OS QUATRO VALES

Nele estão descritas as quatro "estações" da obtenção mística e poderosa em relação a Deus, cada uma correspondendo a um particular aspecto do divino:
* Daqueles que buscam: onde "o Eu é fonte de satisfação e não deve ser evitado.";
* Daqueles que habitam: onde a Razão (mente universal divina) é o Pilar Supremo;
* Daqueles devotos enclausurados: onde "nada pode ocupar esse Trono Real a não ser o semblante do amor.";
* Daqueles dotados de conhecimento místico: onde o semblante do Bem-Amado é o segredo do amadurecimento.

Bahá'u'lláh continua descrevendo o reino no qual o peregrino que se dirige a Deus, seja qual for sua estação, alcançará - o do pleno conhecimento e da Autoridade Absoluta.
O Primeiro Vale

SE OS PEREGRINOS SÃO DAQUELES QUE BUSCAM (TALIBÁN) a Caaba do Ser Almejado (maqsúd), essa condição pertence ao Eu – mas àquele Eu que é "O Eu de Deus que permeia todas as Suas leis."12 13

Nesse plano, o Eu não é rejeitado, mas amado; é fonte de satisfação e não deve ser evitado. Ainda que, no princípio, esse plano seja região de conflito, ao seu fim ele dá acesso ao trono de esplendor. Assim como foi dito: "Ó Amigo; ó Abraão do dia atual! Mata essas quatro aves de rapina do mal"14, para que, após a morte, o enigma da vida possa ser decifrado.

Esse é o plano da alma que é aceita por Deus15. Assim como diz o versículo:

"Entra para junto de Meus servos,
E ingressa em Meu paraíso."16

Esta condição possui muitos sinais, incontáveis provas. Daí ter sido dito: "Nós, seguramente, mostrar-lhes-emos os Nossos sinais no mundo e dentro de si próprios, até que se lhes torne manifesto ser Ele a verdade"17 e que não há outro Deus salvo Ele.

É necessário, pois, que cada um leia o livro de seu próprio Eu 18, e não tratados de gramática. Eis o motivo pelo qual Ele afirmou: "Lê teu livro: não é necessário mais que tu próprio para te condenar neste dia."19

Conta-se uma história a respeito de um sábio místico que partiu em viagem na companhia de um erudito gramático. Chegaram eles à praia do Mar da Grandeza. O sábio, invocando a Deus, prontamente jogou-se às ondas, mas o gramático ficou perdido em seus raciocínios, os quais eram como palavras escritas n'água. O sábio chamou por ele: "Por que não segues adiante?" Ao que o gramático respondeu: "Ó irmão, não ouso avançar mais. É necessário que eu retorne!" Então o sábio bradou: "Esquece o que leste nos livros de Síbavayh e Qawlavayh, de Ibn-i-Hájib e Ibn-i-Málik20, e atravessa as águas!"

A morte do ego é aqui necessária,
Não a tal arte da composição:
Esforça-te, pois, por seres nada
E caminha sobre o mar então.21

Da mesma forma, está escrito: "E não sejais dos que esqueceram a Deus, aos quais Ele, por isso, fez que esquecessem de si mesmos22.Eles são dos iníquos."23 24

O Segundo Vale

CASO OS PEREGRINOS SEJAM DOS QUE HABITAM (SÁKINÁN) o vestíbulo (hujrih) dAquele que ocupa uma augusta posição (Mahmúd)25, essa é a condição da Razão26, que é conhecida como o Profeta e o Pilar Supremo27. Aqui, razão significa a mente universal divina, cuja soberania educa todas as coisas criadas – e não a mente imperfeita28, pois é assim como o sábio Saná'í escreveu:

Como pode o frágil raciocínio
abarcar o Alcorão,
Ou a aranha prender uma fênix
nos fios que são seus?
Queres que a mente não te arme cilada
ou cause ilusão?
Conduze-a à celestial escola
do compassivo Deus.29

Nesse plano, o peregrino depara com agitações mil e inquietudes incalculáveis. Num momento é ele elevado ao céu, no seguinte, atirado às profundezas. Assim como foi dito: "Num instante, ao ápice da glória Tu me elevas; no seguinte, ao mais profundo abismo me atiras." O mistério entesourado no seguinte versículo sagrado de30 A CAVERNA31 está revelado neste plano quando é dito:

"E poderias ter visto o sol, ao nascer, passando à direita de sua caverna, e, quando se punha, deixando-os pelo lado esquerdo, enquanto encontravam-se naquela espaçosa cavidade. Este é um dos sinais de Deus. Guiado, em verdade, é aquele a quem Deus guia; mas, para aquele a quem Ele desorienta, de for

(Bahá'u'lláh, Os Quatro Vales)
Os Quatro Vales
Bahá'u'lláh
1a edição - 2002
Tradução: Luis Henrique Beust

Apresentação

Pequeno, porém de uma grande sabedoria mística, este Escrito de Bahá'u'lláh foi revelado em Bagdá, algum tempo depois de Seu retorno do Curdistão, em 1856. É endereçado ao Xeique 'Abdu'r-Rahmán Tálabání de Kirkúk, líder dos sufís curdistaneses de Qádirí, com os quais Bahá'u'lláh esteve em contato no Sulimanieh.

Nele estão descritas as quatro "estações" da obtenção mística e poderosa em relação a Deus, cada uma correspondendo a um particular aspecto do divino:
* Daqueles que buscam: onde "o Eu é fonte de satisfação e não deve ser evitado.";
* Daqueles que habitam: onde a Razão (mente universal divina) é o Pilar Supremo;
* Daqueles devotos enclausurados: onde "nada pode ocupar esse Trono Real a não ser o semblante do amor.";
* Daqueles dotados de conhecimento místico: onde o semblante do Bem-Amado é o segredo do amadurecimento.

Bahá'u'lláh continua descrevendo o reino no qual o peregrino que se dirige a Deus, seja qual for sua estação, alcançará - o do pleno conhecimento e da Autoridade Absoluta.

Ele finaliza esta magnífica Obra de forma poética e singular – "minhas doces palavras fazem as moscas me incomodar".

Editora Bahá'í do Brasil

Os Quatro Vales

Ele é o Forte, o Bem-Amado!

Ó tu, Luz da verdade, Hisám-i-Dín,
o Generoso,
Jamais teve o mundo
príncipe como Tu
Dadivoso!1
Pergunto-Me por que o laço do amor foi tão abruptamente cortado e o firme convênio da amizade rompido. Acaso alguma vez – Deus o proíba! – teria Minha devoção diminuído, ou Minha profunda afeição minguado, para que dessa maneira Me esquecesses e Me apagasses de teus pensamentos?

Que falta Minha te fez cessar teus favores?
Será por eu ser um servo e tu
de alta Estirpe?2

Ou será que uma única flecha te afastou da batalha?3 Acaso não foste informado de que a constância é um dever para aqueles que seguem o caminho místico, que é ela o verdadeiro guia à Sua Santa Presença? "Quanto aos que dizem 'Nosso Senhor é Deus' e avançam diretamente para Ele, os anjos hão de descer sobre eles..."4

Da mesma forma, diz Ele: "Segue sem hesitação, pois, assim como te foi ordenado."5 Portanto, essa conduta é o dever daqueles que habitam na presença de Deus.


Faço o que me foi mandado
e trago a mensagem,
Quer te traga ela conselhos ou ofensa.6

Apesar de não ter recebido resposta alguma às Minhas cartas e ainda que renovar Minhas manifestações de estima seja contrário ao costume dos sábios, no entanto, este novo amor rompeu com todas as regras e hábitos antigos.

Não nos contes, de Laylí, a história,
Nem do sofrido Majnún a dor –
Teu amor fez que o mundo esquecesse
Que houve antanho qualquer outro amor.
Assim que teu nome veio aos lábios,
Os amantes logo o perceberam.
E os que o ouviram e os que o falaram
Por causa dele, alegres, dançaram.7

E, a respeito de sabedoria divina e de conselho celestial [Rúmí diz]:

Todos os meses, meu bem-amado,
Por três dias fico tresloucado.
O primeiro desses dias já veio,
Por isso me vês de alegrias cheio.8

Ouvimos dizer que viajaste a Tabríz e Tiflis a fim de disseminar conhecimento, ou que algum outro elevado motivo te levou a Sanandaj.9 10

Ó Meu ilustre amigo! São de quatro tipos aqueles que avançam na jornada mística. Descrevê-los-ei de forma breve, para que os graus e as qualidades de cada um se possam tornar claros a ti.11

O Primeiro Vale

SE OS PEREGRINOS SÃO DAQUELES QUE BUSCAM (TALIBÁN) a Caaba do Ser Almejado (maqsúd), essa condição pertence ao Eu – mas àquele Eu que é "O Eu de Deus que permeia todas as Suas leis."12 13

Nesse plano, o Eu não é rejeitado, mas amado; é fonte de satisfação e não deve ser evitado. Ainda que, no princípio, esse plano seja região de conflito, ao seu fim ele dá acesso ao trono de esplendor. Assim como foi dito: "Ó Amigo; ó Abraão do dia atual! Mata essas quatro aves de rapina do mal"14, para que, após a morte, o enigma da vida possa ser decifrado.

Esse é o plano da alma que é aceita por Deus15. Assim como diz o versículo:

"Entra para junto de Meus servos,
E ingressa em Meu paraíso."16

Esta condição possui muitos sinais, incontáveis provas. Daí ter sido dito: "Nós, seguramente, mostrar-lhes-emos os Nossos sinais no mundo e dentro de si próprios, até que se lhes torne manifesto ser Ele a verdade"17 e que não há outro Deus salvo Ele.

É necessário, pois, que cada um leia o livro de seu próprio Eu 18, e não tratados de gramática. Eis o motivo pelo qual Ele afirmou: "Lê teu livro: não é necessário mais que tu próprio para te condenar neste dia."19

Conta-se uma história a respeito de um sábio místico que partiu em viagem na companhia de um erudito gramático. Chegaram eles à praia do Mar da Grandeza. O sábio, invocando a Deus, prontamente jogou-se às ondas, mas o gramático ficou perdido em seus raciocínios, os quais eram como palavras escritas n'água. O sábio chamou por ele: "Por que não segues adiante?" Ao que o gramático respondeu: "Ó irmão, não ouso avançar mais. É necessário que eu retorne!" Então o sábio bradou: "Esquece o que leste nos livros de Síbavayh e Qawlavayh, de Ibn-i-Hájib e Ibn-i-Málik20, e atravessa as águas!"

A morte do ego é aqui necessária,
Não a tal arte da composição:
Esforça-te, pois, por seres nada
E caminha sobre o mar então.21

Da mesma forma, está escrito: "E não sejais dos que esqueceram a Deus, aos quais Ele, por isso, fez que esquecessem de si mesmos22.Eles são dos iníquos."23 24

Ele finaliza esta magnífica Obra de forma poética e singular – "minhas doces palavras fazem as moscas me incomodar".

Editora Bahá'í do Brasil

Os Quatro Vales

Ele é o Forte, o Bem-Amado!

Ó tu, Luz da verdade, Hisám-i-Dín,
o Generoso,
Jamais teve o mundo
príncipe como Tu
Dadivoso!1
Pergunto-Me por que o laço do amor foi tão abruptamente cortado e o firme convênio da amizade rompido. Acaso alguma vez – Deus o proíba! – teria Minha devoção diminuído, ou Minha profunda afeição minguado, para que dessa maneira Me esquecesses e Me apagasses de teus pensamentos?

Que falta Minha te fez cessar teus favores?
Será por eu ser um servo e tu
de alta Estirpe?2

Ou será que uma única flecha te afastou da batalha?3 Acaso não foste informado de que a constância é um dever para aqueles que seguem o caminho místico, que é ela o verdadeiro guia à Sua Santa Presença? "Quanto aos que dizem 'Nosso Senhor é Deus' e avançam diretamente para Ele, os anjos hão de descer sobre eles..."4

Da mesma forma, diz Ele: "Segue sem hesitação, pois, assim como te foi ordenado."5 Portanto, essa conduta é o dever daqueles que habitam na presença de Deus.


Faço o que me foi mandado
e trago a mensagem,
Quer te traga ela conselhos ou ofensa.6

Apesar de não ter recebido resposta alguma às Minhas cartas e ainda que renovar Minhas manifestações de estima seja contrário ao costume dos sábios, no entanto, este novo amor rompeu com todas as regras e hábitos antigos.

Não nos contes, de Laylí, a história,
Nem do sofrido Majnún a dor –
Teu amor fez que o mundo esquecesse
Que houve antanho qualquer outro amor.
Assim que teu nome veio aos lábios,
Os amantes logo o perceberam.
E os que o ouviram e os que o falaram
Por causa dele, alegres, dançaram.7

E, a respeito de sabedoria divina e de conselho celestial [Rúmí diz]:

Todos os meses, meu bem-amado,
Por três dias fico tresloucado.
O primeiro desses dias já veio,
Por isso me vês de alegrias cheio.8

Ouvimos dizer que viajaste a Tabríz e Tiflis a fim de disseminar conhecimento, ou que algum outro elevado motivo te levou a Sanandaj.9 10

Ó Meu ilustre amigo! São de quatro tipos aqueles que avançam na jornada mística. Descrevê-los-ei de forma breve, para que os graus e as qualidades de cada um se possam tornar claros a ti.11

Comentários

Marco Oliveira disse…
Denise,
Finalmente o teu blog nasceu! Que maravilha :-)
Desejo-te muita (e boa!) escrita.
Marco
Anônimo disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse…
Sabedoria é um dom adquirido, nasce e morre com cada seu portador...

Mas nada é tão erudito como a capacidade de enriquecer o nosso próprio ser, e como fazemos tal coisa...

Visite www.afroditi/blogspot

Ad noctum Baco...

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