O Livro da Certeza. Kitáb-i-Íqán é o termo persa para O Livro da Certeza. Como o título indica, este livro é a palavra criadora de Deus

. Foi revelado em 1862, em dois dias e duas noites, quando Bahá'u'lláh estava exilado, e anterior ao tempo em que Ele declarou publicamente Sua própria missão. A revelação deste livro cumpriu uma profecia do Báb, Precursor de Bahá'u'lláh. Em essência, esta obra é uma finalização do livro do Báb, O Bayán, e constitui uma prova do grau divino daquele jovem Arauto da Fé Bahá'í que foi martirizado em Tabríz em 1850 – acontecimento este que comoveu o Oriente, bem como a muitas pessoas ponderadas em toda a Europa durante as décadas subseqüentes.
O livro verifica o grau, também, e a missão, de cada um dos Fundadores das religiões reveladas do mundo e afirma a unidade de Seus ensinamentos. Abraão, Moisés, Cristo, Maomé são alguns dos Reveladores da Lei Divina das Eras passadas, sendo-Lhes confiadas a educação moral da humanidade. Sua sucessão é um drama cósmico que desvela o desígnio do universo. Suas Mensagens têm apresentado progressivamente o padrão da sociedade, sua verdadeira história e seu verdadeiro destino. Têm liberado o espírito coletivo que, de época em época, de Era em Era, reanima as almas dos homens, dando à vida diária sentido e propósito.

Graças a esses Manifestantes de Deus, tem a civilização progredido até alcançar novas alturas, levando um povo inteiro a uma percepção em harmonia com o tempo em que vive.
Kitáb-i-Íqán é o termo persa para O Livro da Certeza. Como o título indica, este livro é a palavra criadora de Deus
Na primavera e no prolongado verão das brilhantes estações dessas Eras passadas – para o Israel, a cristandade ou nos tempos tranqüilos do islã – a religião penetrava a atmosfera e comandava os temperamentos ou os talentos de todo tipo de homem. O denominador comum, a mais persistente característica dessas culturas distintivas tem sido o senso de dependência de Deus – o Impulsor de todas as coisas.

Aquele que busca a verdade é mais esclarecido pelas exposições que Bahá'u'lláh lhe apresenta de muitas das passagens alegóricas e abstrusas encontradas nas escrituras judaicas, cristãs e muçulmanas, que vêm de longa data confundindo e deturpando o caráter progressivo, evolutivo da Revelação.

Hoje as Palavras de Bahá'u'lláh são um chamado universal para se reconhecer mais uma vez a nova Primava Espiritual. Implica o abandono de todo preconceito e toda limitação que se baseia em padrões ancestrais – orgulho de raça, nacionalismo militante, guerra hereditária, sectarismo religioso e tudo mais que possa impedir a humanidade de erguer aquele Reino de Deus na terra, há tanto prometido – uma ordem mundial pacífica, com justiça para todos.

PRIMEIRA PARTE

EM NOME DE NOSSO SENHOR,
O EXCELSO, O ALTÍSSIMO

Homem algum haverá de alcançar a orla do oceano da verdadeira compreensão, a menos que se desprenda de tudo o que existe no céu e na terra. Santificai vossas almas, Ó vós povos do mundo, para que atinjais, porventura, o grau de elevação que Deus vos destinou, e assim possais entrar no tabernáculo que, segundo ordenou a Providência, foi erigido no firmamento do Bayán.

A essência dessas palavras é: os que trilham no caminho da fé, os que têm sede do vinho da certeza, devem purificar-se de tudo o que é terreno – os ouvidos devem eles purificar de palavras fúteis, as mentes de vãs fantasias, os corações do apego às coisas do mundo, os olhos daquilo que perece. Em Deus devem por a confiança e, n'Ele se apoiando, prosseguir em Seu caminho. Então se tornarão dignos das refulgentes glórias do sol da compreensão e sabedoria divinas e receberão uma graça que é infinita e invisível, desde que o homem não pode esperar jamais atingir o conhecimento do Todo-Glorioso, jamais sorver da corrente da sabedoria divina, jamais entrar na morada eterna, nem participar do cálice da presença e favores divinos, sem que ele antes deixe de considerar as palavras e os atos dos homens mortais como padrões para o reconhecimento e a verdadeira compreensão de Deus e Seus Profetas.
Considerai o passado. Que grande número de homens – fossem de alto grau ou humildes – em todos os tempos, têm esperado ansiosamente o advento dos Manifestantes de Deus nas pessoas santificadas de Seus Eleitos. Quantas vezes têm eles aguardado Sua vinda; quantas vezes orado para que soprasse a brisa da misericórdia divina; para que a prometida Beleza surgisse do véu que a ocultava e se revelasse ao mundo inteiro. E sempre que se abriam os portais da graça, sempre que as nuvens da bondade divina concediam suas chuvas à humanidade e a luz do Invisível brilhava sobre o horizonte do poder celestial, todos O negavam e se afastavam de Seu semblante – semblante esse do próprio Deus. Para provardes esta verdade, examinai o que foi relatado em cada um dos Livros Sagrados.
Ponderai por um momento e refleti sobre aquilo que deu origem a essa negação da parte dos que buscaram tão sinceramente e com tanto anelo. De tal violência foi seu ataque, que nem língua nem pena o pode descrever.
Não apareceu até agora nenhum Manifestante da Santidade sem que fosse alvo de negação, repúdio e veemente oposição da parte do povo a Seu redor. Assim foi revelado: "Oh! a miséria dos homens! Não lhes vem Mensageiro algum, que não seja objeto de seu escárnio". (1) Diz Ele ainda: "Cada nação tem tramado sinistramente contra seu Mensageiro, querendo prendê-lo com violência e disputar, com palavras vãs, a fim de invalidar a verdade". (2)
De modo semelhante, as palavras que emanaram da fonte do poder e desceram do céu da glória são inumeráveis e além da compreensão humana comum. Para aqueles que possuem verdadeira compreensão e perspicácia, basta, certamente, o Súrah de Húd. Ponderai no coração, por algum tempo, aquelas santas palavras e, com desprendimento absoluto, esforçai-vos a fim de compreender o que significam. Examinai a conduta admirável dos Profetas e recordai as recusas e difamações pronunciadas pelos filhos da negação e da falsidade; talvez possais fazer com que o coração humano, semelhante ao pássaro, consiga alçar seu vôo para além das moradas da negligência e da dúvida, até o ninho da fé e da certeza, e sorver profundamente as águas puras da sabedoria antiga, e participar do fruto da árvore do conhecimento divino. Tal é a parte que cabe aos puros de coração, daquele pão que desceu dos domínios eternos da santidade.
Se vos informardes das ofensas amontoadas sobre os Profetas de Deus e vierdes a compreender as verdadeiras causas das objeções expressas pelos seus opressores, apreciareis, seguramente, o que significa sua posição. Além disso, quanto mais atentamente observardes as negações dos que fizeram oposição aos Manifestantes dos atributos divinos, mais firme se tornará a vossa fé na Causa de Deus. Faremos nesta Epístola, pois, breve menção das diversas narrações relativas aos Profetas de Deus, para que estas demonstrem o fato de que os Manifestantes de poder e glória têm estado sujeitos, em todas as épocas e todos os séculos, a crueldades tão atrozes que pena alguma ousa descrevê-las. Isso talvez possa fazer com que alguns deixem de se perturbar com os clamores e protestos dos sacerdotes e insensatos desta época e fortaleçam sua confiança e sua certeza.
Entre os Profetas houve Noé. Durante novecentos e cinqüenta anos exortou Ele Seu povo, com fervorosas orações, convidando-o para o refúgio da paz e da segurança. Pessoa alguma, porém, atendeu ao Seu apelo. Cada dia infligiam a esse abençoado Ser tais sofrimentos e dores que ninguém achava possível Ele sobreviver. Quantas vezes O negavam! Com que malevolência sussurravam sua suspeita contra Ele! Assim foi revelado: "E quantas vezes se aproximavam d'Ele alguns dentre Seu povo, tantas vezes O escarneciam. Disse-lhes Ele: "Embora de nós zombeis agora, nós zombaremos de vós mais tarde, do mesmo modo que de nós zombais. No fim sabereis." (3) Subseqüentemente, em várias ocasiões, Ele prometeu vitória a Seus companheiros, fixando até a hora, mas quando esta soou, a promessa divina não se cumpriu. Por causa disso, alguns dentre o pequeno número de Seus discípulos se afastaram d'Ele, como o testificam os livros mais conhecidos. Estes, certamente, vós os deveis ter examinado, ou se não, havereis de fazer isso, sem dúvida. E, por fim, segundo consta dos livros e das tradições, ficaram com Ele apenas quarenta, ou setenta e dois de Seus discípulos. Exclamou Ele finalmente, do âmago de Seu ser: "Senhor: Não deixes sobre a terra nem sequer um só habitante dentre os incrédulos." (4)
E agora considerai e refleti, por um momento, sobre a perversidade desse povo. Qual teria sido o motivo de tal negação e afastamento de sua parte? Que os teria induzido a recusar a despirem-se das vestes da negação e adornarem-se com o manto da aceitação? Além disso, que poderia ter causado o não-cumprimento da promessa divina e em conseqüência, a rejeição da parte dos discípulos, daquilo que já haviam aceito? Meditai profundamente, para que se vos revele o segredo das coisas invisíveis e assim possais inalar a doçura de uma fragrância espiritual e imperecível e reconhecer o fato de que o Onipotente sempre prova Seus servos, desde os tempos imemoriais, e por toda a eternidade continuará a prová-los, a fim de que a luz se distinga das trevas, a verdade se diferencie da falsidade, o certo do errado, o esclarecimento do engano, a felicidade da desventura, e as rosas se distingam dos espinhos. Assim mesmo como Ele revelou: "Pensam os homens, ao dizerem – Nós acreditamos – que serão deixados em paz sem serem submetidos à prova?" (5)
E após Noé, a luz do semblante de Húd brilhou sobre o horizonte da criação. Por quase setecentos anos, segundo dizem os homens, Ele exortou o povo a voltar-Lhe as faces e aproximar-se do Ridván da Presença Divina. Que chuva de aflições caiu sobre Ele, até que, afinal, Suas adjurações deram como fruto uma rebeldia crescente, e Seus assíduos esforços não resultaram senão na obstinada cegueira de Seu povo. "E para os faltos de fé, sua descrença apenas lhes aumentará a própria perdição." (5-a)
E depois d'Ele, apareceu do Ridván do Eterno, do Invisível, a sagrada pessoa de Sálih, por quem, mais uma vez, o povo foi chamado para o rio da vida imortal. Durante mais de cem anos, Ele os admoestou para que permanecessem fiéis aos mandamentos de Deus e evitassem aquilo que era proibido. Infrutíferas, porém, foram Suas admoestações; em vão, Seu apelo. Por diversas vezes Ele se retirou e viveu na solidão. E tudo isso aconteceu embora essa Beleza Eterna não convidasse o povo, senão para a cidade de Deus. Assim como foi revelado: "E à tribo de Thamud Nós enviamos seu irmão Sálih. – Ó meu povo! – disse Ele, - Adorai a Deus; não tendes outro Deus além d'Ele... – Responderam – Ó Sálih, nossas esperanças estavam em ti até agora; tu nos proíbe adorar o que nossos pais adoraram? Em verdade, duvidamos daquilo para que nos chamaste e o temos por suspeito.-" (6) Tudo isso se provou ser improfícuo, até que, finalmente, se levantou um grande clamor e todos caíram em perdição completa.
Mais tarde, a beleza do semblante do Amigo de Deus (7) afastou o véu que a encobria; mais um estandarte da iluminação divina se içava. Ele convidou os povos da terra para a luz da retidão. Quanto mais apaixonadamente Ele os exortava, mais violentas se tornavam a inveja e a perversidade de todos, salvo daqueles que tudo se desprenderam, menos de Deus, e que subiram, com as asas da certeza, para o grau que Deus exaltou além da compreensão dos homens. É fato assaz conhecido que uma multidão de inimigos O assediaram até que, finalmente, se acenderam contra Ele os fogos da inveja e da rebelião. E após o episódio do fogo, Ele, a lâmpada de Deus entre os homens – segundo relatam todos os livros e crônicas – foi expulso de Sua cidade.
E ao terminar Seu dia, veio o tempo de Moisés. Armado com a vara do domínio celestial e adornado com a nívea mão do conhecimento divino, procedendo do Paran do amor de Deus e manejando a serpente do poder e da majestade eterna, Ele brilhou do Sinai da luz sobre o mundo. Chamou todos os povos e raças da terra para o reino da eternidade; convidou-os a participar dos frutos da árvore da fidelidade. Sabeis, certamente, da violenta oposição feita pelo Faraó e seu povo, e das pedras da vã fantasia jogadas pelas mãos dos infiéis sobre essa abençoada Árvore. A tal ponto, que o Faraó e seu povo se levantaram, finalmente, e fizeram o máximo esforço para extinguir, com as águas da falsidade e negação, o fogo dessa Árvore sagrada, esquecidos do fato de que nenhuma água terrena pode apagar a chama da sabedoria divina, nem vento mortal extinguir a lâmpada do domínio eterno. Não, outro efeito essa água não terá, senão o de tornar ainda mais intenso o ardor da chama, e esse vento nada fará senão assegurar a preservação da lâmpada – se apenas observásseis com olhos que discernem e andásseis no caminho da santa vontade de Deus e de Seu beneplácito. Como disse bem um dos fiéis, um parente do Faraó – cuja história é narrada pelo Todo-Glorioso em Seu Livro revelado a Seu Amado – quando observou: "E disse um homem da família do Faraó, que era crente mas ocultava sua fé – Quereis matar um homem por dizer que meu Senhor é Deus, quando já veio com sinais de vosso Senhor? Se for um mentiroso, sobre ele cairá sua mentira, mas se for homem da verdade, uma parte daquilo que ele ameaça haverá de cair sobre vós. Em verdade, Deus não guia quem é transgressor, mentiroso.-" (8) Finalmente, tamanha foi a iniqüidade deles, que esse mesmo crente sofreu uma ignominiosa morte. "Que a maldição de Deus esteja sobre o povo da tirania."
E agora ponderai essas coisas. Que teria causado tão grande contenda e conflito? Por que é que o advento de todo verdadeiro Manifestante de Deus tem sido acompanhado de tamanha contenda e tumulto, de tão grande tirania e transtorno? E isso, não obstante o fato de que todos os Profetas de Deus, sempre que se manifestavam aos povos do mundo, prediziam, invariavelmente, a vinda de outro Profeta depois deles e estabeleciam os sinais que haveriam de prenunciar o advento da futura Era. Disso, todos os Livros Sagrados dão testemunho. Por que, então – a despeito da expectativa dos homens em sua busca dos Manifestantes da Santidade e apesar dos sinais registrados nos Livros Sagrados – foram perpetrados, em todos os ciclos e tempos, tais atos de violência, opressão e crueldade contra todos os Profetas e Escolhidos de Deus? Assim mesmo como Ele revelou: "Todas as vezes que vos vem um Apóstolo com aquilo que as vossas almas não desejam, vos inchais de orgulho, acusando alguns de serem impostores e matando a outros." (9)

Refleti: Qual teria sido o motivo de tais atos? Que teria causado tal conduta para com os Reveladores da beleza do Todo-Glorioso? Qualquer coisa que tivesse motivado, em tempos idos, a negação e oposição daqueles povos, concorre agora para a perversidade do povo desta era. Alegar haver sido incompleto o testemunho da Providência, tendo sido isso o que tivesse causado a negação da parte do povo, nada mais é que blasfêmia patente. Quanto estaria longe da graça do Todo-Generoso e pouco em harmonia com Sua providência benévola e Sua terna compaixão, escolher dentre todos os homens uma alma para guiar Suas criaturas e, por um lado, negar-lhe o testemunho divino em sua plenitude e, por outro, infligir severo castigo a Seu povo por se haver afastado de Seu Escolhido! Não, em todos os tempos, as múltiplas graças do Senhor de todos os seres têm abrangido a terra e todos os que nela habitam, através dos Manifestantes de Sua Essência Divina. Nem por um momento sequer, negou Ele a Sua graça; jamais as chuvas de Sua benevolência cessaram de cair sobre a humanidade. Tal conduta, pois, não pode ser atribuída senão à mesquinhez dessas almas que caminham no vale da arrogância e do orgulho, que se perdem na solidão do afastamento, se guiam por sua própria vã fantasia e seguem aquilo que ditam os dirigentes de sua fé. Sua preocupação principal é apenas a oposição; seu desejo único, desprezar a verdade. Para todo aquele que observe com discriminação, é claro e evidente que, se essas pessoas no tempo de cada um dos Manifestantes do Sol da Verdade tivessem santificado os olhos, os ouvidos e os corações de tudo o que haviam visto, ouvido e sentido, não teriam sido privados, certamente, de ver a beleza de Deus, nem se teriam desviado para longe das moradas da glória. Havendo, porém, pesado o testemunho de Deus segundo o padrão de seu próprio conhecimento derivado dos ensinamentos dos expoentes de sua Fé, e tendo verificado que estava em desacordo com a interpretação limitada deles, essas pessoas se levantaram para cometer tais atos indignos.
Os expoentes da religião, em cada era, têm impedido seu povo de atingir as plagas da salvação eterna, por haverem detido firmemente em suas poderosas mãos as rédeas da autoridade. Alguns por cobiça de poder, outros por falta de conhecimento e compreensão, privaram o povo desse bem. Por sua autoridade e sanção, todo Profeta de Deus sorveu do cálice do sacrifício e alçou vôo para as alturas da glória. Que crueldades indizíveis não infligiram essas autoridades e esses eruditos aos verdadeiros Monarcas do mundo, àquelas Jóias da virtude divina! Contentes com um domínio transitório, privaram-se de uma soberania eterna. Assim seus olhos não contemplaram a luz do semblante do Bem-Amado, nem seus ouvidos escutaram as suaves melodias da Ave do Desejo. Por essa razão todos os Livros Sagrados mencionam os sacerdotes de cada época. Assim Ele diz: "Ó povo do Livro! Por que és incrédulo dos sinais de Deus de que tu mesmo foste testemunha?" (10) E

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