Resposta a Algumas Perguntas

ESPOSTAS A ALGUMAS
PERGUNTAS

Existe um Deus? Pode Deus conversar com os homens?
As respostas a tantas perguntas que atormentam
a humanidade.

EDITORA
BAHÁ'Í

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS

A 23 de maio de 1844, a primeira mensagem telegráfica no mundo, enviada de Baltimore para Washington, anunciava: "O que Deus realizou". No mesmo dia, na longínqua Pérsia, nascia o meigo, humilde, tranqüilo, dadivoso e sábio 'Abdu'l-Bahá, que, por amor à Verdade e por vivê-la e ensiná-la, foi perseguido. Viveu quarenta anos encarcerado pelos que temiam a Verdade. Mas, a Verdade tem esplendor...
'Abdu'l-Bahá, cristamente, amava os próprios inimigos, pois, indiferente a envelopes sujos e amarrotados, considerava apenas a mensagem amiga do Senhor que cada ser humano contém.

Incentivava o abandono de preconceitos e dogmas e ensinava a corajosa busca da "Verdade que liberta" e unifica.

"O fato de imaginarmos que temos razão e que os outros estão errados, é o maior de todos os obstáculos no caminho da unidade, a qual é imprescindível se desejamos alcançar a Verdade, pois a Verdade é uma só... A luz é boa, seja qual for a lâmpada em que brilhe! Uma rosa é bela, não importa em qual jardim floresça!" – palavras daquele que se chamou "O Servo de Deus".

A um mundo carente de verdade, de união e paz, a cada ser atônito e aflito, nesta hora se apresenta uma luz em lâmpada pura e uma rosa num jardim sem fronteiras – o "RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS".

Hermógenes


RESPOSTAS A ALGUMAS

PERGUNTAS







' A B D U ' L – B A H Á

RESPOSTAS A ALGUMAS

PERGUNTAS

Título Original: Respostas a Algumas Perguntas

APONTAMENTOS COLHIDOS EM PALESTRAS COM
'ABDU'L-BAHÁ EM 'AKKÁ, 1904-1906

Colecionados e traduzidos do persa para o inglês
por
LAURA CLIFFORD BARNEY

?


EDITORA BAHÁ'Í DO BRASIL
Rua Engenheiro Gama Lobo, 267
Rio de Janeiro – Brasil

Título da edição inglesa:

SOME ANSWERED QUESTIONS


Tradução portuguesa de:

Leonora Stirling Armstrong


Edições portuguesas:
Primeira edição (resumida): Rio de Janeiro, 1948 – Comitê de Publicações Bahá'ís.

Segunda edição (completa): Rio de Janeiro, 1959 – Editora Bahá'í (Brasil).

Terceira edição (completa): Rio de Janeiro, 1975 – Distribuidora Record.

Quarta edição (completa): Rio de Janeiro, 1979 – Editora Bahá'í (Brasil)


Direitos exclusivos em língua portuguesa adquiridos pela
EDITORA BAHÁ'Í
Caixa Postal: 198/ 13.800-000 Mogi Mirim/SP – Brasil







'ABDU'L-BAHÁ
O Exemplo Perfeito O Filho de
de Vida Bahá'í Bahá'u'lláh

'ABDU'L-BAHÁ

'Abdu'l-Bahá, filho mais velho do Profeta Fundador da Fé Bahá'í Mundial – Bahá'u'lláh, participou, desde a infância, da perseguição, do exílio e do encarceramento de Seu amado Pai. Uma vida de sofrimento que abateria ou amarguraria a muitos, Nele só serviu para aumentar a devoção à Fé e tornar mais profunda a ternura e a compreensão que Ele dispensava tão liberalmente a todos com que tinha contato. Sua benevolência e meiga persuasão amoleciam os corações até dos inimigos mais acerbos.
Bahá'u'lláh nomeara a 'Abdu'l-Bahá Intérprete de Seus ensinamentos e Exemplar de Sua Fé. Em 1908, aos 68 anos de idade, foi Ele libertado da prisão de Akká por causa da revolta dos Novos Turcos, quando então deu início às Suas viagens ocidentais – a Londres, Paris, Stuttgart, Viena e outras cidades européias, viajando também por todos os Estados Unidos em 1912. Falou em City Temple em Londres e almoçou com o Lorde Mayor. Na América, fez discursos em universidades e igrejas, diante de sociedades pró-paz, organizações científicas e outros grupos. Durante esse tempo, teve inúmeras entrevistas com membros das várias raças e classes. Seu amor a cada alma individual, Suas exposições lógicas e Seu entendimento científico conquistaram-lhe o amor e o respeito de todos.
'Abdu'l-Bahá almoçou na casa do Tesoureiro dos Estados Unidos, foi convidado por Alexander Graham Bell a falar a uma sociedade científica da qual era presidente, palestrou com os pobres na Missão Bowery, apertando a mão de cada um, enquanto lhe oferecia um presente. Sentindo-se à vontade com todos indiferentemente – fosse estadista, cientista ou o mais humilde inquiridor, este Homem que passara a vida em encarceramento e exílio, exerceu um efeito profundo sobre inúmeras vidas. Dele disse David Starr Jordan (então Presidente da Universidade de Stanford) que Ele haveria, seguramente, de unir o Leste e o Oeste, pois seguia "o caminho místico com pés práticos". Tolstoy considerava Seus preceitos "a forma mais elevada e mais pura do ensino religioso".
Ao regressar para Sua residência em Haifa, 'Abdu'l-Bahá cuidou dos múltiplos assuntos da sempre-crescente Fé Bahá'í e manteve uma correspondência volumosa com pessoas de toda parte do mundo. Durante a Primeira Guerra Mundial organizou extensas operações agrícolas perto de Tiberias, as quais evitaram a fome de centenas de pobres pertencentes a todas as fés religiosas. O governo britânico, impressionado por essa obra, por Seu nobre caráter e pelos grandes esforços despendidos por Ele em prol da paz e conciliação, conferiu-lhe o título de Knight, em abril de 1920.
Em volta da mesa hospitaleira de 'Abdu'l-Bahá reuniam-se representantes das várias nações, raças e religiões do mundo. Apreciavam Seu infalível humor bem como Sua profunda compreensão dos mais variados assuntos. Algumas destas "palestras à mesa" foram anotadas por Laura Clifford Barney, de Paris e publicadas como Some Answered Questions.

Para a orientação daqueles que pouco ou nada sabem acerca da Fé Bahá'í,
citamos a seguinte nota traduzida da Enciclopédia Larousse:

Bahá'ismo, religião dos discípulos de Bahá'u'lláh, derivado do Bábísmo. – Mirza Husain 'Ali Nuri Bahá'u'lláh nasceu em Teerã em 1817. A partir de 1844 tornou-se ele um dos primeiros partidários do Báb, e devotou-se à pacífica propagação de sua doutrina na Pérsia. Após a morte do Báb, fora ele exilado, com os principais bábis, para Bagdá, e mais tarde para Constantinopla e Andrinopla, sob a vigilância do governo otomano. Foi nesta última cidade que ele declarou abertamente sua missão. Era Aquele que Deus haveria de manifestar, e que o Báb anunciara em seus escritos, o grande Manifestante de Deus, prometido para os últimos dias. Em cartas endereçadas aos principais chefes de Estado na Europa, convidava-os a reunirem-se a ele para o estabelecimento da religião e paz universais. Desde então os bábis que o reconheceram tornaram-se bahá'ís. O Sultão exilou-o (1868) para 'Akká na Palestina, onde ele redigiu a maior parte de suas obras doutrinárias, e onde morreu em 1892 (29 de maio). Confiara ele a seu filho, 'Abbas Efendi 'Abdu'l-Bahá, a missão de difundir a religião e manter a ligação entre os bahá'ís de todas as partes do mundo. Atualmente, de fato, há bahá'ís em toda parte, não somente nos países maometanos mas, também, em todos os países da Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão, na Índia, etc. Deve-se isto a ter Bahá'u'lláh sabido transformar o babismo em religião universal, a qual se afigura como o cumprimento e o complemente necessário de todas as crenças antigas. Os judeus esperam o Messias, os cristãos a volta de Cristo, os muçulmanos o Mahdi, os budistas o quinto Buda, os zoroastrianos Shah Bahram, os indus a reencarnação de Krishna, e os ateus – uma melhor organização social! Bahá'u'lláh representa tudo isso, e assim destrói as rivalidades e inimizades das diferentes religiões; reconcilia-as em sua pureza primitiva, livrando-as da corrupção dos dogmas e dos ritos. Pois o bahá'ismo não tem clero, nem cerimônias religiosas, nem orações públicas; a crença em Deus e em Seus Manifestantes (Zoroastro, Moisés, Jesus, etc, Bahá'u'lláh) é o seu único dogma. As principais obras de Bahá'u'lláh são: Kitáb-i-Iqán, Kitáb-i-Aqdas, Kitáb-i-Ahd, e numerosas epístolas dirigidas a soberanos ou a particulares. Não existe ritual na religião; deve ela ser manifestada em todos os nossos atos e cumprida no amor ao próximo. Devem todos ter uma ocupação. A educação da criança faz parte da religião e é por ela regulada. Ninguém tem poder de receber a confissão dos pecados nem conceder a absolvição. Os sacerdotes das religiões existentes devem renunciar ao celibato, e devem pregar pelo próprio exemplo, vivendo no meio do povo. A monogamia é universalmente recomendada, etc. As questões de que ele não trata, deixa-as para a lei civil de cada país e para as decisões do Baitu'l-Adl, ou Casas de Justiça, instituídas por Bahá'u'lláh. O respeito ao chefe do estado faz parte do respeito a Deus. Uma língua universal e a criação de tribunais de arbitragem, entre as nações, devem suprimir as guerras. "Sois todos folhas da mesma árvore e gotas do mesmo mar" – assim se expressou Bahá'u'lláh. Em resumo, não é tanto uma nova religião senão Religião renovada e unificada, dirigida hoje por 'Abdu'l-Bahá. – (Nouveau Larousse Illustre, supplement, pág. 66).









ÍNDICE

Pág.
Introdução à Primeira Edição Inglesa .......................................................................... 11
Introdução à Presente Edição ....................................................................................... 13

PARTE I

A INFLUÊNCIA DOS PROFETAS NA EVOLUÇÃO
DA HUMANIDADE

I Toda a Natureza é Governada por uma Lei Universal ......................... 23

II Evidências e Provas da Existência de Deus ......................................... 24

III A Necessidade de um Educador ........................................................... 26

IV Abraão ................................................................................................... 30

V Moisés .................................................................................................... 31

VI Cristo ..................................................................................................... 33

VII Maomé .................................................................................................. 34

VIII O Báb .................................................................................................... 39

IX Bahá'u'lláh ........................................................................................... 41

X Provas Tradicionais Exemplificadas do Livro de Daniel ..................... 48

XI Comentário sobre o Décimo Primeiro Capítulo da Revelação

de São João ............................................................................................ 55

XII Comentário sobre o Décimo Primeiro Capítulo de Isaías ...................... 68

XIII Comentário sobre o Décimo Segundo Capítulo da Revelação

de São João ............................................................................................ 71

XIV Provas Espirituais ................................................................................... 75

XV A Riqueza Verdadeira ............................................................................ 79

PARTE II

ALGUNS TEMAS CRISTÃOS

XVI Figuras Sensíveis e Símbolos Devem ser Usados para

Transmitir Conceitos Intelectuais ........................................................... 85

XVII O Nascimento de Cristo .......................................................................... 87

XVIII A Grandeza de Cristo é Devida às Suas Perfeições ................................ 89

XIX O Batismo de Cristo ................................................................................ 90

XX A Necessidade do Batismo ...................................................................... 92

XXI O Simbolismo do Pão e do Vinho ........................................................... 95

XXII Milagres ................................................................................................... 97

XXIII A Ressurreição de Cristo ......................................................................... 99

XXIV A Descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos .................................... 101

XXV O Espírito Santo ...................................................................................... 102

XXVI A Volta de Cristo e o Dia do Juízo .......................................................... 103

XXVII A Trindade ............................................................................................... 105
XXVIII Explicação do Versículo 5, Capítulo 17 do Evangelho de

S. João: "E agora glorifica-me Tu, ó Pai, junto de Ti Mesmo, com

aquela glória que tinha Contigo antes que o mundo existisse" .............. 107

XXIX Explicação do Versículo 22, Capítulo 15 da Primeira Epístola

de S. Paulo aos Coríntios .......................................................................... 108

XXX Adão e Eva ................................................................................................ 111

XXXI Explicação da Blasfêmia contra o Espírito Santo ..................................... 115

XXXII Explicação do Versículo: "Porque São Muitos os Chamados e

Poucos os Escolhidos" ............................................................................ 116
XXXIII A "Volta" Anunciada pelos Profetas ....................................................... 118
XXXIV A Confissão de Fé de S. Pedro ................................................................ 120
XXXV A Predestinação ....................................................................................... 123

PARTE III

OS PODERES E AS CONDIÇÕES DOS MANIFESTANTES
DE DEUS

XXXVI Os Cinco Aspectos do Espírito ............................................................... 127
XXXVII A Divindade Só Pode Ser Compreendida por Intermédio

dos Manifestantes Divinos ...................................................................... 129
XXXVIII As Três Condições dos Manifestantes Divinos ....................................... 133
XXXIX A Condição Humana e a Condição Espiritual dos

Manifestantes Divinos ............................................................................ 135
XL O Conhecimento dos Manifestantes Divinos ......................................... 137
XLI Os Ciclos Universais .............................................................................. 139
XLII O Poder e a Influência dos Manifestantes Divinos ................................ 140
XLIII As Duas Classes de Profetas ................................................................... 142
XLIV Explicação das Repreensões que Deus Dirige aos Profetas .................... 144

XLV Explicação do Versículo do Kitáb-i-Aqdas: "Não Há Associado

Para o Alvorecer do Mandamento da Suprema Impecabilidade" ......... 147

PARTE IV

A ORIGEM, OS PODERES E AS CONDIÇÕES DO HOMEM

XLVI A Modificação das Espécies ................................................................... 153

XLVII O Universo Não Teve Começo – A Origem do Homem ........................ 155
XLVIII A Diferença que Existe entre o Homem e o Animal .............................. 159

XLIX O Crescimento e Desenvolvimento da Espécie Humana ........................ 164

L Provas Espirituais da Origem do Homem ............................................... 167

LI O Espírito da Mente do Homem Existem Desde o Princípio ................. 169

LII O Aparecimento do Espírito no Corpo ................................................... 170

LIII A Relação entre Deus e a Criatura .......................................................... 172

LIV Da Procedência Divina do Espírito Humano ........................................... 174

LV Alma, Espírito e Mente ............................................................................ 176

LVI Os Poderes Físicos e os Poderes Intelectuais .......................................... 177

LVII As Causas das Diferenças nos Caracteres dos Homens .......................... 178

LVIII O Grau de Conhecimento Possuído pelo Homem e pelos

Manifestantes Divinos ............................................................................ 181

LIX Nosso Conhecimento de Deus ................................................................ 183

LX A Imortalidade do Espírito (I) ................................................................ 185

LXI A Imortalidade do Espírito (II) ............................................................... 188

LXII As Perfeições São Ilimitadas .................................................................. 191

LXIII A Evolução do Homem no Outro Mundo ............................................... 193

LXIV O Estado do Homem e Seu Progresso Após a Morte ............................. 193

LXV Explicação de um Versículo do Kitáb-i-Aqdas ...................................... 196

LXVI (I) A Existência da Alma Racional após a Morte do Corpo .................. 196

(II) A Imortalidade das Crianças ............................................................ 197

LXVII A Vida Eterna e a Entrada no Reino de Deus ........................................ 198
LXVIII O Destino ............................................................................................... 200

LXIX A Influência das Estrelas ....................................................................... 200

LXX Livre Arbítrio ......................................................................................... 202

LXXI Visões e Comunicações Com Espíritos .................................................. 204

LXXII Cura por Meios Espirituais ..................................................................... 206
LXXIII Cura por Meios Materiais ....................................................................... 208

PARTE V

TEMAS VARIADOS

LXXIV A Inexistência do Mal ........................................................................... 213
LXXV As Duas Espécies de Tormento ............................................................. 214
LXXVI A Justiça e a Misericórdia de Deus ....................................................... 215
LXXVII O Método Certo de Tratar os Criminosos .............................................. 216
LXXVIII Greves .................................................................................................... 220
LXXIX A Realidade do Mundo Exterior ............................................................ 224
LXXX A Verdadeira Preexistência ................................................................... 225
LXXXI A Reencarnação .................................................................................... 226
LXXXII O Panteísmo .......................................................................................... 232
LXXXIII Os Quatro Métodos para a Aquisição do Conhecimento ....................... 238
LXXXIV A Necessidade de Serem Seguidos os Ensinamentos dos

Manifestantes Divinos ............................................................................ 240






INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO INGLESA

"Dei-lhe os meus momentos de maior cansaço." Foram as palavras de 'Abdu'l-Bahá, (1) ao levantar-se da mesa, após haver respondido a uma de minhas perguntas.

Tal como foi nesse dia, assim continuou: entre as horas de trabalho sua fadiga encontrava alívio em novas atividades; em algumas ocasiões pôde ele falar extensamente; em outras, se bem que o assunto exigisse mais tempo, era chamado logo após; e às vezes passavam-se dias, e até semanas, sem que ele tivesse oportunidade de me instruir. Meu dever, porém, era ser paciente, pois tinha sempre diante de mim a maior lição – a de sua vida pessoal.

Durante as minhas várias visitas a 'Akká, estas respostas foram escritas em persa, enquanto 'Abdu'l-Bahá falava, não com o propósito de serem publicadas, mas apenas para que eu as tivesse como base de estudos futuros. No começo, tinham que ser adaptadas à tradução verbal do intérprete; mais tarde – depois de haver eu adquirido um conhecimento superficial do persa – ao meu vocabulário limitado. Isso explica a repetição de imagens e frases pois ninguém possui domínio mais extenso de expressões felizes do que 'Abdu'l-Bahá. Nestas lições, não é orador, nem poeta, mas o mestre que se adapta ao discípulo.

Este livro apresenta apenas certos aspectos da Fé Bahá'í, a qual é universal em sua mensagem e tem para cada um a resposta adaptável a seu desenvolvimento e suas necessidades especiais.

Em meu caso, foram simples os ensinamentos, a fim de corresponderem aos meus conhecimentos rudimentares, e não são, portanto, de modo algum completos ou exaustivos, como possa sugerir o Índice, o qual se acrescentou somente a fim de mencionar os assuntos ventilados. Creio, porém, que a muitos outros pode ser útil aquilo que para mim foi de tão grande valor, já que todos os homens, não obstante suas diferenças, estão unidos na mesma ânsia de buscar a realidade. Assim, pedi permissão a 'Abdu'l-Bahá para publicar estas palestras.

Não foram dadas originariamente em ordem especial. Agora, porém, foram ligeiramente classificadas, atendendo à conveniência do leitor. O texto persa foi fielmente seguido, ao ponto de prejudicar muitas vezes o inglês, fazendo-se algumas modificações, apenas quando a tradução literal parecia demasiado intrincada e obscura. As palavras aqui interpoladas – por necessidade a fim de tornar o sentido mais claro – não são apontadas como tais, para evitar a freqüente interrupção do pensamento com sinais técnicos ou explicativos. Também muitos dos nomes persas e árabes foram escritos na forma mais simples, não obedecendo estritamente a um sistema científico que talvez causasse confusão à maioria dos leitores. Só as notas indispensáveis figuram nesta primeira edição, a fim de se satisfazer, sem mais demora, o pedido para sua publicação. (1)

LAURA CLIFFORD BARNEY

Maio de 1907.






INTRODUÇÃO À PRESENTE EDIÇÃO

Este livro dá as respostas de um grande Instrutor às numerosas questões que inquietam profundamente o homem moderno. Primeiramente publicado em Londres, em 1908, Some Answered Questions é tão oportuno hoje como o era naquele tempo; nossa necessidade deste livro tornou-se ainda mais aguda com a passagem dos anos. As muitas questões de que trata encontram-se ainda sem resposta ou mal entendidas na mente das massas da humanidade. Que é o homem? Existe um Deus? Como podemos conhecer a Deus? Pode Deus conversar com os homens? Que dizer dos milagres, do batismo, da Trindade, da predestinação, da imortalidade, do livre arbítrio, da reencarnação, do panteísmo e de curas? Neste livro há, também, explicações de passagens bíblicas e comentários adaptados à nossa idade de amadurecimento.

Destina-se Some Answered Questions àquele que busca com a mente aberta e o espírito independente. As respostas não são ortodoxas. A religião, livre do ritual e da tradição, torna-se racional e viva. Se o sonho de um mundo em paz acompanha a busca da verdade, se o estudioso está disposto a receber uma idéia maior do que qualquer outra já conhecida, uma idéia que o faça viver de um modo significativo para os outros bem como para ele próprio, então a Fé Bahá'í Mundial oferece a resposta.

Tolstoy disse uma vez que passamos a vida tentando desvendar os mistérios do universo, mas um prisioneiro do governo turco, Bahá'u'lláh, possui a chave. A Rainha Marie da Romênia, referindo à Mensagem de Bahá'u'lláh, escreveu: "É a Mensagem de Cristo trazida novamente, nas mesmas palavras quase, mas adaptada à diferença dos mil e tantos anos transcorridos entre o primeiro século e o nosso". Orou Jesus: "Venha a nós o Vosso Reino"; o bahá'í sabe que a realização está próxima. O objetivo bahá'í é um mundo novo – a criação do Reino de Deus em nosso planeta. Nas palavras do Guardião da Fé Bahá'í Mundial: "Encontramo-nos no limiar de uma era cujas convulsões proclamam igualmente a agonia da ordem moribunda e as dores de parto da nova."

Quem não percebe os sintomas de doença na sociedade contemporânea? Na opinião bahá'í, a cura só se efetuará através de um despertar espiritual. Escreveu H. G. Wells, em 1920, estas palavras significativas: "... possivelmente surgirá da agitação e da tragédia destes tempos, e da confusão diante de nós, um renascimento moral e intelectual, um renascimento religioso, de tal simplicidade e de tal âmbito que possa unir homens de raças incôngruas e tradições agora disjuntas, num modo de viver comum e estabelecido, para os serviços mundiais."

A Fé Bahá'í Mundial oferece um renascimento espiritual para toda a humanidade, e acelera o amadurecimento do homem. Para seus adeptos, não é novo o conceito de "um só mundo". Na Comunidade Bahá'í Mundial o Oriente encontra o Ocidente e os dois se unem em compreensão e amor. Os muitos seres divergentes aproximam-se uns dos outros para servir ao mundo, assim como Wells previu. Surge uma humanidade nova, inspirada pelas palavras de Bahá'u'lláh: "Em verdade, é o homem aquele que se dedica hoje ao serviço da humanidade inteira."

O bahá'í almeja estabelecer uma nova civilização. Trabalha em prol da paz entre as nações; ainda mais, esforça-se por promover harmonia entre todas as raças, religiões e classes. O Guardião da Fé dá-nos uma descrição adequada do "padrão para a sociedade futura", o qual inclui um sistema federal mundial, com uma legislatura mundial para formular as leis necessárias; um executivo mundial que tenha o apoio de uma força internacional, a fim de levar a efeito as decisões tomadas por essa legislatura; um tribunal mundial que pronuncie seu veredicto compulsório e final em qualquer disputa surgida entre os vários elementos constituintes desse sistema universal; um idioma mundial a ser ensinado nas escolas de todas as nações federadas como auxiliar às línguas nativas. Segundo seu conceito, os recursos econômicos do mundo seriam de tal modo organizados que nenhum povo se achasse desprovido; conciliar-se-iam a ciência e a religião, e os homens viriam a reconhecer universalmente um só Deus e assim prestar lealdade a uma Revelação comum.

Talvez pareça utópico esse objetivo. Obviamente, os princípios bahá'ís em geral estão adiantados para nossos tempos. Mas o presente consiste sempre nos sonhos e nas realizações do passado, e todo futuro deve ser construído hoje. E quando a um sonho e a energia que se despende a fim de torná-lo uma realidade, se junta o impulso inspirador da religião verdadeira, não há limites para as realizações do homem.

Os bahá'ís consideram a Fé a renovação de toda religião profética. A revelação é progressiva. Cristo expressou este conceito ao dizer: "Ainda tenho muitas coisas que vos dizer mas vós não as podeis suportar agora, porém quando vier aquele Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a verdade". Cristo, como também os outros Instrutores divinos, prometeu a vinda de um Outro que guiaria mais uma vez Seus filhos...

O bahá'í vê todas as grandes religiões proféticas como partes de um plano divino para educar o homem a fim de que ele possa por sua vez levar avante "uma civilização que há sempre de evoluir". Desde Abraão, cada Educador Divino tem trazido uma mensagem na qual se destaca algum princípio necessário, e cada vez se reiteram certos preceitos básicos por serem estes sempre verdadeiros, sempre vitais ao bem-estar do homem. Moisés trouxe uma mensagem de justiça, Buda ensinou a renúncia, Jesus o amor, Maomé a submissão. Hoje o Autor da Fé Bahá'í Mundial traz a mensagem da unidade. Mas através de todas essas mensagens se percebe a Regra de Ouro, segundo a qual todos os homens são irmãos, filhos de um só Deus.

É óbvia a razão porque o Criador tem enviado uma série de Mensageiros. Assim como a criança no jardim de infância não está pronta para enfrentar a álgebra, também os homens no tempo de Jesus estavam longe de poder compreender o conceito de um só mundo. Naquele tempo os meios de comunicação rápida não haviam ligado as nações. À medida que as condições mudam, deve a religião adaptar-se. E quando a religião declina, tem que ser revitalizada. Somente Deus pode efetuar a transformação.
Esta transformação deverá ter início no coração dos homens do mundo inteiro. O ensino religioso só pode ter efeito se se educam os corações. Nosso Criador funciona através dos homens; são eles Seus instrumentos para criar novos padrões de ação, devendo, pois, evoluir. Urge haver homens de coração maduro bem como de mente madura. O bahá'í acredita ser possível transformar-se a natureza humana, podendo-se enobrecê-la quando o homem se sujeita espontânea e consciamente à Vontade Divina.

Deforme era a humanidade à qual Bahá'u'lláh se dirigiu, aleijada de mente e espírito, e Ele proveu a cura. Na receita que ofereceu, a vida pessoal deve imbuir-se de um grande fluxo de amor e compreensão. Quando não podemos amar um indivíduo por suas características pessoais, devemos apreciá-lo por amor a Deus. Todo homem é filho do Criador. Deve ser nosso objetivo ver a face de Deus – falando figuradamente – em toda criatura humana...

Estes ensinamentos podem ser melhor compreendidos à luz de uma breve história da Fé Bahá'í Mundial. Não deve causar admiração o fato de não se haver anunciado em todo o mundo o nascimento da Fé. Jesus não figurou em cabeçalhos no Seu tempo. H. G. Wells observou com acerto que os primórdios do renascimento religioso "nunca são conspícuos". No dia 23 de maio de 1844, um jovem persa de vinte e cinco anos de idade, que viria a ser conhecido como o Báb, anunciou Sua missão: a de preparar o caminho para "Aquele que Deus tornaria manifesto", e de introduzir certas reformas vitais. À medida que o número de Seus adeptos crescia, o clero maometano se alarmava. Após apenas seis anos de ensino, Ele foi martirizado publicamente por ordem desse clero. Já cumprira, porém, Sua missão. Assim como João Batista preparou os corações e as mentes para o advento de Jesus, também o Báb abriu o caminho para a vinda de Bahá'u'lláh ("Glória de Deus").

Nascido numa família de grandes recursos, na Pérsia, em 1817, Bahá'u'lláh deveria ter seguido os passos de Seu pai, que era Ministro de Estado do Xá, porém a isso renunciou. Ainda em criança, mostrava sabedoria e bondade extraordinárias. Mais tarde abraçou os ensinamentos do Báb sem receio das conseqüências, seguindo-se resultados catastróficos: a bastonada, a confiscação de Suas propriedades, longos anos de encarceramento e exílio.

No ano de 1863, pouco antes de Seu degredo de Bagdad à cidade de Constantinopla, Bahá'u'lláh disse aos adeptos que era Aquele cuja vinda não só o Báb mas todos os Profetas haviam predito. Esta estupenda verdade se insuflara Nele num tempo de grande sofrimento físico. Seus adeptos receberam esta declaração com júbilo intenso. Muitas notabilidades, inclusive o governador de Bagdá, vieram prestar homenagens ao Prisioneiro antes de Sua partida. Finalmente, para afastarem Bahá'u'lláh das multidões que se sentiam tão atraídas a Ele e à Sua Mensagem, encarceraram-No na terrível colônia penal de 'Akká na Palestina. Por muito tempo, muros espessos excluíram-No da natureza que Ele tanto amava.

Professor Browne da Universidade de Cambridge, única pessoa do Ocidente a visitar Bahá'u'lláh, conta-nos: "Desnecessário era perguntar em presença de quem eu me achava, enquanto me curvava ante Aquele que é objeto de uma devoção e um amor que os reis bem poderiam invejar e os imperadores suspirar em vão". Proferiu-lhe Bahá'u'lláh palavras de ânimo: "Só desejamos o bem do mundo e a felicidade das nações. Que todas as nações se unam na mesma fé e todos os homens se tornem irmãos; que se fortaleçam os laços de afeto e união entre os filhos dos homens, cesse a divergência de religião e se anulem as diferenças de raça. Que mal há nisso? E assim há de ser: essas lutas infrutíferas, essas guerras ruinosas passarão, e a Maior Paz virá. ... Não se vanglorie o homem de amar à pátria; antes tenha ele glória em amar sua espécie".

Não permitindo que exílio e encarceramento lhe sustassem a pena, Bahá'u'lláh escreveu longas epístolas aos governantes do mundo ocidental, exortando-os ao caminho da paz. Foi autor de muitos livros que abrangem inúmeros assuntos. Segundo seu conceito, a religião é uma atitude para com Deus que se reflete em nossa vida de todo dia. Assim Seus Escritos tratam da ética e moral, de fé em Deus, das relações humanas, da prece e da meditação; interpretam os Ensinamentos religiosos anteriores e as profecias do futuro; discorrem sobre a economia política, a educação e as relações entre as raças... Embora seja estupenda a pretensão de Bahá'u'lláh – a de ser o Prometido de todos os tempos, o Espírito da Verdade predito por Jesus – Sua sublime Mensagem, segundo a expõem esses Escritos, sustenta a pretensão.

Com o falecimento de Bahá'u'lláh em 1892, Seu filho mais velho, 'Abdu'l-Bahá, tornou-se Seu intérprete autorizado da nova Fé. Na conferência sobre as Religiões do Mundo realizada na Feira Mundial de Chicago, em 1893, introduziu-se esta Fé nos Estados Unidos. 'Abdu'l-Bahá visitou a América em 1912, difundindo a Mensagem de Bahá'u'lláh de costa à costa numa tournée histórica. Na última Vontade e Testamento, 'Abdu'l-Bahá nomeia Seu neto, Shoghi Effendi, o primeiro de uma sucessão de guardiões que deverão servir de intérprete dos Sagrados Escritos, para que esta nova Fé não se desintegre por causa de interpretações divergentes.

Vinte mil martírios não lograram sustar a influência dos novos Ensinamentos que vieram então a abranger o globo e são apreciados desde Egedesminde, na Groenlândia até Magallanes do Chile, a cidade mais próxima do Pólo Sul. Bahá'ís já se estabeleceram em mais de 75.000 centros nuns 300 países. Há representantes de dezenas de raças, entre elas sudaneses da África, esquimós no Alasca e maoris na Nova Zelândia; as origens religiosas são muitas; traduziu-se a literatura para 350 idiomas, inclusive doze línguas africanas. Desde as Ilhas de Fiji no Pacífico, do Japão e da Índia até a Alemanha e a Grã-Bretanha, onde quer que os bahá'ís se encontrem, corações e mentes associam-se em harmonia. Representantes da Comunidade Bahá'í Internacional ocupam atualmente lugares como delgados e observadores nas conferências internacionais e regionais das Nações Unidas, convocadas para selecionadas organizações não-governamentais. Erigiu-se em Wilmette, Illinois, uma magnífica Casa de Adoração, inaugurada em maio de 1953. Há palavras de Bahá'u'lláh inscritas sobre suas entradas que encerram pensamentos tão sublimes como estes: "A terra é apenas um país, e os seres humanos seus cidadãos"; "Não sussurres os pecados de outrem enquanto tu próprio fores pecador"; "Teu coração é Meu lar, santifica-o para Minha descida"; "Fiz da morte um mensageiro de júbilo para ti, por que lastimas?" e "A fonte de todo o saber é o conhecimento de Deus, exaltada seja Sua glória".

As atividades bahá'ís coordenam-se harmoniosamente dentro de um sistema administrativo que é tão simples quanto eficaz. Não havendo clero, é dever dos bahá'ís ensinarem a Fé e trabalharem onde quer que haja necessidade. Há Bahá'ís isolados, outros em grupos; servem nos comitês, nas comunidades, com as Assembléias Locais, ou nas Assembléias Nacionais, ou no Conselho Internacional. Não existe facção: tomam decisões após preces e consulta franca, com espírito de amor. Aqueles eleitos aos vários cargos têm as respectivas responsabilidades em virtude de mérito, a ninguém tendo de responder senão a Deus. Deste modo consegue-se unidade em meio a grande diversidade.

Nesta Fé os homens vêem cumprirem-se as profecias, quase em nossos dias; acham a solução para seus problemas, respostas às suas preces, e paz de espírito e de coração. Os aspectos pessoais da Fé satisfazem o indivíduo; seus aspectos sociais haverão de curar uma civilização.

Quem deseja conhecer a Fé Bahá'í deve lembrar-se de que esta Fé não somente é um vibrante apelo para a paz mundial, mas também convoca a todos poderosamente para Deus. A Palavra de Deus exorta o homem neste versículo de Palavras Ocultas: "Volve tua face para a Minha e renuncia a tudo menos a Mim; pois Minha soberania dura e Meu domínio não perece. Se buscares a outro senão a Mim, ainda que procures no universo para todo o sempre, em vão será tua busca".

Respostas a Algumas Perguntas oferece um convite para uma independente pesquisa da verdade. Basta um olhar rápido para o Índice para nos mostrar a seqüência lógica e o vasto âmbito do livro. Parte I trata, logicamente da "influência dos Profetas na evolução da humanidade". Conceitos básicos são considerados à luz da razão. Principiando com um ensaio sobre a lei universal assim como é encontrada na natureza, procede o leitor às provas da existência de Deus, e então lhe é exposta a necessidade de um Educador Divino. Vários desses Educadores, desde Abraão são considerados à luz de Suas realizações. De tais Seres deriva a única verdadeira riqueza do homem.

Como este livro foi escrito primariamente, talvez, para a mente ocidental, Parte II trata de temas cristãos que hoje requerem esclarecimento. No cristianismo moderno a mente racional defronta-se com tropeços. Alguns desses assuntos são esclarecidos, inclusive o simbolismo religioso, o conceito do Espírito Santo e a "volta" ou segunda vinda de Cristo. Parte III apresenta-nos uma explicação racional daquele Ser tão pouco compreendido, o Profeta. Em verdade, é só por Seu intermédio que Deus pode dirigir-se precisamente a grupos inteiros de pessoas ao mesmo tempo. Parte IV, por outro lado considera aspectos do homem comum, também pouco compreendido. Aqui temos ampla oportunidade de descobrir quem é o homem e para onde ele vai. Parte V conclui o livro e trata de "Temas Variados". São persuasivas as respostas dadas, sejam para um problema prático como o da greve ou a teoria do panteísmo.

Este livro fará um apelo ao raciocínio do homem mais do que à sua emoção. Esclarecerá o pensador que tenha tido instrução religiosa, enquanto ao mesmo tempo servirá de estímulo para o agnóstico e o ateu. Seus capítulos acentuam mais a crença pessoal do homem do que sua conduta social. A Fé Bahá'í Mundial, no entanto, invoca tanto a emoção como o raciocínio. É uma religião a um tempo, pessoal e social.

ANNAMARIE K. HONNOLD



PARTE I

A INFLUÊNCIA DOS PROFETAS NA
EVOLUÇÃO DA HUMANIDADE

I

TODA A NTUREZA É GOVERNADA POR UMA
LEI UNIVERSAL

A Natureza é a condição, a realidade, que consiste aparentemente em vida e morte ou, em outras palavras, na composição e decomposição de todas as coisas.
Essa Natureza está sujeita a uma organização absoluta, a leis determinadas, a uma ordem completa, a um plano consumado, dos quais jamais se afastará, e a tal ponto que, se examinarmos a criação atentamente, com vista aguçada, desde o mais microscópio átomo até aos maiores astros do universo, tais como o globo solar ou as outras grandes estrelas e esferas luminosas – seja observando sua posição, sua composição, sua forma ou seu movimento – verificaremos, na realidade, acharem-se todos no mais alto grau de organização, e sujeitos a uma lei, da qual jamais se poderão afastar.
Ao contemplarmos, porém, a própria Natureza, vemos que ela não tem inteligência ou vontade. O fogo, por exemplo, tem como qualidade inerente a de queimar, e queima, pois, sem vontade ou inteligência; a água por natureza flui, assim fazendo sem vontade ou inteligência; é da natureza do sol brilhar, e ele brilha sem vontade ou inteligência; o vapor, segundo exigência de sua natureza, sobe, assim agindo sem vontade ou inteligência. Torna-se evidente, pois, que os movimentos naturais de todas as coisas são involuntários; não há movimento voluntário, exceto nos animais e, sobretudo, no homem. O homem pode desviar-se da Natureza e ir de encontro às suas leis, porque conhece a constituição das coisas, e assim domina as forças da Natureza; todas as suas invenções são devidas à sua descoberta da constituição das coisas, como, por exemplo, o telégrafo, meio de comunicação entre oriente e ocidente. É óbvio, pois, que o homem rege a Natureza.
Ora, vendo essa tão perfeita organização, essa ordem e lei, pode-se dizer que tudo isso seja efeito da Natureza, embora ela não possua nem inteligência nem percepção? Se não é assim, essa Natureza, que carece de percepção e inteligência, está, evidentemente, nas mãos de Deus, o Todo-poderoso, Regente do mundo da Natureza. Tudo que é de Seu desejo, Ele faz a Natureza manifestar.
Uma das coisas que apareceram no mundo da existência e um dos requisitos da Natureza, é a vida humana. Considerado sob esse aspecto, o homem é o ramo, e a Natureza a raiz; será, então, possível que a vontade, a inteligência, e as perfeições que existem no ramo, não existam na raiz?
Está claro, pois, que a Natureza em sua própria essência está nas mãos de Deus, o Eterno, o Onipotente. Ele faz a Natureza conformar-se a leis acuradas: Ele a rege. (1)

II

EVIDÊNCIAS E PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Uma das demonstrações, uma das provas, da existência de Deus, é o fato de o homem não ter dado origem a si mesmo; quem o criou e o modelou não foi ele próprio.

É certo, é indiscutível, que o criador do homem não se assemelha ao homem, pois é impossível uma criatura sem poder criar outra. O criador tem de possuir todas as perfeições, a fim de que possa criar.

Pode a criação ser perfeita, e o criador imperfeito? Pode uma tela ser obra-prima, e o pintor ser imperfeito na sua arte, quando ela é criação sua? Além disso, a tela nunca vem a ser igual ao pintor, pois então se teria criado a si mesma. Por mais perfeita que seja a tela, comparada com o pintor, está no grau máximo da imperfeição.

A contingência é a origem das imperfeições; Deus é a origem das perfeições. As imperfeições do mundo contingente são em si prova das perfeições de Deus. Por exemplo, quando se observa o homem, nota-se que é fraco. Essa fraqueza da criatura é uma prova da força do Todo-poderoso, do Eterno, pois se não houvesse força, não se poderia imaginar fraqueza. Então, a fraqueza da criatura é uma prova do poder de Deus, porque se não houvesse poder, não seria possível haver fraqueza; assim, dessa fraqueza, vê-se que existe poder no mundo. Também, no mundo contingente há pobreza; então, já que se vê pobreza no mundo, necessariamente existe riqueza. No mundo contingente há ignorância; já que existe ignorância, há de existir conhecimento, pois se não houvesse conhecimento, tampouco haveria ignorância. A ignorância é a inexistência do conhecimento, e se não houvesse existência, não haveria inexistência.

É certo que todo o mundo contingente está sujeito a uma lei, a um plano, do qual nunca pode fugir; até o próprio homem é forçado a submeter-se à morte, ao sono, e a outras condições. Significa isto que, sob certos aspectos, o homem é governado; necessariamente, pois, alguém o governa. Desde que um dos característicos dos seres contingentes é a dependência, e essa dependência é uma necessidade inerente, deve haver, pois, um ser que possua uma independência própria, essencial.
É claro, também, que o fato de haver homens doentes prova que há pessoas com saúde; pois se não houvesse saúde, não se distinguiria a doença.

Disso concluímos, portanto, haver um Todo-poderoso, um Ser Eterno, possuidor de todas as perfeições, porque se não as possuísse, seria semelhante à Sua criatura.

Em todo o mundo da existência ocorre o mesmo: a menor coisa criada prova que há um criador. Este pedaço de pão, por exemplo, prova que alguém o fez.

Louvado seja Deus! A mais ligeira mudança efetuada na forma da mínima coisa prova a existência de um criador. Será possível, então, que este grande universo – este universo infinito, se tenha criado a si mesmo, que deva sua existência apenas à ação da matéria, dos elementos? Que erro extraordinário é tal suposição!

Esses argumentos, tão óbvios, destinam-se às almas fracas, mas quando a percepção interior está atenta, cem mil provas claras tornam-se evidentes. Assim, quando o homem sente o espírito dentro de si, não tem necessidade de argumentos para provar essa existência; para os que não possuem a graça espiritual, porém, impõem-se argumentos de ordem externa.

III

A NECESSIDADE DE UM EDUCADOR

Ao examinarmos a existência, verificamos necessitarem os mundos mineral, vegetal, animal e humano de alguém que os cultive.

Se a terra não for cultivada, tornar-se-á uma espécie de floresta, onde crescerá apenas mata inútil; mas se um agricultor a vier lavrar, produzirá colheitas que irão nutrir os seres vivos. É claro, portanto, que o solo precisa ser trabalhado pelo lavrador. Observemos as árvores: sem trato não produzem frutos, sendo assim inúteis; mas quando recebem os cuidados de um agricultor, essas mesmas árvores estéreis tornam-se frutíferas e, graças ao cultivo, à fertilização e enxertia, as que tinham frutos amargos dão frutos doces. Estas provas são racionais e, na época em que vivemos, os povos do mundo necessitam de argumentos racionais.

Algo semelhante ocorre também no que diz respeito aos animais: quando amestrado, o animal torna-se doméstico. Também o homem que não recebe educação é bestial. Mais ainda: se o homem permitir que a natureza o domine, colocar-se-á mais abaixo do animal, enquanto, se for educado, tornar-se-á um anjo. A maioria dos animais não devora os de sua espécie, mas os homens, como sucede entre os negros da África Central, matam-se e comem-se uns aos outros.

Agora reflitamos: a educação sujeita oriente e ocidente à autoridade do homem, produz indústrias maravilhosas e divulga a glória das ciências e das artes; é graças à educação que novas descobertas se realizam e as leis evoluem. Se nenhum educador tivesse existido, não haveria as facilidades de hoje, nem conforto de espécie alguma; a própria civilização, e até mesmo os sentimentos de humanidade seriam desconhecidos. Se o homem for abandonado numa selva onde não veja nenhum semelhante, permanecerá inculto, sem dúvida. A necessidade de um educador é óbvia.

Há três espécies de educação: material, humana e espiritual. A primeira trata do crescimento, do desenvolvimento do corpo por meio da alimentação, do repouso, e de todos os recursos materiais. Esse tipo de educação é comum ao animal e ao homem.

A educação humana significa civilização, progresso; quer dizer, governo, administração, obras de caridade, profissões, artes e ofícios, ciências, descobertas das leis físicas, e grandes invenções – atividades estas que, além de essenciais ao homem, ainda o distinguem do animal.

A educação divina é a do Reino de Deus: consiste na aquisição das perfeições divinas – é a verdadeira educação; pois, graças a ela, o homem torna-se o centro das virtudes divinas, a manifestação das palavras: "Façamos o homem à Nossa imagem e semelhança". Eis o supremo objetivo do mundo humano.

Ora, precisamos de um educador que possa dar ao mesmo tempo a educação material, a humana e a espiritual, e cuja autoridade seja válida em todas as circunstâncias.

Se alguém dissesse: "Possuo perfeita compreensão e inteligência, e não necessito de tal educador", estaria negando tanto o claro e o evidente, como se uma criança dissesse: "Não preciso de educação, agirei de acordo com meu raciocínio e minha inteligência, e assim adquirirei as perfeições da existência"; ou como se um cego dissesse: "Não tenho necessidade de vista, porque muitos outros cegos vivem sem dificuldade".

É, pois, claro, indiscutível, que o homem necessita de um educador, e esse educador deve ser, fora de qualquer dúvida, perfeito em todos os sentidos; deve distinguir-se entre todos os homens. De outro modo não poderá ser seu educador, pois essa educação deve abranger ao mesmo tempo os planos material, humano e espiritual, ensinando a tratar de assuntos materiais, estabelecer um plano social que assegure subsistência na vida, e realizar, enfim, uma organização material adaptável a quaisquer circunstâncias que possam surgir.

O educador terá de tratar da educação humana: treinará a inteligência e os pensamentos a fim de que se desenvolvam da maneira mais completa, os conhecimentos aumentem, as ciências se divulguem, e a realidade das coisas, os mistérios da criação, as propriedades da existência, sejam reveladas. Assim, dia a dia, o nível da instrução se elevará, veremos invenções mais perfeitas, leis melhoradas, e, das coisas perceptíveis aos sentidos, tiraremos conclusões de natureza intelectual.

Também deve ele incutir a educação espiritual, a fim de que inteligência e compreensão penetrem o mundo metafísico, e o homem receba as graças purificadoras do sopro do Espírito Santo, integrando-se na Assembléia Suprema. Ele deve educar a realidade humana, a ponto de torná-la centro das virtudes divinas, para que o nome e os atributos de Deus resplandeçam no espelho dessa realidade, provando assim a verdade do santo versículo: "Faremos o homem à Nossa imagem e semelhança".

Ao poder humano, é claro, falta a capacidade para desempenhar este exaltado papel; a razão por si só seria incapaz de assumir a responsabilidade de missão tão grandiosa. Como pode alguém, sozinho, sem auxílio ou apoio, lançar os alicerces desta nobre construção? Tem de estar ele na dependência do poder espiritual, divino, a fim de empreender essa missão elevada.

Um único Ente Sagrado vivifica o mundo humano, transforma o aspecto do globo terreno, leva a inteligência a progredir, anima as almas, lança os alicerces de uma nova existência, estabelece a base de uma criação maravilhosa, organiza o mundo, reúne as nações e as religiões à sombra da mesma bandeira, liberta o homem dos vícios, das imperfeições, e incute-lhes o desejo e a necessidade das perfeições inatas e adquiridas. Somente um poder divino realizaria obra de tamanha grandeza. Devemos considerar o assunto com justiça, pois requer justiça.

Uma Causa que todos os governos, todos os povos do mundo, apesar de seus grandes recursos e exércitos, não podem promulgar e estabelecer, um único Ente Sagrado promove sem auxílio ou apoio! Seria isso realizável por simples poder humano? Não, em nome de Deus! Cristo por exemplo, inteiramente só, levantou o estandarte da paz espiritual e da retidão, obra esta que todos os governos vitoriosos, com todas as suas hostes, não puderam realizar. Reflitamos sobre o destino de tantos impérios e povos diversos: o Império Romano, a França, a Alemanha, a Rússia, a Inglaterra, etc. Todos reuniram-se sob o mesmo teto; isto é, quando Cristo veio, uniu essas várias nações e a tal ponto – tamanha foi a influência do cristianismo – que algumas pessoas sacrificaram suas vidas e seus bens pelas outras. Depois de Constantino, defensor do cristianismo, sugiram dissensões entre elas.

O ponto a que desejo chegar é: Cristo sustentou uma Causa que todos os reis da terra não puderam estabelecer! Ele uniu as várias religiões e alterou costumes antigos. Consideraremos as grandes divergências existentes entre sírios, egípcios, fenícios, israelitas, e entre romanos, gregos e outros povos da Europa! Cristo, no entanto, removeu estas divergências; mais ainda, tornou-se causa de amor entre estas comunidades. Embora, tempos depois, os impérios destruíssem essa união, a obra de Cristo fora realizada.

O educador universal deve ser, pois, educador não só no sentido material, mas também nos planos humano e espiritual. Ele deve possuir um poder sobrenatural, a fim de desempenhar o papel de educador divino. A não ser que demonstre esse santo poder, não será capaz de educar; pois, se for imperfeito, como poderá dar uma educação perfeita? Se for ignorante, incutirá ele sabedoria nos outros? Se for injusto, de que modo fará justos aos outros? Se for terreno, tornará os outros celestiais?

Ora, devemos refletir com justiça: os divinos Manifestantes (1) que têm aparecido, possuíam, ou não, todos esses atributos? Se não os possuíam, se não demonstraram essas perfeições, não eram educadores verdadeiros.

Nossa tarefa deve ser, pois, a de apresentar, aos que pensam, argumentos racionais, a fim de provarmos que Moisés, Cristo, e os outros Manifestantes Divinos eram verdadeiros Profetas. As evidências e provas que citaremos não devem ser baseadas em argumentos tradicionais, mas sim, em racionais.

Por argumentos racionais já provamos ter o mundo da existência, necessidade absoluta de um educador, sendo sua educação alcançada somente através de um poder divino. Sem dúvida alguma, este santo poder vem pela inspiração, e o mundo há de ser educado por este poder que transcende o meramente humano.

IV

ABRAÃO

Abraão foi um dos que possuíram esse poder e foram por ele amparados. Nasceu no país de entre-rios (Mesopotâmia), de uma família que nenhum conhecimento tinha da Unidade de Deus. Ele se opôs a Seu próprio povo, até mesmo à Sua própria família, com o repúdio a todos os deuses em que acreditavam. Sozinho, e sem apoio, resistiu a uma tribo poderosa – ato nem simples, nem fácil. Era como se alguém em nosso tempo fosse a um povo cristão, um povo devotado à Bíblia, e negasse Cristo; ou, na Corte Papal – Deus me perdoe! – blasfemasse violentamente contra Cristo, em oposição a todos os circunstantes.

Aquele povo não acreditava em um só Deus, mas em muitos deuses, aos quais atribuía milagres. Por isso, levantaram-se todos contra Ele, menos Lot, filho de seu irmão, e duas ou três outras pessoas sem importância. Finalmente, reduzido à completa miséria pela oposição dos inimigos, Abraão teve que sair da terra natal. Na verdade, expulsaram-No para que fosse destruído, esmagado, e Dele não restasse nenhum traço sequer.

Veio, pois, Abraão para o solo da Terra Santa. Os inimigos haviam pensado que Seu exílio seria Sua destruição, Sua ruína, pois lhes parecia impossível um homem ser desterrado, privado de seus direitos, oprimido por todos os lados, e ainda escapar ao extermínio – mesmo sendo rei. Abraão, no entanto, manteve-se inabalável, demonstrando uma firmeza sobrenatural, e Deus fez esse exílio tornar-se causa de Sua honra eterna, pois Ele estabeleceu a Unidade de Deus em meio a uma geração politeísta. Em conseqüência do exílio, os descendentes de Abraão vieram a ser poderosos, e a Terra Santa foi-lhes concedida. Ainda como resultado disso, os ensinamentos de Abraão foram largamente disseminados, surgindo entre os Seus pósteros um Jacob, e um José, que foi regente do Egito. E mais outra conseqüência do exílio: um Moisés, e um entre como Cristo, surgiram de Sua posteridade, bem como, ainda nesta, encontrou-se Hagar, de quem nasceu Ismael, de quem descendeu, por sua vez, Maomé. São igualmente da descendência de Abraão os profetas de Israel, e também o Báb. (1) E assim há de continuar para todo o sempre. Finalmente, como resultado de Seu exílio, a Europa inteira e a maior parte da Ásia vieram abrigar-se à sombra do Deus de Israel.

Vemos que grande poder foi esse, graças ao qual um fugitivo de seu país conseguiu fundar semelhante família, promulgar tais ensinamentos, e estender tão longe a fé divina. Poderá alguém dizer que isso tivesse ocorrido acidentalmente? Devemos ser justos: este homem foi um educador, ou não?

Se o exílio de Abraão, de Ur a Alepo na Síria, produziu tamanho resultado, qual será o efeito do exílio de Bahá'u'lláh, e de Suas inúmeras peregrinações: de Teerã a Bagdá, daí a Constantinopla, à Romélia, e à Terra Santa?

Que educador perfeito foi Abraão!

V

MOISÉS

Moisés, durante muito tempo, vivia no deserto como pastor. Aos olhos do mundo, era um homem criado por uma família tirânica, e tido nas redondezas como assassino. Era detestado pelo governo e pelo povo de Faraó.

Tal foi o homem que libertou dos grilhões do cativeiro uma grande nação, e a tornou feliz, levando-a do Egito para a Terra da Promissão.

Seu povo foi assim elevado da mais profunda degradação às alturas da glória. Fora cativo; tornou-se livre. Era um dos mais ignorantes entre os povos; veio a ser o mais sábio. Graças às instituições estabelecidas por Moisés, este povo alcançou uma posição que o enobreceu entre todas as nações, e sua fama estendeu-se por todas as terras, a tal ponto que, nas nações vizinhas, se alguém queria elogiar um homem, dizia: "Certamente, é israelita". Moisés estabeleceu a lei religiosa e a lei civil; estas deram vida ao povo de Israel, e elevaram-no ao mais alto grau de civilização possível naquele tempo.

Tão grande foi o desenvolvimento atingido por esse povo, que os sábios da Grécia vieram a considerar os homens ilustres de Israel como modelos de perfeição. Sócrates, por exemplo, visitou a Síria, recebeu dos filhos de Israel os ensinamentos relativos à unidade de Deus e à imortalidade da alma e, após seu regresso, disseminou-os em toda a Grécia. Mais tarde, o povo levantou-se contra ele, acusando-o de impiedade; processaram-no no Areópago, e condenaram-no à morte por veneno.

Ora, como pôde um homem gago, criado na casa de Faraó, com fama de assassino – durante muito tempo se ocultando por medo, mais tarde pastor – sustentar uma Causa tão grande, quando os maiores filósofos do mundo não atingiram a milésima parte dessa influência? Eis, na verdade, um prodígio!

Um homem que gaguejava, mal podendo falar corretamente, conseguiu sustentar esta grande Causa! Sem o apoio do poder divino, nunca teria realizado obra tão elevada. É um fato inegável. Os cientistas, os filósofos gregos, os grandes homens de Roma, tornaram-se célebres no mundo inteiro por se terem especializado, cada um deles, num único ramo de conhecimento: assim, Galeno e Hipócrates na medicina, Aristóteles na lógica, e Platão na ética. Como pôde um pastor adquirir todos esses conhecimentos? Deve ter tido, sem dúvida alguma, o amparo de um poder supremo. Consideremos também quantas provações e dificuldades vem a sofrer uma pessoa. A fim de impedir um ato cruel, Moisés viu-se obrigado a atacar um egípcio, e tornou-se então conhecido como assassino, mais notavelmente porque o homem morto pertencia à nação dominante. Fugiu, e só mais tarde foi elevado ao grau de Profeta!

Apesar da má fama, quão admiravelmente um poder sobrenatural o guiou a estabelecer Suas grandes leis e instituições!

VI

CRISTO

Depois veio Cristo, afirmando: "Nasci do Espírito Santo". Embora hoje os cristãos aceitem facilmente esta asserção, naquele tempo isso era muito difícil. Segundo o texto do Evangelho, os fariseus diziam: "Não é este o filho de José de Nazaré, nosso conhecido? Como pode dizer, então: – Desci do céu?"

Numa palavra, este homem tão humilde, aos olhos de todos, ergueu-se com tamanho poder que destronou uma religião datando de mil e quinhentos anos, e quando a mais leve divergência em relação a ela expunha o transgressor a perigos, ou mesmo à morte. Além disso, no tempo de Cristo, a moral do mundo inteiro se tornara confusa e se corrompera, e Israel havia descido aos mais baixo nível de degradação, miséria e cativeiro. Em determinada época foram os israelitas escravizados pelos caldeus e persas; em outra, pelos assírios; depois, tornaram-se súditos e vassalos dos gregos; finalmente, no tempo de Cristo, os romanos exerciam domínio sobre eles e os tratavam com desprezo.

Este jovem, Cristo, através de um poder sobrenatural, anulou a antiga Lei Mosaica e estabeleceu um mais alto nível geral de moralidade; assim, mais uma vez, foram lançados os alicerces da glória eterna dos israelitas. Ele, além disso, trouxe à humanidade a boa nova da paz universal, e difundiu ensinamentos que não eram só para Israel mas também se destinavam a promover o bem-estar de todos os homens.

Quem primeiro tentou aniquilá-lo foram os israelitas e os próprios parentes, e, a julgar pelas aparências, venceram-No, submeteram-No a extremas angústias, colocando-Lhe finalmente na cabeça uma coroa de espinhos, e crucificando-O. Cristo, porém, enquanto parecia estar na mais profunda miséria e aflição, proclamava: "Este Sol resplandecerá, esta Luz brilhará, minha graça há de abalar o mundo, e meus inimigos serão humilhados." Tal como Ele disse, aconteceu: todos os reis da terra não Lhe puderam resistir, todos os seus estandartes foram derrubados, enquanto a bandeira deste Oprimido se ergue até o zênite.

Isto escapa a todas as normas da razão humana. É claro, pois, é óbvio, ter sido este Ser Glorioso um verdadeiro educador da humanidade, assistido e confirmado por um poder divino.

VII

MAOMÉ

Passemos agora a Maomé. Na América e na Europa tem circulado muitas histórias a respeito do Profeta, tidas por autênticas, embora seus narradores fossem, ou pessoas de nenhum conhecimento, ou inimigos. Muitos eram sacerdotes, e outros muçulmanos sem instrução, que repetiam histórias infundadas acerca de Maomé, com as quais eles, por ignorância, supunham louvá-Lo.

Assim, alguns muçulmanos atrasados fizeram de Sua poligamia objeto de louvores, considerando-a uma maravilha, uma coisa excelente; e os historiadores europeus, em sua maior parte, confiaram no testemunho dessas pessoas ignorantes. Disse uma, por exemplo, a um clérigo, ser a verdadeira prova da grandeza a bravura, o derramamento de sangue, e que, num só dia no campo de batalha, um adepto de Maomé havia degolado cem homens! Disso o clérigo inferiu que pelo assassinato o crente deveria provar a Maomé sua fé Nele – o que é pura imaginação. As expedições militares de Maomé, pelo contrário, foram sempre defensivas. Uma prova disso é que Ele e os discípulos suportaram em Meca, durante treze anos, as mais violentas perseguições. Durante todo esse tempo tornavam-se alvo das setas do ódio: alguns foram mortos, sendo confiscados os seus bens; outros fugiram para países estrangeiros. O próprio Maomé, após as mais severas perseguições movidas pelos goreishitas, que haviam finalmente resolvido matá-Lo, fugiu para Medina altas horas da noite. Mesmo assim, os inimigos não O deixaram em paz; perseguiram-No até Medina, e os discípulos até a Abissínia.

Essas tribos árabes viviam no mais baixo nível de barbarismo, de selvageria; comparados a eles, os selvagens da África e índios da América eram tão adiantados como Platão. Estes não enterram vivas as filhas, como faziam os árabes, vangloriando-se disso como se fora coisa louvável. (1) Muitos homens ameaçavam as esposas, dizendo: "Se deres à luz uma filha, matar-te-ei". Ainda hoje os árabes desprezam as filhas. Além disso, naquele tempo era permitido a um homem esposar mil mulheres, e a maioria tinha mais de dez no lar. Quando essas tribos faziam guerra, a tribo vitoriosa levava consigo as mulheres e crianças inimigas e as escravizava.

Quando morria um homem que tinha dez mulheres, os filhos destas apoderavam-se uns das mães dos outros; se um deles atirava o manto sobre a cabeça de uma esposa do pai, exclamando: "Esta mulher é, por lei, propriedade minha", a infeliz era desde então o que desejasse: matá-la, encarcerá-la num poço, bater-lhe, amaldiçoá-la e torturá-la até que a morte a livrasse, pois de acordo com os hábitos e costumes dos árabes era seu amo.

Claro que é que existiam no lar, entre esposas e filhos, malignidade, ciúmes, ódios e inimizade; não precisamos estender-no sobre o assunto. Podemos bem imaginar a situação, a vida dessas mulheres oprimidas! Além disso, essas tribos árabes viviam de pilhagem e roubo, e estavam constantemente guerreando; matavam-se uns aos outros, saqueavam os bens uns dos outros e capturavam mulheres e crianças, as quais vendiam aos estrangeiros. Quantas vezes não aconteciam aos filhos e filhas de um amir – que trocavam os dias por noites de vaidade e requintada luxúria – verem suas noites seguidas por manhãs de extrema vergonha, de pobreza e de cativeiro. Ontem eram amires, hoje cativos; ontem grandes senhoras, hoje escravas.

Entre essas tribos foi Maomé criado, e após suportar durante treze anos suas perseguições, fugiu. (1) Não cessaram, porém, de oprimi-Lo; reuniram-se para exterminar a Ele e a todos Seus adeptos. Em tais circunstâncias Maomé viu-se forçado a recorrer às armas. Esta é a verdade; pessoalmente, não temos preconceitos, não desejamos defendê-Lo, mas somos justos e dizemos o que é justo. Vede isto com justiça. Tivesse o próprio Cristo se encontrado em circunstâncias iguais, no meio de tribos tão tirânicas e bárbaras – se Ele e os discípulos houvessem suportado todas essas provações, pacientemente, durante treze anos, tendo por fim fugido de Sua terra natal, e se, apesar disso, essas tribos selvagens continuassem a persegui-Lo, a matar o homens, a saquear suas propriedades, e a fazer cativas suas mulheres e crianças – qual teria sido a atitude de Cristo? Se tal opressão se houvesse limitado a Sua pessoa, Ele as teria perdoado, e Seu ato teria sido muito louvável; mas se tivesse visto aqueles assassinos cruéis, sedentos de sangue, querendo matar, saquear e danificar a todos esses oprimidos, e capturar as mulheres e crianças, certamente Ele os teria protegido, teria resistido aos tiranos. Que objeção, pois, pode-se fazer aos atos de Maomé? Pode-se censurá-Lo e a Seus adeptos, com esposas e filhos, por não se terem querido submeter àquelas tribos selvagens? O maior benefício a prestar àquelas tribos era livrá-las de sua sede de sangue; era um verdadeiro favor coagi-las e contê-las, mesmo à força. Assemelhavam-se a um homem que segura na mão um copo de veneno, quando, no momento exato de bebê-lo, um amigo lhe quebra o copo, assim o salvando. Tivesse Cristo se achado em circunstâncias iguais, teria, certamente, com um poder triunfante, livrado os homens, mulheres e crianças das garras daqueles lobos sanguinários.

Jamais Maomé se mostrou inimigo dos cristãos, mas sim, tratava-os bondosamente e concedia-lhes inteira liberdade. Em Najran viva uma comunidade cristã sob Seus cuidados e proteção. Maomé disse: "Se alguém lhes infligir os direitos, Eu mesmo serei seu inimigo e na presença de Deus o acusarei". Nos éditos por Ele promulgados, disse claramente que as vidas, as propriedades, e as leis dos cristãos e dos judeus estavam sob a proteção de Deus, e também, se um maometano casasse com uma cristã, não a deveria impedir de freqüentar a igreja, nem a obrigar a usar o véu, e, se ela morresse, devia entregar os restos mortais ao cuidado do clero cristão. Disse ser dever do Islã auxiliar aos cristãos se estes desejassem construir uma igreja. Em caso de guerra entre o Islã e seus inimigos, os cristãos deveriam ser isentos da obrigação de combater, a não ser que desejassem tomar parte, por sua espontânea vontade, visto estarem sob a proteção dos maometanos; mas em compensação, por essa imunidade, deveriam pagar anualmente uma pequena quantia. Há sede éditos pormenorizados que tratam desses assuntos, dos quais ainda existem algumas cópias, em Jerusalém. Isso é um fato estabelecido, independente de minha afirmação. O decreto do segundo califado (1) existe ainda, sob a custódia do Patriarca ortodoxo de Jerusalém: disso não há dúvida. (2)
Após certo tempo, no entanto, em conseqüência das transgressões de ambos, maometanos e cristãos, surgiram entre eles ódios e inimizades. Fora disto, todas as narrações de muçulmanos, cristãos ou outros, não passam de simples invenções, que se originaram no fanatismo, na ignorância, ou na inimizade. Dizem os muçulmanos, por exemplo, que Maomé rachou a lua, fazendo-a cair sobre a montanha de Meca; pensam ser a lua um corpo pequeno que Maomé dividiu em duas partes jogando uma sobre essa montanha e a outra sobre outra. Tais histórias são pura obra de fanatismo. Também as tradições citadas pelo clero e os incidentes que censuram, são todos exagerados, quando não inteiramente sem base.

Em resumo, Maomé apareceu no deserto de Hijaz, na Península Árabe, numa região desolada, estéril, arenosa e desabitada. Algumas partes, como Meca e Medina, são quentes, em excesso; o povo é nômade, com os costumes e modos dos habitantes do deserto, inteiramente destituído de educação e de conhecimento científicos. O próprio Maomé era analfabeto, e o Alcorão foi escrito originariamente sobre omoplatas de carneiro, ou sobre folhas de palmeira. Esses pormenores indicam a condição do povo ao qual Maomé fora enviado. A primeira pergunta que Ele lhes fez foi: "Por que não aceitaram o Pentateuco e o Evangelho, nem acreditam em Cristo, e em Moisés?" Isso apresentou-lhes dificuldades , e argüiram: "Os nossos antepassados não acreditavam no Pentateuco, nem no Evangelho; diga-nos: por que sucedeu isso?" E ele replicou: "Eles estavam errados; vós deveis rejeitar os que não acreditam no Pentateuco e no Evangelho, ainda que sejam vossos pais ou vossos antepassados".

Num país como esse, entre tribos tão bárbaras, um homem analfabeto criou um livro em que expôs, num estilo eloqüente, sublime, as qualidades e perfeições divinas, esclarecendo o dom de profeta concedido aos Mensageiros de Deus, e revelando as leis divinas e alguns fatos científicos.

Sabemos que, antes das observações dos tempos modernos, isto é, durante os primeiros séculos e até ao século XV da era cristã, todos os matemáticos do mundo concordaram em dizer que a terra era o centro do universo, e que o sol se movia. O famoso astrônomo (1) propugnador da nova teoria descobriu o movimento da terra e a fixidez do sol. Todos os astrônomos e filósofos anteriores haviam seguido o sistema ptolemaico, considerando ignorante quem não o aceitasse. Se bem que Pitágoras, e Platão – durante a última parte da vida – adotassem a teoria de que o movimento anual do sol em seu percurso do zodíaco procedia do movimento da terra em volta do sol, em vez de ser do próprio sol, essa teoria havia sido inteiramente esquecida, sendo o ptolemaico o sistema aceito por todos os matemáticos. Há, no entanto, alguns versículos revelados no Alcorão contrários à teoria do sistema ptolemaico, como: "O sol move-se num lugar fixo", (2) o que mostra a fixidez do sol e seu movimento em redor de um eixo, e em outro versículo: "E cada estrela move-se em seu próprio céu". (1) Assim é explicado o movimento do sol, da lua, da terra e dos outros astros. Quando apareceu o Alcorão, todos os matemáticos ridicularizavam essas afirmações, atribuindo à ignorância tal teoria. Até mesmo os doutores do Islã, verificando serem esses versículos contrários ao sistema ptolemaico, universalmente aceito, sentiram-se constrangidos a dar-lhes outra interpretação.

Foi somente depois do século XV da era cristã, quase novecentos anos após Maomé, que um astrônomo famoso fez novas observações por meio do telescópio por ele inventado, dos quais resultaram descobertas importantes, como a rotação da terra, a fixidez do sol, e também seu movimento em volta de um eixo. Viu-se, assim, que os versículos do Alcorão estavam em harmonia com os fatos existentes e o sistema ptolemaico era imaginário.

Enfim, muitos povos orientais foram educados durante treze séculos à sombra da religião de Maomé. Na Idade Média, quando a Europa descera ao mais baixo nível de barbarismo, os povos árabes eram superiores às outras nações da terra em conhecimentos – nas artes e ciências, na matemática, e em seu sistema de governo; a sua civilização era a mais adiantada. Quem educou, quem iluminou essas tribos árabes, fundando entre raças tão divergentes uma civilização que refletisse as perfeições humanas, foi um homem analfabeto – Maomé. Esse homem ilustre foi, ou não, um educador perfeito?

Impõe-se um julgamento imparcial.

VIII

O BÁB

Quanto ao Báb (2) – possa eu oferecer-Lhe, em holocausto, minha alma – quando era ainda muito jovem, isto é, no vigésimo quinto ano de Sua vida abençoada, levantou-se para proclamar Sua causa. Entre os xiitas, universalmente, se admite não haver Ele estudado em nenhum colégio nem adquirido conhecimentos de instrutor algum. Deste fato todos os habitantes de Shíráz dão testemunho. De Súbito, porém, apareceu Ele do povo, e demonstrando a mais completa erudição. Embora apenas um mercador, confundia todos os ulemás (1) da Pérsia. Inteiramente só, de um modo que ultrapassa a imaginação sustentava a Causa em oposição aos persas, célebres por seu fanatismo religioso. Esse espírito ilustre levantou-se com tal poder, que fez tremerem os esteios da religião, da moral, dos hábitos, costumes e condições predominantes na Pérsia, e instituiu novas normas e leis, e uma nova fé. Não obstante se haverem erguido grandes personagens do Estado, inclusive a maioria do clero e dos altos funcionários, a fim de destruí-Lo, aniquilá-Lo, Ele, sozinho, resistiu a todos e abalou a Pérsia inteira.

Entre os ulemás e os homens públicos, no entanto, como entre outros grupos, havia também muitos que sacrificaram a vida alegremente pela Sua Causa, correndo em direção ao martírio.

O governo, porém, e os teólogos, as altas personalidades e o povo em geral, desejaram extinguir Sua luz, mas não o puderam. Brilhou, afinal, como uma estrela; ergueu-se tal qual uma lua; estabeleceram-se firmemente os Seus alicerces, e Sua alvorada raiou. A uma multidão submersa nas trevas, Ele deu a educação divina, produzindo maravilhosos efeitos no pensamento, na moral, nos costumes e condições dos persas.

Aos que O seguiam, anunciou a boa nova – a manifestação do Sol de Bahá – e preparou-os para que Nele acreditassem.

O aparecimento de tão admiráveis sinais e grandes resultados, a influência evidenciada no espírito do povo e nas idéias correntes, o grande impulso ao progresso, e a organização dos princípios do sucesso e da prosperidade – tudo isso por um jovem mercador – constituem a maior prova de ter sido Ele um educador perfeito. Uma pessoa justa jamais hesitará em acreditar nisso.

IX

BAHÁ'U'LLÁH

Bahá'u'lláh (1) apareceu num tempo em que o Império Persa estava imerso em profundo obscurantismo e ignorância, mergulhado no mais cego fanatismo. Já deveis ter lido, nas histórias européias, descrições minuciosas dos costumes, idéias e moral dos persas nos últimos séculos. Desnecessário é repeti-las. Diremos, simplesmente, que a Pérsia descera ao ponto de causar lástima aos visitantes estrangeiros, ao verem este país tão glorioso antigamente, cujo nível de civilização fora tão elevado, achar-se agora em plena decadência, ruína e caos, vindo seu povo até a perder o sentido de dignidade.

Foi quando Bahá'u'lláh se manifestou. Seu pai era um vizir, e não um dos ulemás. Como todo o povo da Pérsia sabe, Ele nunca estudara em colégio algum, nem se associara aos ulemás ou homens de erudição. A primeira parte de Sua vida foi passada na maior felicidade. Seus companheiros eram persas da mais alta posição, embora não fossem sábios.

Apenas Bahá'u'lláh soube da manifestação de Báb, afirmou: "Este grande homem é o Senhor dos retos; crer Nele é dever de todos". E levantou-se em apoio ao Báb, dando inúmeras provas e evidências positivas de Sua verdade, apesar de haverem os ulemás da religião oficial constrangido o governo da Pérsia a mover-Lhe oposição e, mais ainda, terem decretado, para aqueles que O seguiam, matança, pilhagem, perseguição e expulsão. Em todas as províncias, começaram a matar, incendiar, roubar os adeptos, e assaltar até as mulheres e crianças. Não obstante tudo isso, Bahá'u'lláh ergue-se e proclamou a palavra do Báb fervorosamente e com indomável firmeza. Nem por um momento se escondeu; não, andava abertamente no meio de Seus inimigos. Ocupava-se em dar provas e evidências, e era reconhecido como arauto da palavra de Deus. Sob várias condições e circunstâncias suportou infortúnios extremos, e a cada momento corria o risco de ser martirizado. Foi posto numa prisão subterrânea, em correntes, sendo confiscada Sua herança e saqueadas Suas vastas propriedades. Quatro vezes exilado de um lugar para outro, só encontrou descanso, afinal, na "Maior Prisão". (1)

A despeito de tudo isto, nem por um momento sequer, deixou Bahá'u'lláh de proclamar a grandeza da Causa de Deus. Tais foram Seus ensinamentos, Suas virtudes, Suas perfeições, que Ele se tornou objeto da admiração de todo o povo da Pérsia. Em Teerã, Bagdá, Constantinopla, Romélia, e até em 'Akká, todos os sábios e homens de ciência, quer amigos, quer inimigos, quando admitidos à Sua presença, recebiam sempre, para qualquer pergunta que Lhe tivessem feito, a resposta mais completa e persuasiva, vindo assim a confessar, freqüentemente, ser Ele único, incomparável, em todas as perfeições.

Acontecia muitas vezes reunirem-se em Bagdá certos ulemás, rabinos e cristãos, com alguns sábios europeus. Nesses abençoados momentos, cada um tinha alguma pergunta a propor, e todos, embora seus graus de cultura fossem muito diversos, recebiam respostas adequadas e convincentes, podendo então retirar-se satisfeitos. Até mesmo os ulemás persas de Karbilá e Najaf escolheram um sábio, de nome Mulla Hasan Amu, e Lhe mandaram em missão. Esse emissário foi admitido à Santa Presença e apresentou as várias perguntas dos ulemás, às quais Bahá'u'lláh respondeu. Então, Hasan Amu disse: "Os ulemás reconhecem, sem hesitação, e confessam a sabedoria e a virtude de Bahá'u'lláh, e estão convencidos unanimemente que em toda a erudição ele é único, sem igual; é evidente também que nunca estudou, portanto não adquiriu essa erudição; mas, ainda os ulemás dizem: "Não estamos contentes com isso; não admitimos a realidade de sua missão em virtude de sua sabedoria e integridade. Pedimos-lhe, pois, que nos faça um milagre, a fim de satisfazer e tranqüilizar os nossos corações".

Bahá'u'lláh respondeu: "Embora não tenhais direito de pedir isso, pois só a Deus compete provar Suas criaturas, e não estas a Deus, admito, no entanto, e aceito esse pedido. A Causa de Deus, porém, não é exibição teatral, apresentada de hora em hora, da qual se possa esperar todos os dias um divertimento novo; se assim fosse, tornar-se-ia mero brinquedo de crianças. Os ulemás devem, pois, reunir-se e de comum acordo escolher um milagre, e escrever que, após a sua realização, não mais terão dúvidas a Meu respeito, mas admitirão e confessarão a verdade de Minha Causa. Selem o documento e tragam-no. Este deve ser o critério aceito: realizado o milagre, não lhes restará dúvida; em caso contrário, nós seremos acusados de impostura". O sábio, Hasan Amu, levantou-se e respondeu: "Nada mais há a dizer", beijou então o joelho do Abençoado, embora não fosse crente, e partiu. Reuniu os ulemás e transmitiu-lhes a sagrada mensagem. Depois de se consultarem, disseram: "Esse homem é mágico; talvez faça mágica e assim nada mais teremos a dizer", e agindo de acordo com isto, não ousaram levar avante a questão. (1)

Hasan Amu falou dessa ocorrência em muitas reuniões. Depois de deixar Karbala, foi a Kirmanshah e Teerã, e em toda parte contou os pormenores, frisando sempre o medo e a retirada dos ulemás.

Numa palavra, todos os adversários de Bahá'u'lláh no Oriente admitiam Sua grandeza, sublimidade, sabedoria e virtude, e, não obstante serem Seus inimigos, sempre se referiam a Ele como "o famoso Bahá'u'lláh".

No tempo em que esta grande Luz se ergueu de súbito no horizonte da Pérsia, o povo, os ministros, ulemás e membros das outras classes levantaram-se contra Ele, perseguindo-O com a maior animosidade e proclamando que esse homem queria eliminar e destruir a religião, a lei, a nação e o império. Dizia-se o mesmo de Cristo. Bahá'u'lláh, entretanto, só, sem apoio, resistiu a todos, jamais mostrando a mínima fraqueza. Finalmente disseram: "Enquanto esse homem permanecer na Pérsia, não haverá paz nem tranqüilidade; devemos exilá-lo, a fim de que a Pérsia possa voltar a um estado de sossego."

Empregaram, pois violência para com Ele, a fim de obrigá-lo a pedir permissão para sair da Pérsia, pensando que assim se extinguiria a luz de Sua verdade; mas o resultado foi justamente o contrário. A Causa tornou-se mais gloriosa; mais intensamente ardia sua chama. Difundira-se, de início, pela Pérsia, somente, mas com o exílio de Bahá'u'lláh, atingiu outros países. Mais tarde, Seus inimigos disseram: "Iraque Arabi (1) não é bastante longe da Pérsia; temos que mandá-lo para um reino mais distante." Assim o governo persa resolveu mandar Bahá'u'lláh do Iraque para Constantinopla; mas, novamente, se verificou que a Causa nem por isso se enfraquecia. Ainda outra vez os persas disseram: "Constantinopla é um lugar de passagem, de morada temporária para várias raças e povos, entre os quais muitos persas", e exilaram-No, pois, para mais longe, para a Romélia. Ali se intensificou, porém, o ardor de Sua chama; a Causa era enaltecida cada vez mais. Disseram os persas afinal: "Nenhum desses lugares está seguro contra sua influência; devemos exilá-lo para algum lugar em que esteja completamente destituído de poder, e sua família e seus adeptos tenham que se submeter às mais penosas aflições". Escolheram, portanto, a prisão de 'Akká, reservada especialmente para assassinos, ladrões e salteadores de estrada – e foi, em verdade, entre tais criminosos que O classificaram.

O poder de Deus, entretanto, manifestou-se: Sua palavra foi divulgada, e a grandeza de Bahá'u'lláh tornou-se evidente, pois foi sob tais circunstâncias, enquanto nessa prisão, que Ele fez a Pérsia progredir em conhecimentos. Venceu todos os inimigos, provou-lhes que não podiam resistir à Causa. Seus santos ensinamentos penetraram todas as regiões; firmou-se a Sua Causa.

Em toda a Pérsia, surgiram contra Ele os inimigos cheios de ódio. Sujeitavam os adeptos ao açoite, à prisão, até à morte; incendiavam e arrasavam milhares de moradas. Por todos os meios queriam exterminar a Causa, esmagá-la completamente. Apesar de tudo isso, se bem que fosse promulgada de uma prisão de assassinos, salteadores e ladrões, esta Causa era enaltecida. Seus ensinamentos foram largamente disseminados: Suas exortações atingiram até mesmo muitos daqueles mais cheios de ódio, transformando-os em crentes fervorosos. O próprio governo da Pérsia despertou, e arrependeu-se do que sucedera por culpa dos ulemás.

Com a vinda de Bahá'u'lláh a essa prisão na Terra Santa, os sábios perceberam que a boa nova dada por Deus pela boca dos Profetas, dois ou três mil anos antes, havia novamente se manifestado; Deus fora fiel à sua promessa, pois a alguns dos Profetas revelara a boa nova de que "O Senhor dos Exércitos se manifestaria na Terra Santa". Todas estas promessas se cumpriram e, não fossem as perseguições infligidas pelos inimigos – não fosse Sua expulsão – difícil seria ver como Bahá'u'lláh poderia ter deixado a Pérsia e levantado Sua tenda na Terra Santa. Seus inimigos visaram com esse encarceramento a destruição total da sagrada Causa, mas foi, na realidade, o maior benefício; tornou-se meio de seu desenvolvimento. O renome da sublimidade de Bahá'u'lláh estendeu-se pelo Oriente e pelo Ocidente; os raios do Sol da Verdade iluminaram o mundo inteiro. Louvado seja Deus! Embora prisioneiro, ergueu tenda no Monte Carmelo e movia-se livremente com a maior majestade. Cada um que vinha à Sua presença, fosse amigo, fosse estranho, dizia: "Este é um príncipe e não um cativo".

Logo após a chegada a esse cárcere, dirigira Bahá'u'lláh uma epístola a Napoleão, (1) enviando-a por intermédio do embaixador francês. Seu conteúdo foi, em resumo: "Pergunta qual o nosso crime, e por que estamos encarcerados nesta prisão, nesta masmorra". Napoleão não respondeu. Foi-lhe enviada outra epístola, a qual se encontra no Suratu'l-Haikal, (2) e na qual advertiu: "Ó Napoleão, por não haveres escutado a minha proclamação, nem a ela respondido, perderás em breve teu domínio e sofrerás destruição total." Essa epístola foi enviada a Napoleão pelo correio, graças ao cuidado de Cesar Ketafagoo (1) – fato este conhecido por todos Seus companheiros de exílio. O texto desta advertência espalhou-se por toda a Pérsia, porque nesse tempo divulgou na Pérsia o Kitábu'l-Haikal, no qual estava incluído. Isso aconteceu em 1869. Como fizessem o Suratu'l-Haikal circular na Pérsia e na Índia, e assim chegar às mãos de todos os crentes, estes aguardavam com ansiedade os futuros acontecimentos. Logo depois, em 1870, rebentou a guerra entre a Alemanha e a França, e embora ninguém esperasse naquele tempo a vitória da Alemanha, Napoleão conheceu, afinal, a derrota e a desonra, teve que render-se aos inimigos, e sua glória se transformou, realmente, em profunda humilhação.

Foram enviadas epístolas a outros reis, entre os quais Sua Majestade, Nasiru'd-Din Xá. Nesta epístola Bahá'u'lláh disse: "Mandai-me chamar, reuni os ulemás, e pedi provas e argumentos, a fim de se saber o que é verdadeiro e o que é falso". Sua Majestade Nasiru'd-Din Xá enviou a sagrada epístola aos ulemás, propondo-lhes que empreendessem a missão, mas não o ousaram fazer. Pediu então a sete dos mais célebres entre eles que escrevessem uma resposta ao desafio. Após algum tempo, devolveram a sagrada epístola, dizendo: "Esse homem opõe-se à religião e é inimigo do Xá". Sua Majestade, o Xá da Pérsia, muito aborrecido, disse: "Esta questão exige provas e argumentos para demonstrar sua verdade ou sua falsidade; que tem isso com inimizade ao governo? Ai! quanto respeitávamos esses ulemás, mas nem podem responder a esta epístola!"

Em resumo, tudo o que estava escrito nas epístolas aos reis está se cumprindo. Se conferirmos os acontecimentos desde o ano 1870, verificaremos terem quase todos se realizados de acordo com as profecias; restam apenas poucas, as quais mais tarde hão de se cumprir.

Assim, povos estrangeiros também, e várias seitas que não acreditaram em Bahá'u'lláh, atribuíram-Lhe muitas coisas maravilhosas, dizendo alguns que era santo. Outros escreveram acerca Dele, entre os quais Sayyd Dawoudi, sábio sunita de Bagdá, que compôs um pequeno tratado no qual relata alguns atos sobrenaturais. Há pessoas ainda, em toda parte do Oriente, que O consideram santo e têm fé em Seus milagres, embora não O aceitam como Manifestante Divino.

Tantos inimigos como adeptos, e todos aqueles admitidos à Sua presença, reconheciam e atestavam a grandeza de Bahá'u'lláh embora Nele não acreditassem, e logo que entravam neste santo lugar, tal era o efeito de Sua presença, que quase todos se sentiam sem o poder de pronunciar uma palavra. Quantas vezes acontecia um de seus acérrimos inimigos dizer de si para si: "Direi tais e tais coisas ao chegar à sua presença, disputarei e argüirei do seguinte modo", mas quando ali entrava, ficava atônito e confuso, até mesmo mudo.

Bahá'u'lláh, nunca estudara o árabe; não tivera instrutor ou professor, nem freqüentara escola; no entanto, a eloqüência, o estilo elevado, de Suas dissertações na língua árabe, como também Suas obras escritas no mesmo idioma, causaram admiração, até espanto, aos sábios árabes de mais renome, e todos reconheceram e declararam ser Ele incomparável e sem igual.

Se examinarmos cuidadosamente o texto da Bíblia, veremos que o Manifestante Divino jamais disse aos que O negavam: "Seja qual for o milagre que desejardes, estarei pronto para realizá-lo, e submeter-me-ei a qualquer prova que propuserdes." Na epístola ao Xá, porém, Bahá'u'lláh disse claramente: "Reuni os ulemás e mandai-me chamar, para que as provas e evidências possam ser estabelecidas." (1)

Com a firmeza de uma montanha, Bahá'u'lláh enfrentou os inimigos durante cinqüenta anos. Todos desejavam destruí-Lo; mil vezes planejaram crucificá-Lo. Durante cinqüenta anos esteve Ele em constante perigo.

Tal é o grau de decadência e ruína da Pérsia hoje, que todas as pessoas inteligentes, sejam persas, ou estrangeiras, compreendendo a verdadeira situação do país, reconhecem que o progresso, a cultura e a reforma dependem da adoção dos ensinamentos desta grande personagem, e do desenvolvimento de Suas teorias.

Cristo, em Seu tempo abençoado, educou realmente apenas onze homens, dos quais o maior era Pedro, se bem que este, ao ser interrogado, O negasse três vezes. Não obstante isso, a Causa de Cristo penetrou, em seguida, o mundo inteiro. Em nosso tempo, Bahá'u'lláh educou milhares de almas, as quais, sob a ameaça da espada, erguiam aos céus o grito de "Yá Bahá'u'l-Abhá" (1) e no fogo das provações suas faces reluziam como ouro. Reflitamos, pois, no que há de suceder no futuro.

Enfim, devemos ser justos e reconhecer o grande educador que foi esse Ente Glorioso; devemos verificar os maravilhosos sinais por Ele manifestados, e admitir que, em todo o mundo, Dele emanaram forças e poder inegáveis.

X

PROVAS TRADICIONAIS EXEMPLIFICADAS
DO LIVRO DE DANIEL

Hoje, à mesa, falemos um pouco a respeito de provas. Se tivésseis vindo a este lugar abençoado nos dias da manifestação da Luz evidente, se tivésseis atingido a corte de Sua Presença e visto Sua beleza luminosa, teríeis compreendido que Seus ensinamentos e Sua perfeição não necessitavam de outra evidência.

Somente pela honra de entrarem em Sua Presença, muitas almas se tornaram crentes confirmados; outras provas eram desnecessárias. Até aqueles que O rejeitaram e Lhe tinham ódio amargo, ao encontrarem-se com Ele, deram testemunho da grandeza de Bahá'u'lláh, dizendo: "É um homem magnífico, mas, que pena ele ter tal pretensão! Se não fosse isso, tudo o que ele diz seria aceitável."

Mas agora que aquela Luz da Realidade se extinguiu, todos necessitam de provas, e incumbe-nos, pois, apresentar provas lógicas de Sua pretensão. Citaremos uma que será suficiente para todos aqueles que são justos, e que ninguém pode contestar. É que esse ilustre Ser ergueu Sua causa na "Maior Prisão"; desta Prisão foi difundida Sua luz; Sua fama conquistou o mundo; e a proclamação de Sua glória atingiu Leste e Oeste. Até os nossos tempos, jamais ocorreu tal coisa. Se houver justiça, isso será admitido. Há pessoas, porém, que não julgarão com justiça, ainda que lhes forem apresentadas todas as provas do mundo! Assim a religião e o Estado da Pérsia, com todo o seu poder, não lograram resistir a Ele. Em verdade, Ele, inteiramente só, encarcerado e oprimido, conseguia tudo o que desejava.

Não quero mencionar os milagres de Bahá'u'lláh, pois se poderia dizer, talvez, que sejam tradições, sujeitas tanto ao erro como à verdade, semelhantes aos milagres de Cristo relatados no Evangelho, os quais nos vêm dos apóstolos e não de qualquer outra pessoa, e que contudo são negados pelos judeus. Se, entretanto, eu desejasse mencionar os atos sobrenaturais de Bahá'u'lláh, poderia dizer que são numerosos e admitidos no Oriente, até mesmo por pessoas estranhas à Causa. Mas estas narrativas não constituem provas e evidências decisivas para todos; quem as ouvir, poderá dizer talvez que não estejam de acordo com a realidade, pois se sabe que várias seitas relatam milagres realizados por seus fundadores. Os brâmanes, por exemplo, relatam milagres: qual a evidência de serem estes falsos e aqueles verdadeiros? Se aqueles são fábulas, os outros também o são; se aqueles são geralmente aceitos, os outros também são geralmente aceitos. Por conseguinte, tais narrativas não são provas satisfatórias. Sim, milagres são provas para a testemunha ocular somente, e até esta pode-os considerar encantamento e não milagres. Também de alguns mágicos têm sido relatados feitos extraordinários.

Numa palavra, quero dizer que muitas coisas maravilhosas foram feitas por Bahá'u'lláh, mas nós não as relatamos, porque não constituem provas e evidências para todos os povos da terra. Nem para aqueles que os vêem são provas decisivas, pis até por eles podem elas ser atribuídas ao encantamento.

Também a maioria dos milagres dos Profetas que se menciona tem um sentido interior. Encontra-se escrito no Evangelho, por exemplo, que na ocasião do martírio de Cristo, trevas predominavam, e a terra tremia, e o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, e os mortos saíram das sepulturas. Se tais coisas tivessem acontecido, teriam sido de fato maravilhosas, e certamente a história da época as teria registrado. Teriam perturbado muitos os corações. Os soldados teriam tirado Cristo da cruz ou então fugido. História alguma relata esses acontecimentos, o que torna evidente, pois, que não devem ser tomados em seu sentido literal, mas sim, interior.

Não é nosso propósito negar tais milagres; queremos dizer apenas que não constituem provas decisivas, mas que têm um sentido interior.

Hoje à mesa, então, nós nos referiremos à explicação das provas tradicionais contidas nos Livros Sagrados. Até agora, temo falado somente de provas lógicas.

Comentários

Anônimo disse…
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