam dos sinais do Manifestante vindouro.
Diz Ele também: "No dia em que o céu emitir uma fumaça palpável, a qual haverá de amortalhar a humanidade; isto será um tormento aflitivo." (56) O Todo-Glorioso decretou estas coisas contrárias aos desejos dos homens perversos, exatamente para serem a pedra de toque, o padrão pelo qual Ele prova Seus servos, de modo que o justo se distinga do ímpio, e o fiel do infiel. O termo simbólico "fumaça" refere-se a graves dissensões, à revogação e ao desmoronamento dos padrões reconhecidos, com a destruição completa daqueles de mentalidade estreita que lhes são os expoentes. Que fumaça poderia ser mais densa e acabrunhadora do que aquela que atualmente amortalha todos os povos do mundo, tornando-se-lhes um suplício, e do qual eles nenhuma esperança têm de livrar-se, por mais que lutem? Tão feroz é esse fogo do eu, ardendo no seu íntimo, que, a cada momento, parecem ser atingidos por tormentos novos. Quanto mais se lhes diz que esta maravilhosa Causa de Deus, esta Revelação proveniente do Altíssimo, se tornou manifesta para toda a humanidade e dia a dia progride e se fortifica, mais se enfurece o ardor do fogo em seus corações. Quanto mais observam o poder indomável, a renúncia sublime, a constância inabalável dos santos companheiros de Deus, os quais, por Ele ajudados, se tornam cada vez mais nobres e gloriosos, tanto mais profunda é a consternação que lhes consome a alma. Nestes dias – louvado seja Deus – o poder de Sua Palavra adquiriu tal ascendência sobre os homens que não se atrevem a murmurar nem sequer uma palavra. Fossem eles encontrar um dos companheiros de Deus disposto a oferecer, se pudesse, dez mil vidas livre e alegremente, em holocausto pelo Amado, tão grande seria seu medo que logo professariam sua fé n'Ele, enquanto, porém, secretamente, Lhe vilipendiando e execrando o Nome! Assim mesmo como Ele revelou: "E quando vos encontram, dizem – Acreditamos – mas quando estão afastados, mordem de ira as pontas dos dedos. Dizei – Morri em vossa ira! (57) – Deus conhece, em verdade, os próprios recônditos de vossos corações."
Dentro em breve teus olhos verão desdobrarem-se os estandartes do poder divino por todas as regiões e os sinais de Sua soberania e grandeza triunfantes manifestarem-se em todos os recantos da terra. Desde que a maioria dos sacerdotes não pode entender o sentido desses versículos, nem compreendeu o que significa o Dia da Ressurreição, eles, pois, interpretaram esses versículos insensatamente, de acordo com sua concepção vã e errada. Deus, Uno e Verdadeiro, é Minha Testemunha! Pouca percepção é necessária para que possam inferir, da linguagem simbólica desses dois versículos, tudo o que intentamos expor, e assim possam atingir, através da graça do Todo-Misericordioso, o resplandente amanhecer da certeza. Tais são os acordes da melodia celestial que a Ave imortal do Céu, chilreando no Sadrih de Bahá, faz manar sobre ti, a fim de que tu possas, pela permissão de Deus, trilhar o caminho da sabedoria e dos conhecimentos divinos.
E agora, com referência às Suas palavras: "E Ele enviará Seus anjos..." Por "anjos" se quer dizer aqueles que, reforçados pelo poder do espírito, consumiram todas as qualidades e limitações humanas com o fogo do amor de Deus, e se adornaram com os atributos dos Seres mais excelsos e dos Querubins. Aquele homem santo, Sádiq, (58) em seu elogio dos Querubins, diz: "Há uma companhia de nossos irmãos xiitas atrás do Trono." Diversas e múltiplas sãos as interpretações das palavras "atrás do Trono." Em um sentido, indicam que não existe nenhum xiita verdadeiro. Assim como ele diz em outra passagem: "Um verdadeiro crente assemelha-se à pedra filosofal." Dirigindo-se em seguida ao ouvinte, pergunta: "Tu já viste a pedra filosofal?" Reflete como esta linguagem simbólica, mais eloqüente do que qualquer afirmação, por mais direta que seja, atesta a inexistência do verdadeiro crente. Tal é o testemunho de Sádiq. Que consideres agora como são injustos e como são numerosos, os homens que, mesmo não conseguindo aspirar a fragrância da fé, condenam como infiéis, no entanto, aqueles por cuja palavra é reconhecida e estabelecida a própria fé.
E agora, por haverem estes santos seres se purificado de todas as limitações humanas, se dotado dos atributos espirituais e se adornado com as nobres qualidades dos bem-aventurados, eles, pois, foram denominados "anjos". Eis o que significam esses versículos, dos quais cada palavra tem sido explicada por meio dos mais lúcidos textos, dos mais convincentes argumentos e das provas com maior firmeza estabelecidas.
Como os seguidores de Jesus jamais compreenderam o sentido oculto dessas palavras, e como os sinais esperados por eles e pelos dirigentes de sua Fé não apareceram, eles, por isso, se recusaram a admitir – e ainda hoje se recusam – a verdade dos Manifestantes da Santidade que têm vindo desde os dias de Jesus. Assim se privaram das emanações da santa graça de Deus e das maravilhas de Suas palavras divinas. Tal é seu baixo grau neste Dia, o Dia da Ressurreição! Nem mesmo perceberam que, se os sinais do Manifestante de Deus em cada era aparecessem no reino visível de acordo com o texto das tradições estabelecidas, seria impossível que pessoa alguma o negasse ou d'Ele se afastasse, e assim o bem-aventurado não se distinguiria do desventurado, o transgressor do piedoso. Julgai imparcialmente: se as profecias registradas no Evangelho fossem cumpridas literalmente: se Jesus, Filho de Maria, acompanhado de anjos, descesse do céu visível sobre as nuvens, quem se atreveria a descrer, quem ousaria rejeitar a verdade e se tornar desdenhoso? Não, tamanha consternação logo se apoderaria de todos os que habitam a terra, que nenhuma alma se sentiria capaz de pronunciar uma palavra e, muito menos, de rejeitar ou aceitar a verdade. Foi por não haverem compreendido essas verdades, que muitos sacerdotes cristãos fizeram objeção a Maomé, expressando seu protesto em palavras como estas: "Se Tu és, em verdade, o Profeta prometido, por que, então não vens acompanhado daqueles anjos preditos pelos nossos Livros Sagrados, que devem descer com a prometida Beleza para Lhe ajudar em Sua Revelação e admoestar Seu povo?" Assim mesmo como o Todo-Glorioso registrou as palavras deles: "Por que não Lhe foi enviado um anjo, de modo a ser um admoestador com Ele?" (59)
Objeções e divergências como estas têm persistido em todas as eras e todos os séculos. Sempre os homens se ocupam com discursos ilusórios, protestando futilmente: "Por que não apareceu este ou aquele sinal?" E têm passado por tais vicissitudes somente porque se prenderam aos caminhos apontados pelos sacerdotes do tempo em que viviam e os imitavam cegamente na aceitação ou negação destas Essências dos Desprendimentos, destes Seres santos, divinos. Esses líderes, estando imergidos em desejos egoístas e preocupados com coisas efêmeras e sórdidas, têm considerado estes Luminares divinos como opostos aos padrões de seu conhecimento e sua compreensão e inimigos de seus juízos e normas. Por haverem interpretado literalmente a Palavra de Deus e as declarações e tradições das Letras da Unidade, e as explicado de acordo com sua própria compreensão deficiente, eles privaram-se a si mesmos e a todo o seu povo, dos abundantes favores e dádivas de Deus. E dão testemunho, no entanto, desta bem conhecida tradição: "Em verdade, Nossa Palavra é abstrusa, tão abstrusa que confunde." Em outra instância se diz: "Nossa Causa traz severas provações e grande perplexidade; ninguém pode suportá-la exceto um favorecido do céu, ou um Profeta inspirado, ou aquele cuja fé Deus tenha provado." Esses dirigentes religiosos admitem que nenhuma dessas três condições especificadas lhes é aplicável. As duas primeiras estão, evidentemente, além de seu alcance; quanto à terceira, é claro que jamais ficaram inabaláveis diante daquelas provações mandadas por Deus e que, ao aparecer a Pedra de Toque divina, demonstraram-se nada ser senão escória.
Grande Deus! Apesar de aceitarem a verdade desta tradição, esses sacerdotes que ainda discutem e têm dúvidas acerca das obscuras questões teológicas em sua Fé, pretendem, mesmo assim, ser os intérpretes das sutilezas da lei de Deus e dos mistérios essenciais de Sua Santa Palavras. Afirmam com toda confiança não terem ainda sido cumpridas as tradições relativas ao advento do esperado Qá'im. Eles mesmos não puderam aspirar a fragrância do significado dessas tradições, nem tampouco estão cientes do fato de que já se realizaram todos os sinais preditos e se revelou o caminho da santa Causa de Deus, onde mesmo agora já passa, tão veloz como o relâmpago, a assembléia dos fiéis, enquanto eles, estultos sacerdotes, ainda esperam presenciar os sinais preditos. Dize: "Ó vós, insensatos! Esperai, assim como esperam aqueles que vos antecederam!"
Se fossem interrogados a respeito dos sinais que deveriam necessariamente anunciar a revelação e o nascer do sol da Era Maometana, aos quais já nos referimos e dos quais nenhum se cumpriu literalmente, e se lhes fosse perguntado: "Por que rejeitastes as pretensões dos cristãos e dos povos de outras crenças e os considerais infiéis?", eles, por não saberem que resposta dar, replicariam: "Esses Livros têm sido corrompidos e não são de Deus, nem o foram jamais." Refleti: as palavras dos próprios versículos dão testemunho eloqüente do fato de serem de Deus. Um versículo semelhante foi revelado no Alcorão – fosseis vós daqueles que compreendem. Digo, em verdade, que durante todo esse período não conseguiram compreender, em absoluto, o que significa corromper o texto.
Sim, nos escritos e discursos dos Espelhos que refletem o Sol da Era Maometana, se tem mencionado a "Modificação pelos seres elevados", e a "alteração pelos desdenhosos". Tais passagens, porém, referem-se somente a casos especiais, encontrando-se entre estes a história de Ibn-i-Súríyá. Quando o povo de Khaybar perguntou à Fonte da Revelação Maometana acerca da pena estabelecida para adultério entre um homem casado e uma mulher casada, Maomé respondeu: "Segundo a lei de Deus, é morte por apedrejamento." Então protestaram, dizendo: "Não foi revelada no Pentateuco tal lei." Replicou então Maomé: "Quem entre vossos rabinos é considerado por vós uma autoridade reconhecida e possuidor de seguros conhecimentos da verdade?" Concordaram em designar Ibn-i-Súríyá. A este, pois, Maomé mandou chamar, e disse: "Adjuro-te por Deus – Aquele que para vós dividiu o mar, que fez o maná descer sobre vós e a nuvem vos abrigar em sua sombra, vos livrou de Faraó e seu povo e vos exaltou acima de todos os seres humanos – para que nos digas o que decretou Moisés acerca do adultério entre um homem casado e uma mulher casada." Ele respondeu: "O Maomé! Morte por apedrejamento é a lei." "Por que, então", observou Maomé, "essa lei está anulada, não mais vigorando entre os judeus?" Disse ele em resposta: "Quando Nabucodonosor entregou Jerusalém às chamas e trucidou os judeus, sobreviveram muito poucos. Os sacerdotes daquele tempo, levando em conta o número extremamente limitado de judeus e a multidão de amalekitas, deliberaram e chegaram à conclusão de que, se executassem a lei do Pentateuco, todo sobrevivente que fora livrado da mão de Nabucodonosor, haveria de ser morto, segundo o veredicto do Livro. Em vista dessas considerações, revogaram totalmente a pena de morte." Entrementes, Gabriel inspirou ao coração iluminado de Maomé estas palavras: "Eles pervertem o texto da Palavra de Deus." (60)quaisquer versículos que exaltassem e elogiassem o semblante de Maomé, e inserido em seu lugar outros de sentido contrário. Quão completamente vãos e falsas são tais palavras! Pode um homem que acredita num livro e o considera inspirado por Deus, mutilá-lo? Além disso, o Pentateuco havia sido espalhado sobre a superfície de toda a terra e não se confinava à Meca e Medina de modo que lhes fosse permitido corromper e perverter seu texto secretamente. Ao contrário, corromper o texto significa aquilo em que todos os sacerdotes muçulmanos estão hoje ocupados, ou seja, na interpretação do Sagrado Livro de Deus de acordo com suas vãs imaginações e seus desejos fúteis. E uma vez que os judeus, no tempo de Maomé, interpretaram segundo sua própria fantasia os versículos do Pentateuco relativas à Sua Manifestação, não querendo se contentar com Suas santas palavras, pronunciou-se contra eles a acusação de "perverter" o texto. Do mesmo modo, hoje está claro que também o povo do Alcorão tem pervertido o texto do santo Livro de Deus, no tocante aos sinais do esperado Manifestante, interpretando-o de acordo com sua própria inclinação e seus próprios desejos.
Em ainda outra instância, Ele diz: "Uma parte deles ouviu a Palavra de Deus, e então, depois de havê-la compreendido, perverteu-a, sabendo o que fazia." (61) Este versículo indica também que se perverteu o sentido da Palavra de Deus, e não que tivessem sido obliteradas as próprias palavras. Testificam desta verdade os de mente sã.
Em outra ocasião ainda, Ele diz: "Ai daqueles que com as próprias mãos transcrevem o Livro corruptamente e dizem então – Isto é de Deus – a fim de poderem vendê-lo por algum preço desprezível." (62) Este versículo foi revelado com relação aos sacerdotes e expoentes da Fé Judaica. Esses sacerdotes, para agradar aos ricos, adquirir emolumentos materiais e se desafogar de sua inveja e falsa crença, escreveram vários tratados, nos quais refutaram as pretensões de Maomé, sustentando seus argumentos com evidências indignas de menção, alegando que esses argumentos foram tirados do texto do Pentateuco.
O mesmo se pode ver hoje. Considerai como são abundantes as denúncias escritas pelos insensatos sacerdotes da época atual contra esta admirável Causa! Como inutilmente fantasiam que essas calúnias estejam de acordo com os versículos do Sagrado Livro de Deus e em harmonia com as palavras dos homens do discernimento.
Nosso propósito em relatar essas coisas é advertir-vos de que, se eles alegassem haverem sido pervertidos aqueles versículos que mencionam os sinais aos quais o Evangelho se refere, se os rejeitassem e se apegassem a outros versículos e tradições em seu lugar, deveríeis saber serem absolutamente falsas suas palavras, - serem pura calúnia. Sim, tem havido, realmente, "corrupção" do texto, no sentido que Nós mencionamos, em casos especiais. A alguns destes já nos referimos, a fim de tornar manifesto – a quem observar com discernimento – que alguns poucos Homens santos, embora nunca instruídos, têm sido dotados de todos os conhecimentos humanos, para que assim o malévolo opositor cesse de sustentar ser corrupção do texto indicada por certo versículo e deixe de insinuar havermos Nós mencionado tais coisas só por falta de conhecimentos. Além disso, a maior parte dos versículos que indicam "corrupção" do texto foi revelada com referência ao povo judaico – fosseis vós explorar as ilhas da Revelação alcoranista.
Temos ouvido também numerosas pessoas insensatas na terra asseverarem que o genuíno texto do Evangelho celestial não existe entre os cristãos, havendo subido para o céu. Que erro lastimável! Como são inconscientes do fato de que tal asseveração imputa a maior injustiça e tirania a uma Providência clemente e benévola! Como poderia Deus – uma vez que o Sol da beleza de Jesus havia desaparecido da vista do Seu povo e ascendido para o quarto céu – fazer desaparecer também Seu Livro Sagrado, Seu maior testemunho entre Suas criaturas? Que restaria como esteio desse povo depois do ocaso do Sol de Jesus até o nascer do Sol da Era Maometana? Que lei seria seu apoio e guia? Como se poderia fazer esse povo vítima da ira vingativa de Deus, o Vingador onipotente? Como poderia o Rei celestial afligi-lo com o açoite da punição? E, acima de tudo, como seria possível fazer para o fluxo da graça do Todo-Generoso, e aquietar o oceano da Sua terna compaixão? Refugiamo-nos em Deus, para que nos proteja daquilo que Suas criaturas sobre Ele têm imaginado! Excelso é Ele acima da compreensão que elas possuem!
Estimado amigo! Agora, ao romper da luz da eterna Manhã de Deus, quando o esplendor de Suas santas palavras: "Deus é a luz dos céus e da terra" (63) está iluminando toda a humanidade; quando Sua sagrada declaração: "Deus quis aperfeiçoar Sua luz" (64) proclama inviolável Seu tabernáculo; e quando a Mão da Onipotência, dando testemunho de que: "Em Suas Mãos Ele segura o reino de todas as coisas" se estende a todos os povos e raças da terra, cumpre-nos fazer o máximo esforço para que, porventura, através da graça e bondade de Deus, possamos entrar na Cidade celestial de "Em verdade, somos de Deus" e permanecer na excelsa morada de: "E a Ele regressamos". Incumbe-te, pela permissão de Deus, purificar das coisas do mundo a vista do teu coração, de modo a poderes compreender a infinitude do conhecimento divino e discernir a Verdade tão claramente que não precisarás de prova para demonstrar Sua realidade, nem de evidência alguma para corroborar Seu testemunho.
Ó tu que buscas com afeto! Se voasses no santo domínio do espírito, haverias de reconhecer Deus manifesto e elevado acima de todas as coisas, de tal modo que pelos teus olhos ninguém seria visto senão Ele. "Deus estava só; não havia outro além d'Ele." Tão elevado é esse grau, que testemunho algum o pode confirmar, nem qualquer evidência fazer jus à sua verdade. Se explorasses o sagrado domínio da verdade, descobririas que todas as coisas se conhecem somente à luz do Seu reconhecimento; saberias que Ele sempre foi – e para sempre continuará a ser – conhecido através de Si próprio. E se habitas na terra do testemunho, contenta-te com aquilo que Ele mesmo revelou: "Não lhes basta havermos feito descer a Ti, o Livro?" (65) É este o testemunho que Ele próprio ordenou; maior prova que esta não há, nem haverá jamais: "Esta prova é Sua Palavra; Seu próprio Ser, o testemunho de Sua verdade."
E agora pedimos ao povo do Bayán, a todos os eruditos, sábios, sacerdotes e testemunhas entre eles, que não se esqueçam dos desejos e admoestações revelados em seu Livro. Que eles, em todos os tempos, fixem o olhar nas coisas essenciais de Sua Causa, para evitar que – quando se manifestar Aquele que é a Quinta-essência da verdade, a Realidade mais íntima de todas as coisas e a Fonte de toda a luz – eles se prendam a certas passagens do Livro e Lhe inflijam o que se infligiu na Era do Alcorão. Pois, em verdade, poderoso é Ele, Rei de onipotência divina, para extinguir com apenas uma letra de Suas palavras maravilhosas, o alento da vida em todo o Bayán e seu povo e, com apenas uma letra, conceder-lhe uma vida nova e sempiterna e fazê-lo apressar-se para sair dos sepulcros dos seus desejos vãos e egoístas. Sede atentos e vigilantes; e lembrai-vos de que todas as coisa atingem sua consumação ao crerem n'Ele, ao alcançarem Seu dia e elevarem-se à Sua Divina Presença. "Não há piedade em voltardes vossa face para o este ou para o oeste; piedoso, sim, é aquele que crê em Deus e no Último Dia." (66) Daí ouvidos, ó povos do Bayán, à verdade a que Nós vos admoestamos, para que vos possais abrigar, porventura, à sombra que se estende sobre toda a humanidade no Dia de Deus.

FIM DA PRIMEIRA PARTE

SEGUNDA PARTE

Veramente, Aquele Que é o Sol da Verdade e o Revelador do Ser Supremo, possui inquestionável soberania, em todos os tempos, sobre tudo o que está no céu e sobre a terra, embora se não encontre na terra homem algum que Lhe obedeça. Ele, em verdade, é independente de todo o domínio terreno, ainda que esteja desprovido de tudo. Assim Nós te revelamos os mistérios da Causa de Deus e te conferimos as jóias da sabedoria divina, a fim de poderes voar, porventura, com as asas da renúncia, para aquelas alturas veladas aos olhos dos homens.

A significação e o propósito essencial implícito nessas palavras consistem em revelar e demonstrar, aos puros de coração e santificados de espírito, que Aqueles que são os Luminares da verdade e os Espelhos que refletem a luz da Divina Unidade – em qualquer época ou ciclo em que sejam enviados de suas moradas invisíveis de glória antiga e desçam para este mundo, a fim de educar as almas dos homens e conceder graça a todas as coisas criadas – são dotados, invariavelmente, de predominante poder e investidos de uma soberania invencível. Pois essas Jóias ocultas, esses Tesouros invisíveis, em si mesmos, manifestam e sustentam a realidade destas santas palavras: "Em verdade, Deus faz qualquer coisa que queira e ordena o que Lhe apraz."
É evidente a todo coração iluminado e possuidor de discernimento, que Deus, a Essência incognoscível, o Ser Divino, é imensamente elevado além de todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, ascensão e descida, saída e regresso. Longe esteja de Sua glória que a língua humana celebre adequadamente Seu louvor, ou o coração humano compreenda Seu insondável mistério. Ele está, e sempre esteve, velado na eternidade antiga de Sua Essência, e permanecerá em Sua Realidade, para todo o sempre, escondido da vista dos homens. "Nenhuma visão O abrange, mas Ele abrange toda a visão; Ele é o Sutil, Aquele que a tudo percebe." (1) Nenhum laço de relação direta pode, em absoluto, ligá-Lo às Suas criaturas. Ele se mantém elevado além e acima de toda separação e união, toda proximidade e todo afastamento. Nenhum sinal pode indicar Sua presença ou Sua ausência; já que foi por uma palavra de Seu mando que todos no céu e na terra vieram a existir, e pelo Seu desejo – o qual é a própria Vontade Primaz – que todos emergiram do nada absoluto e entraram no reino da existência, no mundo das coisas visíveis.
Deus bondoso! Como poderia se conceber uma relação ou conexão existente entre Sua Palavra e aqueles que foram por ela criados? O versículo: "Deus adverte que vos acauteleis d'Ele Mesmo" (2) dá evidência inequívoca da realidade de Nosso argumento, e as palavras: "Deus estava só; ninguém havia além d'Ele" são um testemunho seguro de sua verdade. Todos os Profetas de Deus e Seus Eleitos, todos os sacerdotes, eruditos e sábios de toda geração reconhecem unanimemente sua própria incapacidade de atingir à compreensão daquela Quinta-Essência de toda a verdade, e se confessam impotentes para abranger Aquele que é a mais íntima Realidade de todas as coisas.
Estando a porta do conhecimento do Ancião dos Dias assim fechada ante a face de todos os seres, determinou Aquele Que é a Fonte da graça infinita – segundo Suas palavras: "Sua graça transcendeu todas as coisas; Minha graça abarcou a todos" – que aparecessem do reino do espírito, aquelas luminosas Jóias da Santidade na nobre forma do templo humano, manifestando-se a todos os homens, para que dessem ao mundo o conhecimento dos mistérios do Ser imutável e relatassem as sutilezas de Sua Essência imperecedoura. Esses Espelhos santificados, essas Auroras da glória antiga, são – cada um e todos – os Expoentes na terra d'Aquele Que é o Orbe central do universo, sua Essência e seu Propósito final. D'Ele recebem o conhecimento e o poder; d'Ele derivam a soberania. A formosura que lhes adorna o semblante é apenas um reflexo de Sua imagem e o que revelam, um sinal de Sua glória imorredoura. São os Tesouros do conhecimento divino e os Repositórios da sabedoria celestial. Por eles é transmitida uma graça que é infinita, e revelada a luz que jamais se esvairá. Assim mesmo como Ele disse: "Não há distinção alguma entre Ti e Eles, exceto que Eles são Teus servos e criados por Ti." Eis o que significa a tradição: "Eu sou Ele, Ele mesmo, e Ele Eu, Eu mesmo."
Diversas e numerosas são as tradições e as asserções que se referem diretamente ao Nosso tema; deixamos de citá-las por motivo de brevidade. Ainda mais, qualquer coisa que esteja nos céus e qualquer coisa que esteja sobre a terra, é evidência direta da revelação, no seu imo, dos atributos e nomes de Deus, já que dentro de cada átomo estão encerrados os sinais que dão eloqüente testemunho da revelação daquela mais grandiosa Luz. Se não fosse a potência dessa revelação, jamais poderia existir, parece-me, ser algum. Como são resplandecentes os luminares de conhecimento que brilham num átomo e vastos os oceanos de sabedoria que se encapelam dentro de uma gota! Em grau supremo é isso verdade no caso do homem, pois ele dentre todas as coisas criadas, foi adornado com as vestes desses dons e só a ele se concedeu a glória de tal distinção. Todos os atributos e nomes de Deus nele se revelam, potencialmente, num grau mais excedido por qualquer outro ser criado. Todos esses nomes e atributos lhe são aplicáveis. Assim mesmo como Ele disse: "O homem é Meu mistério, e Eu sou seu mistério." Numerosos e variados são os versículos revelados, repetidamente, em todos os Livros celestiais e nas Sagradas Escrituras, que tratam desse tema, o mais sutil e elevado. Assim mesmo como Ele revelou: "Nós seguramente mostrar-lhes-emos os Nossos sinais no mundo e dentro deles mesmos." (3) E diz Ele ainda: "E também dentro de vós mesmos: não quereis então ver os sinais de Deus?" (4) E ainda outra vez Ele revela: "E não sejais semelhantes àqueles que se esquecem de Deus e a quem Ele, por isso, fez esquecerem-se de si mesmos." (5) Com referência a isso, Aquele que é o Rei eterno – que as almas de todos os que habitam no Tabernáculo místico Lhe sejam oferecidas em holocausto – disse: "Quem tiver conhecido a si próprio, terá conhecido a Deus."
Deus é Minha testemunha, ó estimado e honrado amigo! Se ponderasses no coração estas palavras, haverias certamente de encontrar as portas da sabedoria divina e do infinito conhecimento abertas de par em par, ante a tua face.
Do que se tem dito, torna-se claro que todas as coisas, em sua mais íntima realidade, evidenciam a revelação dos nomes e atributos de Deus dentro de si mesmas. Cada uma, de acordo com sua capacidade, indica e expressa o conhecimento de Deus. Esta revelação é tão potente e tão universal que abrangeu todas as coisas, visíveis e invisíveis. Assim Ele revelou: "Possui alguma coisa além de Ti um poder de revelação por Ti não possuído, de modo que ela Te possa ter manifestado? Cegos são os olhos que não Te percebem." De igual modo falou o Rei eterno: "Nenhuma coisa tenho percebido, sem que eu percebesse Deus dentro dela, Deus antes dela, ou Deus depois dela." Também na tradição de Kumayl está escrito: "Eis aí, resplandeceu uma luz na Manhã da eternidade, e ei-la! suas ondas penetraram a mais íntima realidade de todos os homens." O homem – de todas as coisas criadas, a mais nobre e perfeita – excede a todas na intensidade desta revelação e é uma expressão mais completa de sua glória. E dentre todos os homens, os mais perfeitos, os que mais se distinguem, os excelsos, são os Manifestantes do Sol da Verdade. Ainda mais, todos os outros, além dos Manifestantes, vivem pela operação da Vontade deles, existem e movem-se através das emanações de sua graça. "Se não fosses Tu, Eu não teria criado os céus." Mais que isto, todos em sua santa presença se esvaem, se tornam simplesmente nada, uma coisa esquecida. Língua humana jamais poderá cantar, de um modo digno, os seus louvores, nem as palavras humanas terão o poder de desvendar seu mistério. Estes Tabernáculos de santidade, estes Espelhos primazes que refletem a luz da glória perene, são apenas expressões d'Aquele que é o Invisível dos Invisíveis. Pela revelação destas Jóias de virtude divina, manifestam-se todos os nomes e atributos de Deus, tais como poder e conhecimento, majestade e domínio, misericórdia e sabedoria, glória, generosidade e clemência.
Estes atributos de Deus não são e nunca foram concedidos especialmente a certos Profetas e negados a outros. Não, todos os Profetas de Deus, Seus favorecidos, santos e escolhidos Mensageiros, são, sem exceção, os portadores de Seus nomes e incorporam Seus atributos. Diferem somente na intensidade de suas revelações, na potência comparativa de sua luz. Assim mesmo como Ele revelou: "A alguns dos Apóstolos Nós fizemos exceder a outros." (6) Está, pois, claro e evidente que, dentro dos tabernáculos destes Profetas e Eleitos de Deus se reflete a luz dos Seus nomes infinitos e atributos excelsos, ainda que a luz de alguns destes atributos talvez não seja revelada por estes Templos luminosos, exteriormente, aos olhos dos homens. Por não haverem estas Essências do Desprendimento manifestado, aparentemente, certo atributo de Deus, não se deve inferir, em absoluto, que estas Auroras de Seus atributos, os Tesouros de Seus santos nomes, realmente não o tivessem possuído. Assim, pois, todas estas Almas iluminadas, estes belos Semblantes, foram dotados de todos os atributos de Deus, tais como a soberania, o domínio, e outros semelhantes, embora fossem, aparentemente, privados de toda majestade terrena. Aos olhos que discernem, isto é evidente e manifesto; não exige argumento ou prova.
Sim, já que os povos do mundo não se dirigiram às Fontes luminosas, cristalinas, do conhecimento divino, em busca do sentido interior das santas palavras de Deus, por isso languesceram, aflitos e sequiosos no vale da vã fantasia e da desobediência. Desviaram-se muito das águas frescas que aliviam a sede e juntaram-se ao redor do sal que arde amargamente. Referindo-se a eles, disse o Pombo da Eternidade: "E se virem o caminho da retidão, não o tomarão para seu caminho; mas se virem o caminho do erro, para si o tomarão. E isso porque consideraram mentiras os Nossos sinais e os desprezaram." (7)
Isso é testificado por aquilo que se já viu nesta Era maravilhosa e sublime. Miríades de sagrados versículos desceram do céu do poder e da graça, mas ninguém para eles se voltou, tampouco pessoa alguma deixou de se prender àquelas palavras dos homens, das quais nenhuma letra é compreendida por aqueles que as pronunciaram. Por esta razão tem o povo duvidado das verdades incontestáveis, tais como estas, e se privado do Ridván do conhecimento divino e dos prados eternos da sabedoria celestial.
E agora, voltando a Nosso argumento relativo à seguinte pergunta: Como é que a soberania do Qá'im, afirmada no texto das tradições registradas e transmitida pelas estrelas brilhantes da Era Maometana, nem no mínimo grau, se manifestou? De fato, sucedeu o contrário. Não foram Seus discípulos e companheiros afligidos pelos homens? Não são eles ainda as vítimas da violenta oposição de seus inimigos? Não levam hoje a vida de mortais rebaixados e sem poder? Sim, a soberania atribuída ao Qá'im e mencionada nas Escrituras, é um fato, a verdade do qual ninguém pode duvidar. Essa soberania, porém, não é aquela que as mentes dos homens têm, falsamente, imaginado. Além disso, os Profetas da antiguidade – todos sem exceção – sempre que anunciavam ao povo de seu tempo o advento da Revelação vindoura, referiam-se invariável e especificamente àquela soberania da qual o prometido Manifestante haveria de ser investido. As Escrituras do passado atestam isso. Essa soberania não foi atribuída única e exclusivamente ao Qá'im. Não, o atributo da soberania e todos os outros nomes e qualidades de Deus sempre foram e serão concedidos a todos os Seus Manifestantes, antes d'Ele, e também depois, visto que estes Manifestantes, como já foi explicado, incorporam os atributos de Deus, o Invisível, e são os Reveladores dos mistérios divinos.
Além disso, por soberania se entende o poder que a tudo abarca, a tudo penetra, e que é exercido inerentemente pelo Qá'im, quer apareça ao mundo ou não, adornado com a majestade do domínio terreno. Depende isso, tão somente, da vontade e do beneplácito do próprio Qá'im. Reconhecereis prontamente que os termos soberania, riqueza, vida, morte, juízo e ressurreição, mencionados nas Escrituras do passado, não são o que essa geração concede e futilmente imagina. Não, por soberania se quer dizer aquela soberania que em cada era reside dentro da pessoa do Manifestante – o Sol da Verdade – e é por Ele exercida. Tal soberania é a ascendência espiritual que Ele exerce no máximo grau, sobre tudo o que está no céu e na terra, soberania essa que, no devido tempo, se revela ao mundo em proporção direta à sua capacidade e receptividade espiritual, assim como a soberania de Maomé, o Mensageiro de Deus, está hoje evidente e manifesta entre o povo. Bem sabeis o que aconteceu à Sua Fé nos primeiros dias de Sua Era. Que sofrimentos lastimáveis infligiu a mão dos infiéis e errados – os sacerdotes daquela era e seus seguidores – àquela Essência espiritual, àquele puríssimo e santo Ser! Quão abundantes os espinhos que Lhe espargiram no caminho! Evidentemente, aquela geração vil, em sua fantasia perversa e satânica, pensava que toda ofensa àquele Ser imortal fosse um meio de atingir uma felicidade imperecível; desde que os reconhecidos sacerdotes daquela era, tais como 'Abdu'lláh-i-Ubayy, Abú'Ámir, o eremita, Ka'b-Ibn-i-Ashraf, e Nadr-Ibn-i-Hárith, todos, O trataram como impostor e O pronunciaram um lunático e caluniador. Fizeram contra Ele tão penosas acusações que, ao querermos relatá-las, Deus proíbe que a tinta corra, que Nossa pena se mova, ou a página as suporte. Essas imputações maliciosas provocaram o povo a levantar-se e atormentá-Lo. E quão feroz é esse tormento quando os sacerdotes do tempo são os instigadores principais, quando estes O denunciam a seus adeptos, O expulsam do seu meio e O declaram um ímpio! Não sucedeu o mesmo a este Servo, e não foi testemunhado por todos?
Por esta razão Maomé exclamou: "Nenhum Profeta de Deus sofreu tanta injúria quanto Eu tenho sofrido." E no Alcorão estão registradas todas as calúnias e repreensões pronunciadas contra Ele, como também todas as aflições que sofreu. Procurai este Livro, a fim de que possais, talvez, vos informar daquilo que aconteceu à Sua Revelação. Tão aflitiva era Sua situação que, por algum tempo, todos deixaram de ter contato com Ele e Seus companheiros. Qualquer um que a Ele se associasse caía vítima da implacável crueldade de Seus inimigos.
Sobre esse ponto citaremos apenas um versículo daquele Livro. Se o observares com olhos discernentes, lamentarás e deplorarás, durante todos os dias restantes de tua vida, a injúria a Maomé, àquele tão ultrajado e oprimido Mensageiro de Deus. Revelou-se esse versículo num tempo em que Maomé languescia, fatigado e aflito sob o peso da oposição e do tormento incessante por parte do povo. Em meio à Sua angústia, a Voz de Gabriel, chamando do Sadratu'l-Muntahá, fez-se ouvir, dizendo: "Mas se sua oposição Te for penosa – se puderes, busca uma abertura para dentro da terra, ou uma escada para o céu." (8) Estas palavras significaram que Seu caso não tinha remédio, que d'Ele o povo não haveria de deter as mãos, a não ser que Ele se escondesse nas profundezas da terra ou alçasse vôo para o céu.
Considera tu, como é grande a transformação, hoje! Vê quantos soberanos se ajoelham ante Seu Nome! Quão numerosos os povos e reinos que têm buscado abrigo à Sua sombra, que prestam lealdade à Sua Fé, e disso se orgulham! Do alto do púlpito ascendem hoje as palavras de louvor que, em completa humildade, glorificam Seu Nome abençoado; e das alturas dos minaretes ressoa o chamado que convoca a assembléia de Seu povo a adorá-Lo. Até aqueles reis da terra que recusaram abraçar Sua Fé e tirar as vestes da descrença, confessam, no entanto, e reconhecem a grandeza e a inexcedível majestade daquele Sol de benevolência. Tal é Sua soberania terrena, da qual tu vês, de todos os lados, as evidências. Essa soberania há forçosamente de ser revelada e estabelecida, quer seja durante a vida de cada Manifestante de Deus, quer depois de haver Ele ascendido à Sua verdadeira morada nos domínios do além. O que hoje vês é apenas uma confirmação desta verdade. A ascendência espiritual, porém, à qual se queria referir, primeiramente, reside dentro d'Eles e a Seu redor se move, de eternidade à eternidade. D'Eles nem por um momento sequer, pode ser divorciada. Seu domínio abrange tudo o que está no céu e na terra.
O seguinte comprova a soberania exercida por Maomé, o Sol da Verdade. Não ouviste dizer que Ele, com um simples versículo, separou a luz da escuridão, os retos dos ímpios, e os fiéis dos infiéis? Todos os sinais e alusões no tocante ao Dia do Juízo, os quais já ouviste, tais como a ressurreição dos mortos, o Dia do Julgamento, o Juízo Final e outros, tornaram-se manifestos, ao ser revelado esse versículo. Essas palavras reveladas foram uma bênção para os justos, que, ao ouvi-las, exclamaram: "Ó Deus, nosso Senhor, ouvimos e obedecemos." Foram uma maldição para o povo da iniqüidade, o qual, ao ouvi-las, afirmou: "Ouvimos e nos rebelamos." Essas palavras, aguçadas como a espada de Deus, separaram os fiéis dos infiéis, e apartaram do pai o filho. Já viste, seguramente, como aqueles que n'Ele confessaram sua fé e aqueles que O rejeitaram, guerrearam entre si e ambicionaram a propriedade uns dos outros. Quantos pais se alienaram dos filhos; quantos que amavam abandonaram o objeto de seu amor! Tão implacavelmente cortante foi essa maravilhosa espada de Deus, que rompeu todo laço! Por outro lado, que consideres o poder de unir que Sua Palavra exerce. Observa como aqueles em cujo meio o satã do ego desde anos lançara as sementes da malícia e do ódio, atingiram tal harmonia e união, através de sua lealdade a essa maravilhosa Revelação, que pareciam haver nascido do mesmo ventre. Tal é a força unificadora da Palavra de Deus, que liga os corações daqueles que renunciaram tudo, salvo a Ele, acreditaram em Seus sinais e beberam do Kawthar da santa graça de Deus, oferecido pela Mão da glória. Além disso, como são numerosos aqueles povos, de crenças diversas, de credos contraditórios e temperamentos opostos, que, através da fragrância ressuscitadora da Primavera Divina, emanada do Ridván de Deus, se adornaram com as novas vestes da Unidade divina e sorveram do cálix de Sua unicidade!
Isso é o que significam as conhecidas palavras: "O lobo e o carneiro pastarão juntos." (9) Vede a ignorância e a insensatez daqueles que, semelhantes às nações antigas, esperam ainda ver o tempo em que esses animais se apascentem na mesma pastagem! Tão obscurecido é seu estado. Nunca, parece-me, seus lábios tocaram o cálice da compreensão, nem seus pés trilharam o caminho da justiça. Além disso, de que proveito seria ao mundo, se sucedesse tal coisa? Bem disse Ele a seu respeito: "Corações eles os têm, com os quais não compreendem, e olhos, com os quais não vêem!" (10)
Considerai: só com este versículo que emanou do céu da Vontade de Deus, o mundo e tudo o que nele existe foi chamado para Lhe prestar contas. De todo aquele que confessou Sua verdade e para Ele se volveu, as boas ações foram consideradas como excedentes às más e todos os pecados lhe foram remidos e perdoados. Assim se torna manifesta a verdade destas palavras a Ele referentes: "Veloz é Ele em julgar." Assim Deus transforma a iniqüidade em retidão – fosseis vós explorar os reinos do conhecimento divino e sondar os mistérios de Sua sabedoria. Semelhantemente, qualquer um que participasse do cálix do amor, obteve seu quinhão do oceano da graça eterna na vida de fé – vida celestial e sempiterna. Quem rejeitou esse cálix, porém, foi condenado à morte eterna. Pelos termos "vida" e "morte" mencionados nas Escrituras, entende-se a vida de fé e a morte que é a descrença. O povo em geral, não podendo compreender o sentido destas palavras, rejeitou e desprezou a pessoa do Manifestante, privando-se da luz de Sua orientação divina e recusando seguir o exemplo daquela Beleza imortal.
Quando a luz da Revelação Alcoranista se acendeu no recesso do santo coração de Maomé, Ele pronunciou sobre o povo a sentença do Último Dia, a sentença da ressurreição, do juízo, da vida e da morte. Com isso se levantaram os estandartes da revolta e as portas do escárneo abriram-se. Assim Ele, o Espírito de Deus, registrou as palavras dos infiéis: "E se disseres: - Após a morte vós, seguramente, sereis ressuscitados -, os infiéis por certo exclamarão: - Isso nada mais é que magia manifesta. –" (11) Diz Ele outra vez: "Se tu alguma vez admirares, admiráveis são, de certo, as palavras deles: - Como! Depois de sermos reduzidos a pó, seremos restaurados em uma nova criação? –" (12) Assim exclama Ele, com ira, em outra passagem: "Estamos Nós fatigados com a primeira criação? Eles, no entanto, têm dúvida sobre uma criação nova!" (13)
Por haverem os comentadores do Alcorão e aqueles que o seguem à letra, interpretado erradamente o sentido interior das palavras de Deus, e por não terem podido perceber seu propósito essencial, tentaram demonstrar que, segundo as regras gramaticais, quando o termo "idhá" (que significa "se" ou "quando") precede o tempo passado, se refere invariavelmente ao futuro. Mais tarde ficaram seriamente embaraçados ao tentarem explicar aqueles versículos do Livro em que esse termo não aparece. Assim mesmo como Ele revelou: "E houve um som de trombeta – Oh! É o Dia que ameaçava nos sobrevir! E cada alma é chamada para o julgamento – e com ela um impulsor e uma testemunha." (14) Ao explicarem este versículo e outros semelhantes, sustentaram em alguns casos que se devia inferir o termo "idhá". Em outros casos, eles argüiram futilmente que, por ser inevitável o Dia do Juízo, se referia a ele como sendo um acontecimento passado em vez de futuro. Que vãos seus sofismas! E lastimável sua cegueira! Recusam-se a reconhecer o som de trombeta que se fez ouvir tão explicitamente nesse texto, através da revelação de Maomé. Privam-se do Divino Espírito regenerador que nele soprou e estultamente esperam ouvir o som de trombeta do Serafim de Deus, daquele que é apenas um de Seus servos! Pelas próprias palavras de Maomé, não foi ordenado mesmo ao Serafim, o anjo do Dia do Juízo, bem como aos outros que lhe eram semelhantes? Dize: Como! Quereis dar aquilo que é para vosso bem em troca daquilo que é mau? Desprezível é aquilo que vós falsamente trocastes! Certamente, sois um povo mau, que sofreu uma perda lastimável.
Não, "trombeta" significa o toque de trombeta que foi a Revelação de Maomé, soando no coração do universo, e a "ressurreição" quer dizer Seu próprio aparecimento com o fim de proclamar a Causa de Deus. Ele ordenou aos iníquos e refratários que se levantassem e se apressassem para sair dos sepulcros que eram seus corpos; Ele os adornou com as belas vestes da fé e os ressuscitou com o alento de uma vida nova e maravilhosa. Assim na hora em que Maomé, aquele Ser de beleza divina, intentou desvendar um dos mistérios ocultos nos termos simbólicos "ressurreição", "juízo", "paraíso" e "inferno", ouviu-se Gabriel, a Voz da Inspiração, dizer: "Breve sacudirão eles as cabeças perante Ti, dizendo: - Quando será isso? – Dize: - Talvez esteja próximo. –" (15) As inferências a serem tiradas só deste versículo seriam suficientes para os povos do mundo, se o ponderassem nos corações.
Deus bondoso! Quanto esse povo se desviou do caminho de Deus! Embora o Dia da Ressurreição tivesse amanhecido através da Revelação de Maomé e Sua luz e Seus sinais tivessem cingido a terra e tudo o que nela está, esse povo, não obstante, d'Ele zombou, submeteu-se àqueles ídolos que os sacerdotes do tempo, em sua vã e fútil fantasia, haviam concebido, e se privou da luz da graça celestial e dos copiosos favores divinos. Sim, o besouro vil nunca poderá perceber a fragrância da santidade, nem o morcego das trevas encarar jamais o esplendor do sol.
Tais coisas têm sucedido nos dias de cada um dos Manifestantes de Deus. Assim como disse Jesus: "Importa-vos nascer outra vez." (16) E ainda: "Quem não renascer da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito." (16-A) O intuito destas palavras é que, em cada era, quem nasce do Espírito e se vivifica pelo alento do Manifestante da Santidade, é, em verdade, dos que atingiram a "vida" e a "ressurreição", e entraram no "paraíso" do amor de Deus. E quem quer que não seja desses, é condenado à "morte" e "privação", ao "fogo" da descrença e à "ira" de Deus. Em todos os livros, em todas as Escrituras e crônicas, a sentença de morte, de fogo, de cegueira, de falta de compreensão e de surdez, foi pronunciada contra aqueles cujos lábios não provaram a taça etérea do verdadeiro conhecimento e cujos corações foram privados da graça do Espírito Santo em seu tempo. Assim mesmo como foi anteriormente registrado: "Corações eles os têm, com os quais não compreendem." (16-B)
Em outra passagem do Evangelho está escrito: "E aconteceu que, certo dia, morrera o pai de um dos discípulos de Jesus. Esse discípulo, relatando a Jesus a morte do pai, pediu que lhe fosse permitido ir enterrá-lo. Com isso respondeu Jesus, aquela Essência do Desprendimento, dizendo: "Deixa que os mortos enterrem os seus mortos." (16-C)
De modo semelhante, foram a 'Alí, Comandante dos Fiéis, dois homens de Kúfih. Um possuía uma casa e desejava vendê-la; o outro seria o comprador. Haviam combinado que se realizasse a transação e escrevesse o contrato com o conhecimento de 'Alí. Este, o expoente da lei de Deus, dirigindo-se ao escrivão, disse: "Escreve: - Um morto comprou de outro morto uma casa. Essa casa está demarcada por quatro limites. Um se estende em direção ao túmulo, outro para o arco do sepulcro, o terceiro para o Sirát, e o quarto limite, ou para o Paraíso, ou para o inferno. –" Reflete: se essas duas almas tivessem sido ressuscitadas pelo toque de trombeta de 'Alí, e, através do poder de Seu amor se tivessem levantado do sepulcro do erro, não se haveria pronunciado contra elas, certamente, a sentença de morte.
Em cada era e século, os Profetas de Deus e Seus eleitos não tiveram outro objetivo senão o de afirmar o sentido espiritual dos termos "vida", "ressurreição" e "juízo". Se se ponderar no coração, apenas por pouco tempo, essa afirmação de 'Alí, se haverá, seguramente, de descobrir todos os mistérios ocultos nos termos "túmulo", "sepulcro", "sirát", "paraíso", e "inferno". Mas oh! que estranho e lastimável! Vê, todo o povo está aprisionado dentro do túmulo do ego e jaz enterrado nas ínfimas profundezas do desejo mundano! Fosse tu atingir uma simples gota de orvalho das águas cristalinas do conhecimento divino, haverias de compreender, prontamente, que a vida verdadeira não é a vida da carne, mas sim, a do espírito. Pois a vida da carne é comum aos homens e animais, enquanto que a do espírito é possuída somente pelos puros de coração, por aqueles que sorveram do oceano da fé e participaram do fruto da certeza. Essa vida não conhece morte alguma; essa existência é coroada pela imortalidade. Assim mesmo como se disse: "Quem é um crente verdadeiro, vive em ambos os mundos, neste e no vindouro." Se por "vida" se entende a vida terrena, evidentemente, a morte há de alcançá-la.
Outrossim, todas as Escrituras dão testemunho desta verdade sublime, desta palavra excelsa. Além disso, este versículo do Alcorão, revelado a respeito de Hamzih, "Príncipe dos Mártires" (17) , e Abú-Jahl, é evidência luminosa e prova segura, da verdade de Nossas palavras: "Deverá o morto, que Nós temos vivificado e para quem ordenamos uma luz pela qual pudesse andar entre os homens, ser igual àquele cuja semelhança está na escuridão, donde ele não quer sair?" (17-A) Este versículo baixou do céu da Vontade Primaz, num tempo em que Hamzih já vestira o sagrado manto da fé e Abú-Jahl se tornara implacável em sua oposição e descrença. Do Manancial da onipotência e da Fonte da santidade eterna, veio o juízo que conferiu a Hamzih a vida eterna e condenou Abú-Jahl a castigo perpétuo. Foi isso o sinal que fez arderem os fogos da descrença com a mais intensa chama no coração dos infiéis, e os instigou a repudiar abertamente Sua verdade. Clamaram em altas vozes: "Quando foi que Hamzih morreu? Quando ressuscitou? A que hora se lhe concedeu tal vida?" Por que não compreenderam o sentido dessas nobres palavras, nem procuraram ser esclarecidos pelos autorizados expositores da Fé – para que estes lhes pudessem conceder umas gotas do Kawthar do conhecimento divino – por isso, se acenderam tais fogos daninhos entre os homens.
Tu vês hoje como, apesar do radiante esplendor do Sol do conhecimento, todos os homens, sejam de alto grau ou humildes, se prendem aos caminhos daquelas desprezíveis manifestações do Príncipe da Treva, a elas recorrendo continuamente para que sejam auxiliados no desenredar dos pontos intrincados de sua Fé, e delas recebendo, por falta de conhecimento, somente respostas que de modo algum lhes possam prejudicar a fama e fortuna. É claro que aquelas almas, vis e miseráveis como o próprio besouro, nenhum quinhão tiveram na brisa almiscarada da eternidade e nunca entraram no Ridván do deleite celestial. Como, pois, podem conceder aos outros a imperecível fragrância da santidade? Tal é seu modo e assim continuará sendo para sempre. Só atingirá o conhecimento da Palavra de Deus, quem a Ele se tiver dirigido, repudiando as manifestações de Satanás. Assim Deus reafirmou a lei do dia de Sua Revelação e a inscreveu com a pena do poder sobre a Epístola mística, encoberta pelo véu da glória celestial. Se atentasses para essas palavras, se ponderasses no coração seu sentido exterior bem como o interior, compreenderias o que significam todos os problemas obscuros que, neste dia, se tornaram barreiras insuperáveis entre os homens e o conhecimento do Dia do Juízo. Não mais, então, terás perguntas para te confundir. Esperemos que, permitindo-o Deus, tu não regresses privado e sequioso ainda, da orla do oceano da graça divina, nem destituído voltes do Santuário imperecível almejado pelo teu coração. Que seja visto agora o resultado de tua busca e de teus esforços.
Esse é um dos exemplos a que nos referimos. Em verdade, "perverter" o texto não significa o que aquelas pessoas néscias e desprezíveis imaginam, assim como alguns alegam haverem sacerdotes judaicos e cristãos apagado do Livro quais

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